Catadora troca cosméticos por comida para os filhos, em GO: 'Não é fácil'
A catadora de recicláveis Ivanice Oliveira, de 35 anos, se viu obrigada a trocar cosméticos e perfumes lacrados por ovos, cuscuz e salsicha para alimentar os filhos. Os produtos seriam usados para uma rifa. Ela decidiu tomar a atitude após dificuldades para se manter com a venda de materiais recicláveis devido às chuvas em Goiás.
"Eu falei assim 'os produtos [de cosméticos] estão aqui e eu não consegui vender a rifa, eu vou tentar trocar [por alimento]'. Eu postei (nas redes sociais) no dia e recebi críticas. Fiquei com vergonha e apaguei", confessa a pernambucana que mora em Aparecida de Goiânia (GO).
Ela então mostrou a publicação para uma irmã, para ver se tinha algo de errado. Com a negativa, ela voltou a publicar o post no último fim de semana, quando as pessoas começaram a compartilhar.
Ela mora em uma casa alugada com o companheiro de 40 anos, a enteada de 16, e os quatro filhos de 9, 8, 4 e 2 anos. "Faço tudo pela minha família", escreveu.
Trabalho com reciclagem
Com a pandemia e o nascimento do filho mais novo, Ivanice não conseguiu manter o ritmo de trabalho nas ruas. E, por isso, hoje ela não consegue recolher diariamente produtos como garrafas pet, latinhas de alumínio, caixas de leite e papelão.
"A gente trabalha com reciclagem. Quem vai mais para a rua é meu companheiro. Desde que eu tive o Miguel, que é o pequeno, eu vou, mas não é direto. Eu ajudo ele [meu companheiro] na segunda, quarta, sexta e domingo. Nos outros dias, pode estar chovendo ou não, ele tem que ir, pois tem que juntar [os recicláveis]", afirma.
Apesar da família sair todos os dias, nem sempre o dinheiro adquirido com a venda dos materiais é suficiente para arcar com o aluguel, água, luz e comprar os alimentos. Em dezembro de 2021, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica em Goiânia custou em média R$ 597,24.
"Quando o mês está bom, consigo tirar R$ 1.100. Quando não, R$ 600, R$ 700". Em meio às dificuldades para conseguir arrecadar ao menos um salário mínimo, a família já chegou a receber doações antes. "Acaba que a gente sempre vai precisando de ajuda, não é fácil".
A ida aos supermercados assusta. Os preços estão altos e comprar carne bovina é praticamente inviável. Ivanice diz que consegue adquirir somente carne moída para preparar com macarrão ao menos três vezes no mês. "Eu já falei aqui, vou comprar as coisas mais baratas. Ovo e salsicha é o que eu vejo que é mais em conta".
Desde a publicação, o apoio e carinho tem se multiplicado. "Recebi apoio, graças a Deus. Muita mensagem de pessoas falando que vão trazer roupa, brinquedos, sapatos, alimentos. Estou anestesiada", comemora. Além de dinheiro via PIX, ela tem aceito outras doações. "Lógico que eu aceito. Aqui está chovendo direto. Faz uma semana que eu lavei roupa e não enxuga. Às vezes falta um sabão e 'quiboa'. Eu uso muito".
Esperança de melhora
Os cosméticos que Ivanice colocou à disposição para trocar por alimento para os filhos tinham sido comprados para fazer uma rifa. O objetivo era comprar remédios para a filha de 9 anos, que sofre de leucoma (opacidade na córnea). Ela já está em tratamento e na fila de transplantes. "Só está aguardando chegar nela".
"Minha filha, para receber essa doação, ela precisa que as pessoas doem [órgãos]. A fila de transplante parou, por isso ela não foi chamada ainda. Estou ansiosa, porque eu tenho certeza que quando o transplante sair, vai dar tudo certo. As coisas vão melhorar, com certeza", complementa.
A catadora de recicláveis tem o sonho de conseguir a casa própria para se livrar do aluguel, além de ter o próprio carro para coletar recicláveis.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.