Papa Francisco dispensa padre suspeito de assediar e violentar monges em MG
Maria Carolina Trevisan e José Dacau
Do UOL, em São Paulo
01/10/2021 18h28Atualizada em 01/10/2021 20h06
O papa Francisco desligou hoje da Igreja Católica o padre Ernani Maia dos Reis, suspeito de assediar e violentar sexualmente oito monges do Monteiro Santíssima Trindade, em Monte Sião (MG), entre os anos de 2011 e 2018.
O arcebispo de Pouso Alegre (MG), dom José Luiz Majella Delgado, informou em comunicado que o papa Francisco "dispensou Ernani Maia dos Reis do celibato e de todas as demais obrigações inerentes ao estado clerical e decorrentes das Sagradas Ordens".
A decisão do papa é divulgada um dia depois da publicação da reportagem do UOL, que revelou o caso com exclusividade. A apuração do núcleo investigativo também resultou no documentário "Nosso Pai", lançado por MOV, o selo de produções audiovisuais do UOL.
O Ministério Público de Minas Gerais pediu que a Polícia Civil abra uma inquérito policial para apurar as revelações da reportagem.
A nota assinada pelo arcebispo informa ainda que o agora ex-padre Ernani Maia dos Reis pediu afastamento da comunidade em 2018, perdendo automaticamente os direitos próprios do estado clerical. Exorta fieis a não solicitarem sacramentos do ex-padre.
Leia o comunicado: https://download.uol.com.br/files/2021/10/25718309_comunicado-da-igreja-catolica.pdf
Padre nega acusações
Ernani Maia dos Reis negou as acusações em duas oportunidades, mas se recusou a responder às perguntas específicas dos repórteres.
Após a publicação da reportagem de ontem, o UOL telefonou para o celular pessoal do padre e para seu consultório, mas ninguém atendeu.
Das oito vítimas de violência sexual ouvidas pela reportagem, duas relataram os ataques atribuídos a Ernani durante a investigação da Igreja Católica. Todas as oito afirmaram que não receberam qualquer ajuda psicológica ou financeira da instituição.
Dinâmica de abuso de poder
Dos 40 entrevistados pelo UOL, 19 afirmaram ser vítimas do padre Ernani: oito homens, com idades entre 20 e 43 anos, acusam o religioso de ter cometido crimes sexuais. E 11 pessoas, de assédio moral, dizem que sofreram constrangimentos e agressões verbais — dez eram mulheres.
Segundo relato das vítimas, em uma dinâmica de abuso de poder, o padre Ernani usava seu lugar de líder espiritual para conquistar a confiança dos integrantes do mosteiro, se colocava como "um pai" com a intenção de envolvê-los pelo lado afetivo e oferecia "sessões de psicanálise" em que as próprias vítimas eram os pacientes.
Relatos dos crimes sexuais atribuídos a Ernani chegaram ao conhecimento da Igreja Católica por meio de investigações internas, mas o padre só foi afastado depois que ele mesmo pediu para sair do mosteiro, em agosto de 2018, alegando "cansaço" e "crise vocacional".
Veja o segundo episódio do documentário "Nosso Pai":