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'Gari do amor' que salvou bebê ganha fama distribuindo comida na pandemia

Alex Sandro Barros Gonçalves da Silva, 37 anos e Karine Silva Gamas, de 22 - Arquivo pessoal
Alex Sandro Barros Gonçalves da Silva, 37 anos e Karine Silva Gamas, de 22 Imagem: Arquivo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

02/06/2021 13h08Atualizada em 02/06/2021 15h18

Um gari que mora e atua na cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo, vem realizando uma ação assistencial que começa a ganhar visibilidade: a distribuição de alimentos, coletados nas feiras livres em que trabalha, a famílias em necessidade.

Conhecido nas redes sociais como o "gari do amor", Alex Sandro Barros Gonçalves da Silva, 37 anos, está conseguindo, com a ajuda da mulher, Karine Silva Gamas, 22, minimizar as dificuldades de algumas famílias na obtenção de alimentos em meio à pandemia.

O trabalho teve início há seis meses, quando Alex Sandro, que integra uma equipe de limpeza de feiras livres do município, notou a quantidade de alimentos que eram descartados pelos feirantes ao final de cada dia.

Comecei a perceber que os feirantes jogavam fora alimentos em condições de consumo, não existe uma iniciativa entre eles de recolher as frutas e verduras que não foram vendidas para ajudar as pessoas. Então comecei eu mesmo a recolher e levar para casa. Foi aí que a minha mulher teve a ideia de fazermos isso para ajudar outras pessoas também."

Karine, que busca trabalho como diarista, conta que, no momento em que notou que o casal e a filha Laura Lavínia, de 3 anos, não seriam capazes de consumir todos os alimentos que Alex Sandro trazia da feira, teve a ideia de distribuir entre as vizinhas.

frutas - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
O 'gari do amor' coleta frutas e verduras em feiras
Imagem: Reprodução/Instagram

"Começamos pela vizinhança. Depois resolvi fazer um post nas redes, oferecendo os alimentos a quem precisa. De repente, começamos a receber mensagens de pessoas de diversos bairros da cidade, contando suas histórias e falando para a gente do seu desespero em conseguir comida. Isso corta o coração. Eu já passei fome e sei como é", afirma.

Assim que Alex Sandro traz os alimentos para casa, Karine coloca tudo na pia, higieniza e acondiciona em sacolas para a distribuição. Depois, cada um carrega em sua bicicleta as sacolas e pedala até as casas das pessoas para realizar a entrega.

"Não conseguimos atender pessoas que moram muito longe, porque só temos as bicicletas como meio de transporte. Entregamos até onde dá", explica o gari.

"E não é só gente que mora em bairro pobre que precisa de ajuda, viu?", acrescenta Karine. "Ontem mesmo fomos até o Canto do Forte, bairro nobre, para atender um casal de idosos. Eles não tinham dinheiro nem para comprar arroz".

Quem ajuda agora precisa de ajuda

Alex Sandro contou ao UOL que trabalhava como operador de produção em uma multinacional, quando a empresa divulgou um plano de cortes. Ele estava incluído na lista de demissão.

Como tinha cursos para atuar como porteiro e segurança, foi realizando bicos nessas áreas, até que surgiu a oportunidade de trabalhar como gari para uma terceirizada que presta serviços a outra terceirizada, na área da limpeza pública, que trabalha para prefeitura.

O salário, de R$ 1.200,00, mal dá para pagar as contas básicas e comprar comida. Só de aluguel o casal paga R$ 500,00 por mês por uma casinha no bairro Jardim Glória, região periférica do município. Água e luz, juntas, somam mais R$ 300,00.

Em abril, Karine teve de ser internada por conta de uma infecção dentária e acabou contraindo covid-19 no hospital. Alex Sandro também se infectou. Os dias afastados acabaram se refletindo no contracheque: R$ 200,00 a menos em maio.

Doação - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Registro de uma das doações do casal
Imagem: Reprodução/Instagram

Desde que a pandemia teve início, as diárias de Karine também minguaram e ela já não pode ajudar a saldar as dívidas. Como consequência, o casal já deve um mês de aluguel e as contas básicas estão atrasadas.

Apesar de ter sido homenageado em abril pela prefeitura e pela câmara de vereadores da cidade, após ter salvo a vida de um bebê engasgado na rua, fato que se tornou público, Alex Sandro diz que não recebe nenhuma ajuda financeira ou donativos por parte do Poder Público e tampouco de empresários locais. Entretanto, ele tem recebido apoio por pessoas que o procuram por e-mail.

"Fazemos tudo sozinhos. E justamente agora, que estamos enfrentando esse perrengue da falta de dinheiro, o contrato com a terceirizada vai acabar. Acaba dia 18", explica.

"Mesmo assim, com todas essas dificuldades não paramos de ajudar as pessoas um dia sequer. Devolver um sorriso ao rosto de quem está sofrendo é gratificante. É um tipo de recompensa que dinheiro nenhum no mundo pode pagar."