Mulher acusa militar de retirar cartaz de protesto de carro ao se vacinar
Enquanto aguardava para se vacinar na manhã de hoje contra a covid-19 no Memorial da América Latina, em São Paulo, a jornalista Roberta Rodrigues, 39, afirma ter sido abordada por um militar identificado como "S2 Ribeiro" que retirou um cartaz com mensagens contrárias ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) de seu carro alegando cumprir uma "ordem do Comando do Exército".
Ao UOL, Rodrigues contou que levantou cedo e se dirigiu ao megaposto de vacinação da capital, na zona oeste, levando consigo um cartaz com o número de mortos no país pela pandemia e os dizeres: "Essas mortes poderiam ter sido evitadas. Não foram e só tem um culpado: Jair Bolsonaro".
Antes de entrar no Memorial, ela relata que um segurança do local a abordou questionando a mensagem do cartaz, ao que ela rebateu e seguiu para a tenda de vacinação.
"Eu parei para entrar na cabine para ser vacinada e ouvi dois membros do Exército conversando. Ouvi um deles dizendo: 'Ela está falando do Bolsonaro'. Eu ignorei e fiquei olhando para a frente. De repente, um deles parou na janela do meu carro e disse: 'Você não pode ficar com esse cartaz, vou ter que tirar'. Eu questionei o porquê e ele disse: 'Porque você está falando do Bolsonaro'", relatou.
A jornalista ainda disse ter perguntado de quem era a ordem para censurar o cartaz, ao que o soldado teria respondido que "do Comando do Exército". Ela publicou a história no Twitter acusando as Forças Armadas de censura.
"Ali, eu poderia ter feito um escândalo? Sim. Mas a gente ta vivendo dias tão sombrios que eu tive medo. Medo de sair presa. Fiquei quieta", disse Roberta Rodrigues
"Precisamos estar atentos. Hoje, foi porque eu tinha um cartaz. Amanhã, pode ser outra coisa. Eu não sei para onde caminhamos", concluiu.
O UOL procurou o ministério da Defesa e o Exército Brasileiro para dar satisfações sobre o caso. A reportagem será atualizada caso um posicionamento seja enviado.
Segundo o professor de Gestão Pública da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo) e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, não cabe às Forças Armadas fazer censura de opinião.
"É preciso verificar que é fato. Se isso aconteceu é extremamente grave. Significa que os militares do Brasil já estão realizando uma gestão de opinião. Quando um militar fardado decide cercear a opinião de uma pessoa em um ambiente democrático é uma antessala de um golpe", disse.
Os militares das Forças Armadas brasileiras são proibidos, desde 2002, por lei, de se manifestar sobre questões políticas e partidárias. A transgressão pode acarretar punição administrativa.
Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal de Saúde não respondeu até o fechamento desta reportagens sobre se há protocolos para manifestações silenciosas durante a vacinação na capital. Se enviado um posicionamento, ele será publicado.
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