Secretário diz que polícia foi técnica em ação: 'Criminosos não correram'
Tatiana Campbell
Colaboração para o UOL, no Rio
07/05/2021 16h55
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski, disse hoje que a operação realizada ontem no Jacarezinho, zona norte da cidade, e que resultou na morte de 25 pessoas, dentre elas a de um policial, foi "técnica e madura". Ante denúncias de mortes arbitrárias pela polícia, Turnowski disse que criminosos "atiravam pra matar" e que eles "não correram".
Para o secretário, "quem conhece operação sabe que o criminoso quando a gente [polícia] entra na comunidade, atira pra fugir. Ontem, eles atiravam pra matar. Eles tinham ordem pra ficar, pra confrontar, eles não correram".
Turnowski acrescentou ainda: "Ele [criminoso] amanhã pode invadir a sua casa na zona sul, na zona norte, na zona oeste. E a última barreira, eram vocês ontem e vocês fizeram a missão de vocês".
Ao todo 25 pessoas morreram na operação e, de acordo com a polícia, todos eram traficantes e a maioria possuía anotações criminais. Até agora, a Polícia Civil não divulgou contudo a identidade dos mortos na operação.
"A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes, 19 com folhas corridas até agora. Não foi fácil, mas o fato é que a gente está no caminho certo. Não foi em vão André [se referindo ao policial morto]".
Ela ocorreu após o STF (Supremo Tribunal Federal) restringir operações durante a pandemia e a menos de uma semana da posse definitiva do governador Cláudio Castro (PSC) depois do impeachment de Wilson Witzel.
"Estamos profundamente perturbados pelas mortes de 25 pessoas numa operação policial", disse Ruppert Colville, porta-voz da ONU, numa coletiva de imprensa em Genebra que ocorreu hoje.
Segundo ele, tal caso confirma a tendência de uso excessivo de força por parte dos agentes policiais, cita "problemas sistêmicos" e diz que algo "claramente está errado". Para o porta-voz, o modelo de policiamento de favelas precisa ser repensado pelo país e um debate deve ser aberto.
Moradores protestam
Um grupo de manifestantes realizou um protesto na manhã de hoje nos acessos à comunidade do Jacarezinho. O grupo ocupou também o acesso à Cidade da Polícia, que fica na mesma região da comunidade. Uma faixa da Avenida Dom Hélder Câmara foi bloqueada.
Manifestantes carregaram um pano preto com a seguinte mensagem: "Justiça para Jacarezinho. Fim do massacre nas favelas". Outra mensagem dizia: "Não vamos esquecer". Um desenho de 24 cruzes acompanhava o texto. "Parem de nos matar", afirmava outra mensagem.
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