MP determina investigação contra padre suspeito de violência sexual em MG
O promotor de Justiça de Monte Sião (MG), Marco Antonio Meiken, determinou hoje que a Polícia Civil de Minas Gerais abra um inquérito policial contra o padre Ernani Maia dos Reis, suspeito de ter assediado e violentado sexualmente oito monges de um mosteiro da cidade, entre os anos de 2011 e 2018.
A decisão do promotor é baseada nas revelações UOL contidas em reportagem publicada ontem . A apuração do núcleo investigativo também resultou no documentário "Nosso Pai", lançado por MOV, o selo de produções audiovisuais do UOL.
O integrante do MP-MG (Ministério Público de Minas Gerais) pediu ao delegado Daniel Leme Amaral que sejam localizadas e interrogadas vítimas e testemunhas dos atos do padre, que está afastado há três anos do antigo mosteiro Santíssima Trindade e exerce, atualmente, a profissão de psicanalista na cidade paulista de Franca. Ele também deverá prestar depoimento durante o inquérito policial.
Padre nega acusações
Ernani Maia dos Reis negou as acusações em duas oportunidades, mas se recusou a responder às perguntas específicas dos repórteres. Após a publicação da reportagem de ontem, o UOL telefonou para o celular pessoal do padre e para seu consultório, mas ninguém atendeu.
Das oito vítimas de violência sexual ouvidas pela reportagem, duas relataram os ataques atribuídos a Ernani durante a investigação da Igreja Católica. Todas as oito afirmaram que não receberam qualquer ajuda psicológica ou financeira da instituição.
Por sua vez, a Igreja Católica disse, em resposta enviada por email, que "nunca negou qualquer fato (dele) ou ato atribuído quando do exercício na liderança daquela comunidade" e que não se omitiu em relação ao caso.
"Foram constituídas auditorias, comissões de apuração em várias esferas de acompanhamento, sendo as respectivas comunicações, diretas aos representantes legais superiores (Nunciatura e Santa Sé). Nunca houve qualquer omissão nesse sentido", lê-se na resposta enviada.
A igreja não respondeu sobre as conclusões das investigações internas, nem esclareceu que atitudes foram tomadas em relação aos relatos de crimes sexuais cometidos pelo padre Ernani. Também não respondeu qual o atual estágio do processo de saída de Ernani da Igreja Católica, que foi encaminhado ao Vaticano.
O UOL voltou ontem a insistir numa resposta mais completa da Igreja Católica. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar. A arquidiocese de Pouso Alegre (MG) não respondeu aos pedidos de pronunciamentos feitos pela equipe de reportagem.
Dinâmica de abuso de poder
Dos 40 entrevistados pelo UOL, 19 afirmaram ser vítimas do padre Ernani: oito homens, com idades entre 20 e 43 anos, acusam o religioso de ter cometido crimes sexuais. E 11 pessoas, de assédio moral, dizem que sofreram constrangimentos e agressões verbais — dez eram mulheres.
Segundo relato das vítimas, em uma dinâmica de abuso de poder, o padre Ernani usava seu lugar de líder espiritual para conquistar a confiança dos integrantes do mosteiro, se colocava como "um pai" com a intenção de envolvê-los pelo lado afetivo e oferecia "sessões de psicanálise" em que as próprias vítimas eram os pacientes.
Relatos dos crimes sexuais atribuídos a Ernani chegaram ao conhecimento da Igreja Católica por meio de investigações internas, mas o padre só foi afastado depois que ele mesmo pediu para sair do mosteiro, em agosto de 2018, alegando "cansaço" e "crise vocacional".
Não consta que ele tenha recebido qualquer punição da Igreja Católica.
Veja o segundo episódio do documentário "Nosso Pai":
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