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Hospital troca corpos e idosa é cremada por engano: 'Tinha pavor a fogo'

Josefa Figueira da Silva (à dir.) morreu no último sábado no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla; seu corpo foi cremado como sendo o de Gecélia Barbosa, de 89 (à esq.) - Reprodução
Josefa Figueira da Silva (à dir.) morreu no último sábado no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla; seu corpo foi cremado como sendo o de Gecélia Barbosa, de 89 (à esq.) Imagem: Reprodução

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

30/09/2021 05h00Atualizada em 30/09/2021 11h21

Serão entregues aos parentes, hoje, as cinzas de uma idosa cremada por engano no Rio de Janeiro, após o hospital trocar os corpos de duas pacientes. Josefa Figueira da Silva, de 69 anos, morreu no sábado (25), no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, mas, quando a filha Ana Paula Figueira foi reconhecer o corpo, dois dias depois, descobriu que ela havia sido cremada por outra família. O caso está sendo investigado pela 39ª DP (Pavuna).

"Fui reconhecer minha mãe e, chegando lá vi que não era ela. Minha mãe tinha pavor a fogo e jamais gostaria de ser cremada, nunca na vida dela. O enterro, que estava marcado para as 15h30, não aconteceu e agora o hospital quer culpar uma senhorinha pelo reconhecimento", disse Ana Paula.

Em entrevista ao UOL, ela conta que deixou o reconhecimento para a segunda-feira (27) porque o cartório estaria fechado no final de semana. Depois de esperar muito tempo para terminar os trâmites, funcionários avisaram sobre a ausência do nome da idosa no sistema e Ana Paula acabou sendo levada para reconhecer o corpo de outra pessoa falecida.

"Eles ficaram procurando o corpo de Josefa Ferreira, mas, como não encontraram, deram o corpo de dona Gecélia para mim. Os funcionários falavam 'Tem certeza que não é ela? Porque muda depois que morre'. Quando o corpo sumiu e me chamaram para reconhecer outro, de cara a gente disse que não era minha mãe", conta.

Josefa Figueira da Silva, de 69 anos, e Gecélia Barbosa, de 89, morreram em decorrência de complicações da covid-19. Em nota, a direção do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla disse lamentar profundamente o ocorrido e que está prestando toda assistência às duas famílias, incluindo apoio psicológico.

Uma sindicância foi aberta para apurar as falhas e responsabilidades no processo. A assessoria do hospital afirma que Gecélia Barbosa morreu na sexta-feira (24). No dia seguinte, no momento da liberação para sepultamento, outro corpo foi apresentado à filha da paciente, mas acabou "reconhecido" por ela. Ambas as famílias foram notificadas, na segunda-feira, após a unidade de saúde perceber o erro.

Procurada pelo UOL para esclarecer que tipos de crime poderiam ser associados ao episódio, a Polícia Civil informou apenas que "funcionários do hospital e da funerária serão ouvidos para esclarecer os fatos. As investigações estão em andamento".

Problemas no reconhecimento

Filha de Gecélia, Jorgina Barbosa, de 72 anos, viajou de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro para reconhecer o corpo da mãe e realizar seu último desejo: o de ser cremada. A mulher alega que ela e a filha, neta de Gecélia, não puderam vê-la propriamente no momento do reconhecimento.

Segundo a advogada Sumaya Portilho, que representa a família Barbosa, o maqueiro do hospital teria entregado o corpo diretamente para um funcionário da funerária, afirmando se tratar da paciente e, apesar do pedido de conferência por parte da mulher, o profissional só abriu o saco que envolvia o corpo em torno de 10 a 15 centímetros e pediu que a verificação fosse feita a distância, já que a morte estava associada à covid-19.

A família decidiu seguir com a cerimônia de cremação, acreditando na checagem do hospital. Na segunda-feira (27), depois da denúncia da troca de corpos ser feita, Jorgina recebeu uma ligação da unidade de saúde pedindo que ela comparecesse ao local para fazer um novo reconhecimento. Gecélia foi, então, identificada por uma marca em um dos dedos e uma cicatriz nas costas.

"Isso é inadmissível. Uma senhora fez uma viagem para reconhecer a mãe, teve menos de um minuto para fazer essa identificação com um fecho de 10 a 15 centímetros. É uma sucessão de erros, de negligências absurdas. Tanto o hospital quanto a funerária que recebeu o corpo de dona Josefa por engano são responsáveis. O problema só não foi maior porque a outra funerária decidiu abrir todo o saco e Ana Paula viu que aquela não era sua mãe. Se não fosse isso, ela também teria enterrado a pessoa errada", disse Sumaya Portilho.

A família aguarda liberação do hospital para, enfim, conseguir cremar o verdadeiro corpo de Gecélia Barbosa.