'É um dissabor, um trauma', diz delegada negra barrada em loja no CE
A delegada Ana Paula Barroso, que denunciou ter sido barrada na entrada da loja de roupas Zara do Shopping Iguatemi, em Fortaleza, diz que decidiu levar a denúncia contra o estabelecimento "até o fim" após pessoas próximas apontarem o racismo na situação que viveu.
Ela foi impedida de continuar no estabelecimento por um funcionário que alegou "questão de segurança", mas pouco depois voltou à loja acompanhada do chefe de segurança do shopping, que afirmou que a abordagem foi inadequada. A delegada diz que o atendente chegou a se desculpar e desde o início tentou afastar a hipótese de ter agido com preconceito.
"Ele se desculpou, tentou justificar que tem amigos negros, amigos transexuais, disse que não tem preconceito. Eu respondi que aceitava as desculpas, mas o chefe de segurança me falou que precisava fazer um relatório, no qual constaria que o atendente confirmou minha versão. Só depois desse relatório e de falar com amigos e família que ficou clara a situação de racismo na minha cabeça", declarou a delegada ao jornal O Globo.
Procurados ontem pelo UOL, representantes da Zara alegaram que a ação se deu por Ana Paula estar tomando um sorvete no momento em que entrava na loja, usando máscara de uma maneira inadequada segundo os protocolos contra a covid-19 - mas, após pedido da reportagem, disseram que não iriam ceder as imagens do ocorrido.
No domingo (19), após também receber três negativas da loja para obter os registros, a Polícia Civil obteve um mandado de busca e apreensão para recuperar os vídeos do circuito interno de segurança.
"É um comportamento tão velado, tão sutil, que é difícil de perceber no momento. É tão impactante que, sozinha, você não consegue ser combativa na hora que acontece", continuou a delegada em depoimento à mídia carioca.
Ana Paula é diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do Ceará. Ela justifica também que seu cargo, diretamente envolvido com grupos alvo de preconceito, a incentivou a manter a denúncia.
A delegada destacou em depoimento que chegou a questionar as razões do funcionário para retirá-la da loja, mas que teria recebido várias negativas e não teve acesso ao estabelecimento.
"É um dissabor, um trauma, gera cansaço, mas vou levar até o fim. Senão daqui a pouco vão querer se isentar, dizer que se equivocaram, vir com essas evasivas do dia a dia. Por que o racismo muitas vezes não é verbalizado, a pessoa não diz que você não vai entrar porque é negra. Então é importante levar o caso adiante para mostrar que houve racismo na situação que passei", concluiu ela ao Globo.
Segundo a delegada que cuida do caso, Anna Nery, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, dois seguranças e uma testemunha que estava dentro da loja ainda serão ouvidos na investigação. "Após todas essas oitivas, ao final, será ouvido o suspeito do fato", explicou.
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