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Termômetro nos óculos e exames: Evento-teste de SP parece ficção científica

Na entrada, funcionários medem a temperatura dos visitantes com sensores nos óculos - Lucas Borges Teixeira/UOL
Na entrada, funcionários medem a temperatura dos visitantes com sensores nos óculos Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em Santos (SP)

21/07/2021 17h01

Antes de mais nada, o visitante precisa garantir o acesso por meio de um QR Code. Aí, ao entrar, se depara com 21 mesas enfileiradas ao lado de uma ambulância em um grande salão branco. Um profissional protegido com máscara e face shield explica o procedimento para liberar a entrada, que envolve um incômodo teste de antígeno, com um cotonete.

Num segundo ambiente, há 60 cadeiras e um telão com imagens da cidade de Santos, no litoral paulista. Os nomes dos presentes são listados em duas televisões e, caso estejam com os testes negativos, podem passar por mais uma guarita e ser conduzido à entrada da feira, onde óculos especiais aferem a temperatura de todos.

Parece o início do roteiro de um filme de ficção científica, mas é a entrada da ExpoRetomada, primeiro evento-teste organizado pelo governo de São Paulo para monitorar o coronavírus em ambientes controlados.

A expectativa é que sejam realizados 30 deles, em diferentes lugares, até o final do ano.

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Visitantes da ExpoRetomada são recebidos por profissionais com testes de antígeno; resultado negativo é obrigatório
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL
A ExpoRetomada é uma feira voltada ao setor de eventos, realizada hoje e amanhã (22), das 11h às 17h, no Santos Convention Center, um espaço de 4.000 m² na Ponta da Praia. Haveria espaço para 3.500 pessoas por dia. Mas foi limitado o número de visitantes para 750 por dia, além de haver cerca de 250 trabalhadores, entre expositores e serviços.

Por volta das 12h, o movimento estava tranquilo. O processo para a reportagem entrar durou pouco mais do que 20 minutos, incluindo a espera para o teste —com resultado enviado por email e o negativo sacramentado por uma pulseira verde.

Na abertura, às 11h, os presentes narraram um pouco de aglomeração e filas para os diferentes processos, o que causou atraso nas falas.

Até o meio da tarde, nenhuma pessoa foi barrada com resultado positivo nem febril. Os funcionários que montaram os estandes e a estrutura ontem também foram testados e nenhum foi identificado com covid.

Sem lanchinho nem café

Além do protocolo para a entrada, havia mais regras que tornavam a experiência mais exótica. Os tradicionais cafezinhos e lanchinhos nos estandes (às vezes, com direito até a um chope) foram proibidos pela organização para não estimular a retirada de máscara no galpão, todo refrigerado por ar-condicionado.

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Presentes ouvem mensagem do governador João Doria (PSDB); distanciamento era obrigatório
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL
Nem água era oferecida aos expositores e visitantes. O único local em que se viam sanduíches e doces era um estande de uma empresa de buffet. Mas a expositora logo frustrava os participantes: estavam só para amostra, ensacados. "Não pode comer."

As refeições eram servidas em três trailers na parte de baixo do evento, próximos à entrada: um de café, um de carne e outro de frutos do mar. Ali, era o único local onde se permitia retirar a máscara, desde que sentado na mesa, sem poder levantar.

No intervalo do almoço, entre as 13h30 e 15h20, no entanto, parte dos expositores e convidados se reuniu em um restaurante próximo ao centro de convenções, à frente da balsa para o Guarujá. Ali, podiam beber cerveja e comer frutos do mar sem o distanciamento de 1 metro imposto na feira.

Expo da expo

A ExpoRetomada é resultado de uma parceria entre o governo paulista e organizações do setor de eventos. Os expositores pagaram, em média, R$ 4.000 por estande, mas, segundo a organização, o valor foi usado para cobrir custos com funcionários, pois não há fins lucrativos.

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Em toda a feira, indicação de fluxo para trânsito, ignorada pelas pessoas
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Os participantes viram uma oportunidade para rever colegas e fazer contatos na indústria, mais do que fechar algum tipo de negócio. O setor de eventos foi um dos mais atingidos pela paralisação das atividades na pandemia e os expositores se mostravam preocupados, mas otimistas com uma possível retomada.

"É mais para dizer que voltamos. Não sei se vai voltar, mas esse é um evento de evento. Não tem tantos visitantes. É mais para o empresário ver como é. Até que eles saíram de São Paulo, a gente achou que teria menos gente", conta Fabio Oliveira, da Ubrafe (União Brasileira dos Promotores de Feiras).

Eventos-teste têm sido realizados no mundo inteiro com objetivo de ver como o vírus e a população se comportam em aglomerações de ambiente controlado. O governo paulista deverá rastrear todas as pessoas que participaram do evento e checar, em sete e em 14 dias, se alguma delas apresentou sintomas.

A iniciativa foi uma das recomendações do Centro de Contingência do Coronavírus como parte do processo de flexibilização do estado. Até dezembro, deverão ser realizados shows musicais, eventos esportivos e outras feiras.

Entre as autoridades, participaram o prefeito de Santos, Rogério Santos (PSDB), o secretário estadual de Turismo, Vinicius Lummertz, a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, e o governador João Doria (PSDB), em mensagem virtual gravada de casa, por causa da reinfecção pela covid.

Todos estavam no mesmo clima otimista. Santos falou que a feira era "mais que um evento, uma grande etapa conquistada". Lummertz chamou de "obscurantismo" tratar a saúde como pauta econômica.

Já Doria falou da retomada, com o avanço da vacinação em São Paulo. Enfatizou a promessa de completar a imunização de todos acima de 18 anos com uma dose até 20 de agosto.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no título e na chamada da Home-Page do UOL, os testes feitos na feira não são do tipo PCR, e sim, testes rápidos de antígeno. A informação foi corrigida.