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Caso Brayan: há 9 anos, criança boliviana era brutalmente assassinada em SP

Em foto de julho de 2013, a mãe, Verônica, e o pai, Edberto, do garoto boliviano Brayan Yanarico Capcha - Gabriela Biló/Futura Press
Em foto de julho de 2013, a mãe, Verônica, e o pai, Edberto, do garoto boliviano Brayan Yanarico Capcha Imagem: Gabriela Biló/Futura Press

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

05/04/2022 15h19

A noite de 28 de junho de 2013 marcou para sempre a vida da família Yanarico. Depois de uma vida de muita pobreza em Tacamara, no interior da Bolívia, Edilberto, Verônica e o pequeno Brayan Yanarico resolveram tentar a vida em São Paulo, a 3.200 quilômetros da cidade natal.

No início daquele ano, os três chegaram à capital paulista para trabalhar com costura, em uma cooperativa de famílias bolivianas que prestava serviço para empresas coreanas. Foram quatro dias de viagem.

"Só levávamos roupas nas malas, como nos haviam dito que fizéssemos. Minha ideia era voltar. Eu queria ir, fazer um pouco de dinheiro e voltar para que Brayan estudasse no colégio daqui, como eu. Este ano já teríamos que matriculá-lo, porque eu não queria que fosse ao colégio de lá. Então, eu deixaria a Verónica aqui, com a criança, e depois outra vez iria ao Brasil. Outra vez iria trabalhar, iria mandar dinheiro e assim? Lá ficaria sozinho, para que ela ficasse tranquila aqui com a criança, depois voltaria, porque minha ideia nunca foi a de ficar para sempre", contou Edilberto em entrevista ao site Repórter Brasil.

Depois de seis meses de trabalho, a família conseguiu juntar um dinheiro e, quando o objetivo de Edilberto estava prestes a se concretizar, a casa onde moravam na Vila Bela, na zona leste de São Paulo, foi invadida por criminosos às 22h40.

O pai de Brayan estava no carro de seu irmão Carlos, quando voltavam para casa. Quando estacionaram, foram abordados por cinco criminosos mascarados e armados com revólveres e facas.

O grupo invadiu a casa e rendeu toda a família. Obrigaram os bolivianos a entregarem toda a economia que tinham, R$ 4.500.

Só que Brayan, muito assustado, começou a chorar. Os assaltantes estavam nervosos e, entre ameaças, mandaram o garoto a parar de chorar. Desesperado, o menino de cinco anos pegou as moedinhas que tinha em um cofrinho e entregou aos ladrões.

Segundo divulgado pela imprensa à época, Verônica ajoelhou e implorou aos ladrões, dizendo que aquele era todo o valor que tinham. Brayan continuava a chorar. A mãe abraçou o filho e pediu clemência.

"Ele não gritou. Só dizia 'não me matem, não matem minha mamãe'. Aí as lágrimas começaram a cair pela sua carinha. Então, soou um estampido forte", contou Verônica ao Repórter Brasil.

 29.jun.2013 - O menino Brayan Yanarico Capcha, 5, morto durante assalto a sua casa em São Paulo - Reprodução/ SBT - Reprodução/ SBT
O menino Brayan Yanarico Capcha, 5, morto durante assalto a sua casa em São Paulo
Imagem: Reprodução/ SBT

Diogo Rocha Freitas Campos, à época com 20 anos, atirou à queima-roupa na cabeça do garoto.

Os ladrões fugiram com o dinheiro, e os pais de Brayan correram com o menino para o Hospital Geral de São Mateus. Ele morreu no caminho.

A morte comoveu todo o país. Os imigrantes bolivianos fizeram diversas manifestações pedindo mais segurança em São Paulo. "Sofremos muito problema de assalto, maus-tratos na escola e nos hospitais", contou Morena Suazo, uma costureira que veio da Bolívia para a capital paulista.

Entrada do PCC no caso

A Polícia Civil então começou uma caçada aos cinco assaltantes. Diversas operações começaram a ser feitas na zona leste de São Paulo, região com diversos pontos de venda de droga controlados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

A ação dos policiais trouxe prejuízo ao tráfico de drogas, e o PCC também deu ordem para que os assassinos de Brayan fossem capturados e julgados pelo "tribunal do crime".

O primeiro preso pela polícia foi Paulo Ricardo Martins, de 19 anos. Com medo de ser morto, Felipe dos Santos Lima, de 18 anos, se entregou no 49ª DP (na região de São Mateus), ao lado de um advogado.

Dois meses depois, a dupla foi transferida para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Santo André (SP), para aguardar o julgamento. Quatro dias depois de chegarem ao local, foram assassinados.

De acordo com o divulgado à época, eles foram colocados na mesma cela de integrantes do PCC. No horário de um banho de sol, no dia 30 de agosto, eles foram espancados com socos e pontapés. De acordo com o publicado pelo colunista Josmar Jozino, Felipe chegou a ficar com o rosto desfigurado.

Após as agressões, a dupla foi obrigada a tomar o "Gatorade", conhecido como um coquetel da morte. É a mistura de Viagra, cocaína, água e creolina. Em 30 minutos, Felipe e Paulo morreram.

Até hoje, ninguém foi punido pela morte dos dois. Anos depois, a Justiça obrigou que o Estado de São Paulo pagasse R$ 26.400 para a família de Felipe. Já os pais de Paulo receberam R$ 26.400 pela morte no presídio estadual.

Dias após os assassinatos de Felipe e Paulo, a Polícia encontrou os corpos de Diego Rocha e Wesley Soares Pedroso, de 19 anos, outro integrante do grupo que invadiu a casa de Brayan.

1º.jul.2013 - A Polícia Civil divulgou foto do suspeito de atirar no garoto boliviano Brayan Yanarico Capcha, 5, em crime de latrocínio ocorrido na última sexta-feira (28) na zona leste de São Paulo. Para os investigadores, Diego Rocha Freitas Campos, 20, foi quem matou a criança - Reprodução/MB/Futura Press - Reprodução/MB/Futura Press
Diego Rocha Freitas Campos, principal suspeito de ter atirado em Brayan, foi morto em 7 de julho de 2013
Imagem: Reprodução/MB/Futura Press

Diego estava foragido desde o crime. Segundo Jozino, um tio o escondeu. Coube, então, ao PCC encontrar o autor do disparo que matou Brayan. O tio de Diego foi levado ao tribunal da facção e ficou decidido que ele deveria matar o sobrinho. Diego foi assassinado no dia 7 de julho, mas o corpo só foi encontrado pela polícia no início de setembro.

Wesley também foi morto no mesmo dia, em uma decisão também tomada pelo PCC. A Polícia informou que o corpo foi encontrado um dia depois da divulgação do assassinato de Diego.

O único sobrevivente deste caso é um adolescente, à época, com 17 anos, que ficou internado na Fundação Casa.