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Professora descobre em aula virtual que aluno vivia em casa destelhada

Casa destelhada em Sarandi (PR); professora descobriu onde um estudante morava quando ele saiu da aula online para colocar lona sobre o teto e evitar que chovesse dentro da residência - Divulgação
Casa destelhada em Sarandi (PR); professora descobriu onde um estudante morava quando ele saiu da aula online para colocar lona sobre o teto e evitar que chovesse dentro da residência Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

25/05/2021 04h00Atualizada em 25/05/2021 21h35

A professora de história Elaine Bogo, 52, descobriu por acaso as condições precárias de moradia de um aluno em Sarandi (PR), a 419 km de Curitiba. No meio de uma aula virtual, no último dia 13, o estudante Lucas Rodrigues Monteiro, 12, pediu para se ausentar por 15 minutos. Como um temporal se aproximava, ele teve que ajudar a mãe a colocar lona sobre a casa, que não possuía telhado.

"Eu perguntei: 'como assim não tem telhado?'. E ele disse: 'depois eu te explico professora'. Ele saiu da aula e não conseguiu voltar", conta Elaine ao UOL.

A professora decidiu conhecer a família pessoalmente. Encontrou uma casa ainda em construção e sem energia elétrica. Para acompanhar as aulas, o estudante recarrega o celular na residência de um vizinho. Além disso, o aparelho é o único meio de comunicação da família. Apesar de simples, o telefone permite que o aluno mantenha contato com a professora pelo chat da sala de aula virtual.

Eu não sabia que era tão grave, não sabia da realidade dele. Foi uma matrícula tardia. A família veio de Mato Grosso e, por conta da pandemia, a gente faz as aulas pelo Google Meet. No primeiro dia que ele participou e já avisou que não conseguia ligar câmera nem o microfone"
Elaine Bogo, professora de Sarandi (PR)

O menino explicou ao UOL que o aparelho acaba descarregando durante as aulas, fazendo com que perca parte da explicação.

O celular já é antigo, e não fica com a carga por muito tempo. Tem dias que termina às 16h ou às 17h, próximo do final da aula"
Lucas Rodrigues Monteiro, estudante

12 dias ao relento

A família se mudou de Cláudia (MT) para o Paraná a pedido dos avós do menino, com os quais foram morar enquanto erguiam uma casa em um pedaço de terra cedido pelos idosos.

Após um desentendimento entre eles, os pais saíram do local e decidiram ir para a casa ainda em obras.

"Nós ficamos 12 dias no relento. Só tinha lona para cobrir as nossas roupas. Eu não desejo o que eu passei a ninguém, foi muito difícil", conta a mãe de Lucas, Licélia Rodrigues, 51 anos.

"O dinheiro que eles trouxeram deu para erguer as paredes. Na semana depois da aula do dia 13, um vizinho conseguiu telhas, mas todas furadas. E ficou um vão no final da parede da casa por onde entra água", conta a professora.

A mãe explica que no dia do aviso de Lucas para a professora, a chuva não chegou a atingir os pertences. Mas a família não teve a mesma sorte em 15 de maio, quando a água atingiu os colchões do menino e de sua irmã, Luna, de nove anos.

Os irmãos de Lucas, de 18 e 19 anos, trabalham cortando cana de açúcar. Junto com a aposentadoria do pai, é daí que vem a renda da família.

Com as chuvas recentes que têm caído em Sarandi, até o quarto do menino tem sido molhado. Comovida com a situação, a professora decidiu arrecadar dinheiro para ajudar a família. Inicialmente, decidiu fazer uma mobilização entre fiéis da igreja que frequenta. Com isso, arrecadou R$ 1.000.

Também publicou o caso nas redes sociais, na noite de sábado (22), e disponibilizou uma conta bancária. A história viralizou e, de um dia para outro, a professora arrecadou mais R$ 2.700. "A maior parte foram contribuições de R$ 5 a R$ 10."

Com o dinheiro, Elaine conseguiu comprar um poste e caixa de luz — no valor de R$ 1.600. Também foram adquiridos 2.000 tijolos, areia e cimento para ajudar a finalizar a obra — o que consumiu todo o dinheiro arrecadado. Além disso, a professora conseguiu três meses de remédios para o pai de Lucas, que tem hanseníase. A família recebeu ainda três cestas básicas e material escolar.

Passado mais de duas semanas, Licélia se surpreende com a onda de solidariedade.

Quando eu vi o telhado, eu senti uma sensação muito boa. Hoje até chegou silicone para tapar os buracos no telhado. Eu me senti muito bem com toda essa ajuda, as pessoas chegam para doar e a gente não sabe nem o que fazer para agradecer
Licélia Rodrigues