'O 4º maior estado do país é a favela'; veja 2º episódio de Preto no Branco
"O Brasil possui cerca de 13 mil favelas onde vivem mais de 17 milhões de pessoas. Se essa população formasse um estado, seria o quarto mais populoso do país". Desta forma, a apresentadora Maria Gal deu início ao segundo episódio de "Preto no Branco", que foi ao ar nesta quinta-feira (2), na Band News, e recebeu Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e Data Favela, para falar sobre racismo, finanças e hábitos de consumo.
Meirelles é economista e membro do Conselho de Professores do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), que há 20 anos estuda os hábitos de consumo dos brasileiros e principalmente as classes sociais. Para entender o desejo de consumo das pessoas que moram nas favelas e periferias, ele é categórico: "a primeira coisa é não achando que este público, que esse mercado e essas pessoas podem ser entendidas como seriam ratos de laboratório".
O Locomotiva produz dados para entender os comportamentos, os problemas sociais, as formas de trabalho, os hábitos de consumo e demais aspectos da população que vive nas periferias. Ao mesmo tempo, Meirelles fez questão de enfatizar que todo o processo de análise é desenvolvido em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas), ou seja, feito em parceria com quem está dentro destes territórios.
Outro ponto importante sobre o consumo nestes locais é entender que grupos que são considerados segmentados não são uma parcela pequena do público consumidor. "No Brasil, as mulheres, os negros e a população LGBTQIA+ são minorizados, mas não são a minoria. Não estamos falando de pequenos guetos, mas sim da grande maioria do mercado consumidor", disse.
Empreendedorismo
Além do alto potencial de consumo, a criatividade e necessidade de empreender na favela faz parte do dia a dia das pessoas. "É muito difícil que um morador de favela consiga ganhar mais de dois salários-mínimos em um emprego formal. É por isso que o maior sonho profissional não é passar em um concurso público ou ter a carteira assinada, é conseguir ser dono do próprio negócio", explica.
Para ele, o empreendedorismo por necessidade é o que lidera os tipos de empreendedorismo nas comunidades. Como exemplo, o especialista cita as mulheres que são mães e, pela ausência de creches, não têm com quem deixar seus filhos. Nesse caso, ser dona do próprio negócio é uma forma de conseguir estar mais próxima da família.
Ao longo do programa, Meirelles também citou algumas ações que buscam garantir melhor infraestrutura para os negócios das favelas, como políticas públicas e iniciativas feitas por organizações das próprias favelas em parceria com grandes empresas para viabilizar o empreendedorismo negro e periférico, como a Expo Favela, a Freira Preta e a Favela Holding.
Preconceito e racismo
Os desafios para os empreendedores de favelas do Brasil também permeou o bate-papo entre Meirelles e Maria Gal. Um dos pontos levantados foi a dificuldade de acesso ao crédito bancário e a falta de vontade do mercado tradicional de dialogar com as pessoas da periferia que querem ou precisam empreender.
"É mais fácil ensinar inglês para a favela, do que 'favelês'. A raiz disso vem da falta de interesse e de uma certa petulância dos empreendedores tradicionais, que se julgam superiores", explica Meirelles.
Em uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva que trazia rostos de pessoas brancas e pretas de diferentes idades, os homens brancos foram eleitos por 75% dos entrevistados como o rosto de alguém que seria presidente de uma empresa. Já 38% escolheram o rosto de uma mulher negra como alguém que já foi presa, em detrimento de 15% em comparação com o rosto de uma mulher branca.
"Para reverter esses dados é preciso dar oportunidades para que os negros ocupem espaços de poder", acrescenta Meirelles, citando frentes de ação como a política e cargos de lideranças em grandes empresas.
O programa "Preto no Branco" é uma série semanal liderada pela produtora e atriz Maria Gal. No primeiro episódio, a apresentadora recebeu a consultora de diversidade Liliana Rocha, para falar sobre a presença de pessoas negras no mercado de trabalho. Nas próximas semanas, o programa irá debater temas como intolerância religiosa, racismo no esporte, racismo e música e como ser antirracista.
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