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Delegada negra é barrada por segurança em loja de roupas em shopping no CE

Ana Paula Barroso teria sido barrada por funcionário sob alegação de "questões de segurança" - PCCE/divulgação
Ana Paula Barroso teria sido barrada por funcionário sob alegação de "questões de segurança" Imagem: PCCE/divulgação

Camila Mathias

Colaboração para o UOL, em Fortaleza

20/09/2021 19h43Atualizada em 21/09/2021 14h50

Uma delegada negra alega ter sido barrada na entrada da loja de roupas Zara do Shopping Iguatemi, no bairro Édson Queiroz, em Fortaleza, e denuncia racismo por parte do segurança do local. Ontem, a Polícia Civil esteve no estabelecimento para recuperar as imagens de vídeo do circuito interno de segurança do local.

Representantes do estabelecimento alegam que ação se deu por a mulher estar sem máscara e cumprir os protocolos contra a covid-19 - mas, após pedido da reportagem, disseram que não vão ceder as imagens do ocorrido.

O episódio ocorreu na terça-feira (14) com a diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do Ceará, a delegada Ana Paula Barroso. Segundo ela relatou à polícia, o segurança a teria impedido de entrar na loja por "questões de segurança". Ela chegou a questionar as razões do funcionário, mas teria recebido várias negativas e não teve acesso ao estabelecimento.

Ana Paula afirma que ao sair da loja procurou a equipe de segurança do centro comercial, que a acompanhou até a loja, onde o atendente chegou a se desculpar. Ela conta que demorou a entender que o que havia passado era um caso de racismo.

"Ele se desculpou, tentou justificar que tem amigos negros, amigos transexuais, disse que não tem preconceito. Eu respondi que aceitava as desculpas, mas o chefe de segurança me falou que precisava fazer um relatório, no qual constaria que o atendente confirmou minha versão. Só depois desse relatório e de falar com amigos e família que ficou clara a situação de racismo na minha cabeça", disse a mulher em entrevista ao jornal O Globo.

Foi então que Ana Paula decidiu registrar um boletim de ocorrência, destacando que por trabalhar com grupos vulneráveis se sentiu na obrigação de levar o caso adiante.

"É um dissabor, um trauma, gera cansaço, mas vou levar até o fim. Senão daqui a pouco vão querer se isentar, dizer que se equivocaram, vir com essas evasivas do dia a dia. Por que o racismo muitas vezes não é verbalizado, a pessoa não diz que você não vai entrar porque é negra. Então é importante levar o caso adiante para mostrar que houve racismo na situação que passei", argumentou ela, em declaração ao veículo carioca.

Segundo a delegada que cuida do caso, Anna Nery, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, após denúncia formalizada, houve três tentativas de solicitação de imagens das câmeras de segurança junto à loja, todas negadas, enquanto o centro de compras cedeu os registros das áreas comuns no primeiro pedido. Por isso, houve solicitação e a Justiça concedeu mandado de busca e apreensão, cumprido neste domingo (19).

"Ainda serão ouvidas algumas testemunhas, dentre elas, dois seguranças e uma testemunha que estava dentro da loja e presenciou todo o constrangimento passado pela vítima. Após todas essas oitivas, ao final, será ouvido o suspeito do fato", afirmou Anna Nery.

Em contato com o UOL, a assessoria de comunicação da Zara afirma que a delegada foi abordada porque estava consumindo um sorvete na loja e não estava usando máscara. O funcionário foi pedir para que ela colocasse a máscara por causa dos protocolos de segurança e ela se sentiu ofendida, logo depois, saiu da loja. O UOL tenta contato com a delegada para responder à alegação da Zara - ela não mencionou diretamente a acusação na entrevista ao site do jornal O Globo.

Em nota, o Shopping Iguatemi Fortaleza disse ter colaborado com a investigação e cedido de pronto as imagens de áreas comuns do centro de compras. "O Iguatemi Fortaleza não compactua com quaisquer formas de discriminação ou demonstrações de preconceito racial" e completa dizendo que "cumpre com todas as determinações dos decretos estaduais em relação a medidas sanitárias referentes à Covid-19".