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Polícia investiga chefe que obrigou atendente a apagar post sobre São Jorge

Letícia Brazão com o deputado Átila Nunes (MDB), relator da CPI da Intolerância Religiosa na Alerj. Imagem: Arquivo pessoal

Waleska Borges

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

04/10/2021 14h51

Devota de São Jorge, Letícia Brazão, de 21 anos, moradora da Zona Norte do Rio de Janeiro, nunca achou que a fé fosse fazê-la parar na delegacia. Caixa da Schutz, de um shopping da Barra da Tijuca, ela acusa uma subgerente de preconceito religioso por ter sido orientada a apagar uma postagem numa rede social com uma oração ao santo e por ela ter sido obrigada a ouvir um louvor para "expulsar o demônio". O caso foi registrado na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), na última quinta-feira (30).

"Quando ela começou a me mandar apagar [o post], fiquei quieta. Não sabia o que responder e como agir", argumenta Letícia. "São Jorge nunca deixou de me ouvir, sempre me socorreu. Nunca havia sofrido preconceito por causa da minha religião", complementa.

No dia seguinte, Letícia conta que foi surpreendida com outro pedido. Desta vez, a chefe disse para que ela encontrasse um louvor, e tocasse a música de cunho religioso na caixa de som que fica na loja, por meio do qual funcionários e clientes conseguem ouvir, além de músicas, recados ou informações da loja.

"Eu disse que não conhecia um louvor. Então ela pediu que a faxineira falasse um para eu digitar no computador. O som estava tão alto que até um segurança do shopping pediu para abaixar. Ela cantava bem alto. Eu chorei muito enquanto estava no caixa. Liguei para minha mãe, depois não voltei a trabalhar e procurei o RH [recursos humanos] da loja", disse. A reportagem tentou localizar a funcionária, mas não conseguiu.

Post sobre São Jorge feito por Letícia Brazão em suas redes sociais. Imagem: Reprodução

De acordo com Letícia, a primeira solução encontrada pelo RH foi de que ela trocasse de horário ou de loja. "As outras lojas estão na Zona Sul e ficaria muito longe para mim. Não conseguiria voltar ao trabalho. Acho que seria coagida se voltasse", disse a caixa.

Pouco tempo depois, Letícia afirma que foi informada pelo RH de que a subgerente seria advertida pela situação. A reportagem tentou contato com os funcionários da loja, que não quiseram falar. Um deles, porém, garantiu que trabalha no local há anos e nunca viu preconceito por parte da subgerente. Ainda assim, segundo apurou a reportagem, ela foi afastada pelo ocorrido.

Procurada pela reportagem por telefone e mensagem de texto, a subgerente não se pronunciou. Em suas redes sociais, ela posta mensagens sobre Jesus: "As misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã", diz uma delas. "Obrigada Jesus, pq (sic) com todos os meus defeitos e pecados continua sendo meu 'fechamento'", escreveu em outra.

A Polícia Civil do Rio informou por nota que a ocorrência contra ela foi registrada e "as investigações estão em andamento, mas correm sob sigilo". Já a loja Schutz, também por meio de nota, informou que, em seus 26 anos de história, sempre fomentou um ambiente e cultura de diversidade e respeito.

"A empresa reitera que não tolera nenhum tipo de discriminação, seja ela religiosa, de raça, sexo ou qualquer outro tipo, seguindo as diretrizes do Código de Ética da marca. Neste caminho, a empresa tão logo tomou conhecimento dos fatos expostos, adotou todas as medidas cabíveis necessárias para o momento", pontua trecho da nota.

A companhia também informou que está contribuindo para a apuração e esclarecimento do fato.

Depois do episódio, Letícia também foi orientada a procurar ajuda do deputado Átila Nunes (MDB), relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Intolerância Religiosa, que está em andamento na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

De acordo com Nunes, o caso de Letícia não é o primeiro e nem o último em que funcionários de empresas praticam este tipo de atitude. "Tem que se recorrer ao Ministério do Trabalho, processar criminalmente para que haja o caráter pedagógico. Que as pessoas parem de assediar religiosamente seus colegas de trabalho", disse ao UOL.

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