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Cão que esperava tutora na porta de antiga casa viaja 4 mil km para revê-la

Mailon, que aguardava na casa onde morava, foi reencontrar Maria da Paz no Ceará - Arquivo Pessoal
Mailon, que aguardava na casa onde morava, foi reencontrar Maria da Paz no Ceará Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

25/07/2021 14h54

Um cão chamado Mailon, que passou mais de 30 dias aguardando a antiga dona em frente à casa onde ela morava em Praia Grande, no litoral de São Paulo, viajou cerca de 4.200 quilômetros até a cidadezinha de Ibiapina, no sertão do Ceará. Com isso, conseguiu concretizar o objetivo de se reunir com ela.

Maria da Paz Oliveira da Silva, de anos 39, morava com o marido e dois irmãos numa casa alugada no bairro Jardim Esmeralda e teve de abandonar a residência às pressas depois que a família ficou desempregada por conta da pandemia. Mailon foi entregue aos cuidados de parentes que ainda moram na cidade, até que a família de Maria pudesse buscá-lo.

Mas o cão sempre fugia da casa nova e corria para a frente da antiga casa, onde ficava de guarda, esperando pela dona.

Numa das vezes em que os tutores provisórios foram buscá-lo, o animal se mostrou agressivo. Não deixava mais que se aproximassem para levá-lo de volta. Com medo, os parentes de Maria decidiram deixá-lo no local. E ali, na porta da casa da antiga dona, Mailon permaneceu por mais de 30 dias, recebendo ajuda da nova inquilina e de vizinhos que se comoviam com o comportamento do animal.

Imagens do animal viralizaram em posts nas redes sociais e chamaram a atenção das amigas Helen Baum, de 49 anos, e Miriam Reis, de 43, protetoras independentes de animais que atuam de forma voluntária no litoral de São Paulo.

helena - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Helena foi uma das pessoas que receberam o cão e ajudaram no reencontro
Imagem: Arquivo Pessoal

Operadora de telemarketing, Helen Baum contou hoje ao UOL que Maria da Paz foi localizada logo após Mailon ser resgatado por elas. "Ele se recusava a permanecer na casa dos parentes que concordaram em ficar com ele para ajudar Maria. Por isso eles desistiram. Quando soubemos que havia pessoas maltratando ele, atirando pedras, tentando agredi-lo com pedaços de pau, corremos para arrumar um abrigo provisório.

No abrigo, porém, Mailon começou a ficar depressivo. Ele tinha que ficar confinado num espaço pequeno e não podia fazer passeios. Foi quando Miriam, que trabalha como confeiteira, decidiu levá-lo para casa.

Eu tinha outros três cães em casa, mas não podia deixar o Mailon em depressão. No começo, foi tudo bem. Mas depois de alguns dias, começaram a acontecer algumas brigas entre Mailon e os meus cães. Uma vez, na tentativa de separá-los, acabei sendo mordida. Ele estava muito estressado"

As amigas iniciaram uma campanha para arrecadar dinheiro para a viagem. Uma passagem aérea para levar o animal até o Ceará custaria cerca de R$ 2.600,00. Elas criaram uma vaquinha, ofereceram rifas e pediram ajuda a familiares. Ao mesmo tempo, Maria da Paz tentava ajuda em Ibiapina, também vendendo rifas.

Após dois meses de arrecadação, o trio conseguiu juntar apenas R$ 1.600,00, insuficientes para a passagem aérea. Foi então que, após muita pesquisa, descobriram que já funcionava no Brasil um serviço chamado taxi dog, especializado no transporte interestadual de animais de estimação. Como a viagem custaria R$ 2 mil, Miriam parcelou os R$ 400,00 restantes no seu cartão de crédito.

As amigas contam que choraram muito ao se despedir de Mailon, no dia 17, por terem se apegado a ele. Por outro lado, sentiam-se felizes em saber que ele iria reencontrar Maria, com quem passaram a conversar quase todos os dias por chamadas de vídeo.

Reencontro emocionante em Fortaleza

Após uma viagem de cinco dias, Mailon chegou a Fortaleza, onde Maria o aguardava na casa de uma irmã, na tarde do dia 22. O encontro foi marcado na capital cearense, pois o acesso a Ibiapina é difícil e a viagem dura cerca de 5 horas.

"Eu estava muito ansiosa, fui um dia antes para a casa da minha irmã esperar por ele, meu coração estava disparado", conta Maria da Paz. "Teve muita gente injusta que me xingou nas redes, me acusou de ter abandonado o Mailon. Nunca faria isso. É que a gente não tinha como sobreviver mais na Praia Grande, por isso deixei ele com parentes, até eu poder buscar ele. A gente estava morando de favor na casa da minha madrinha em Ibiapina".

O emocionante reencontro de Mailon com Maria da Paz foi registrado em vídeo pela família. Atualmente, ela está trabalhando como diarista e mora com o marido e os irmãos numa casa de três cômodos, sem piso ou acabamentos. Mas diz que nunca mais irá se separar de Mailon.

É muito amor que a gente sente um pelo outro. Ele me segue para todos os lugares, está calmo, carinhoso. São 10 anos de amizade, desde que peguei ele bebezinho, ainda com o cordão umbilical pendurado. Hoje, quando saio para trabalhar, saio escondido para ele não estranhar. E quando eu volto, é aquela alegria que só a gente sentindo para saber"