Com vacinação crescente, Doria mira grandes eventos e F1 como carro-chefe
"Um Novo Tempo" diz a nova hashtag usada pelo governador João Doria (PSDB-SP) nos eventos do Palácio dos Bandeirantes, na zona sul. A estreia dela no púlpito ontem, com detalhes sobre o futuro Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1, ajuda a resumir o novo foco do governo paulista.
A aposta de Doria é usar grandes eventos para restaurar o turismo no estado e revitalizar a pauta econômica, agora que São Paulo avança no ritmo da vacinação. Na projeção do governador, a população adulta se vacina completamente até o final de outubro.
O GP na capital, fruto de disputa política entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), foi eleito o símbolo dessa retomada, anunciada no início de agosto.
O Centro de Contingência do Coronavírus avalia que, com a população adulta quase toda imunizada até lá, a reabertura prevista seja possível, mas, diferentemente de Doria, não descarta voltar atrás, caso os indicadores da pandemia piorem. O estado segue com média móvel superior a 250 óbitos por dia, dado considerado estável se comparado com 14 dias atrás.
Fórmula 1 com 100% de público
O GP de Fórmula 1 se tornou a grande estrela da retomada dos grandes eventos. Na coletiva, o governador mostrou um vídeo promocional do turismo no estado e indicou sua mudança de visão para os próximos meses.
A corrida é um dos eventos mais rentáveis do estado anualmente. Tanto que, para aumentar o número de turistas e a arrecadação, o evento poderá ser transferido do primeiro final de semana de novembro (5 a 7) para o seguinte (12 a 14) para poder ser emendado com o feriado da Proclamação da República.
Com a flexibilização em São Paulo, o evento terá a liberação de 100% do público, com capacidade máxima de 70 mil pessoas por dia no Autódromo de Interlagos. Como cerca de 40% deste público vem de fora do estado, a prefeitura espera um incremento de dezenas de milhares de turistas, com operação anticovid a ser montada pela Vigilância Sanitária.
De acordo com um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apresentado pelo governo, o GP deverá movimentar cerca de R$ 670 milhões e gerar 8.000 empregos temporários. Se ocorrer no feriado, pode ter um aumento de 25% no faturamento, o que motivou o pedido de Doria à organização internacional.
"Para vocês terem uma ideia da dimensão econômica e do entusiasmo que gera a F1 para todos os brasileiros, e principalmente para nós aqui em São Paulo, nós estamos seguros de estar fazendo um golaço pelo Brasil", disse Doria.
A corrida deverá ser apenas um dos grandes eventos com público considerados pelo governo do estado. Jogos de futebol e shows também estão permitidos a partir de 1º de novembro.
A base do governo, com anuência do Centro de Contingência, é a aceleração da vacinação no estado e no Brasil, depois de meses de atraso. Até ontem, o estado tinha 70% da população geral vacinada com pelo menos uma dose e 28% com as duas doses ou dose única.
Até o início de novembro, o governo paulista programa ter pelo menos 90% da população totalmente imunizada —o que é relevante, em especial com o crescimento de casos da variante delta no país.
Vitória sobre Bolsonaro
A realização do GP de Fórmula 1 em São Paulo foi um dos primeiros pontos de ruptura entre Doria e Bolsonaro. Às vésperas das prévias do PSDB para a Presidência, ele apontou a manutenção do evento em São Paulo como uma vitória política sua.
Em 2019, o presidente afirmou que, a partir de 2021, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 seria realizado no Rio. À época, ele chegou a dizer que tinha "99% de chance" de a mudança ocorrer. A disputa pela organização da corrida virou política, com Doria levando a melhor.
"O senhor [Bolsonaro] é o nosso convidado para vir aqui, pode até vir de motocicleta. Desde que o senhor use máscara, passe álcool em gel, tire a temperatura e esteja vacinado, o senhor será bem-vindo", disse Doria, que destacou, em sua primeira fala, que o GP agora passaria a se chamar "São Paulo", e não mais "Brasil".
Regras ainda não foram definidas
Com datas previstas, o que ainda não ficou claro são as regras de cada evento. A Fórmula 1 já estava entre os 30 eventos-teste estimados pelo governo paulista para fazer rastreamento dos casos. Com a liberação, a corrida não precisa estar mais sujeita a essas regras, embora o governo fale em protocolos de segurança, sem informar quais.
Segundo Doria, será obrigatório o uso de máscaras, a aferição da temperatura e a disponibilização de álcool gel. A realização de testes rápidos, como era previsto anteriormente, não foi confirmada nem pelo governo nem pela organização do evento.
A obrigatoriedade da comprovação de vacinação também não havia ficado clara no discurso de Doria, mas foi garantida pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB). "Pode ser o evento da ONU [Organização das Nações Unidas], mas, em São Paulo, se quiser fazer, vai ter que estar vacinado", disse o prefeito.
Comitê fala em acompanhamento e se diz otimista
A flexibilização de grandes eventos teve a anuência do Centro de Contingência, que auxilia o governo paulista na pandemia. Os médicos se dizem otimistas em relação ao controle dos indicadores.
Para Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência, a manutenção do ritmo acelerado de vacinação garantirá uma estabilização dos índices da pandemia e, caso ocorra alguma mudança de percurso, como explosão da variante delta, novembro é tempo o bastante para avaliar mudanças.
"Nós temos que seguir fazendo o que fazemos desde março [de 2020]: acompanhar os indicadores dia a dia. Como está, realizar estes eventos, ainda com máscara, é um horizonte possível. Não acho que teremos novos picos — pelo menos não de internações e óbitos, por causa da vacina—, mas, se tivermos, [a flexibilização] já foi colocada mais para a frente para avaliarmos isso", declarou o epidemiologista após o anúncio, no início do mês.
Nesta segunda, Doria foi, de maneira pouco mais taxativa, em direção contrária. Quando questionado sobre possível devolução dos ingressos vendidos, o governador negou qualquer tipo de cancelamento.
"Não há nenhuma possibilidade. Nenhuma. Só se tivermos um problema inesperado em todos os sentidos. Mas aí não é só um problema de São Paulo e só de Fórmula 1", respondeu Doria, referindo-se, indiretamente, à pandemia.
Atualmente, o estado, que vinha acompanhando queda no número de mortes, viu os óbitos se estabilizarem, com média de 262 mortes por covid-19 nos últimos sete dias, segundo o consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte.
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