Marinha inicia busca por jornalista e indigenista desaparecidos na Amazônia

A Marinha enviou hoje à tarde uma equipe de buscas para procurar pelo indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), e pelo jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, desaparecidos desde a manhã deste domingo (5) no Vale do Javari, na Amazônia (AM).
A equipe de busca e salvamento formada por militares da Capitania Fluvial de Tabatinga (AM), do 9º Distrito Naval, já está na região do desaparecimento, segundo informou a Marinha. Em nota, a Marinha informou que enviou ao local às 11h40 uma equipe de busca formada por sete militares com o auxílio de uma lancha. As ações tiveram início à tarde nos rios Javari, Itaquaí e Ituí, no interior do Amazonas.
Na manhã de terça-feira, as buscas contarão com o auxílio de um helicóptero do 1° Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste, de duas embarcações e de uma Moto Aquática.
O governo do Amazonas anunciou também que montou uma força-tarefa para apoiar as buscas. Segundo a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), Bruno vinha sendo alvo de ameaças de garimpeiros, madeireiros e pescadores.
O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, disse ter notificado a Marinha para tentar localizar o paradeiro deles. O órgão informou ainda ter acionado Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.
De acordo com o MPF, as buscas ficarão sob responsabilidade do Comando de Operações Navais da Marinha. "O MPF seguirá mobilizando as forças para assegurar a atuação integrada e articulada das autoridades, visando solucionar o caso o mais rápido possível', informou, em um dos trechos da nota enviada à reportagem.
No Twitter, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disse atuar junto da Marinha para encontrar Pereira e Philips.
Bruno é pai de três filhos. Dois deles com a antropóloga Beatriz de Almeida Matos, companheira do indigenista. "Ele precisa voltar para casa", disse à Folha de S.Paulo. "Eu conheço bem a região, sei que podem acontecer vários acidentes. Mas estou apreensiva por causa das ameaças que ele sofria", afirmou a antropóloga, que também atuou com povos indígenas.
Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram "acertar contas" com o indigenista. Fabio Ribeiro, coordenador-executivo do OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), confirmou que as buscas estão sendo priorizadas.
"Aquela região tem questões envolvendo o narcotráfico, a atividade de madeireira, de pesca ilegal e garimpo. E a organização indígena está nesse enfrentamento contra a invasão das terras", relatou.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o desaparecimento "expõe a fragilidade das ações de fiscalização e segurança na Amazônia". Um levantamento do fórum aponta crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de Floresta na região Norte do país.
"Pereira e Phillips navegavam em uma área que hoje é palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas, por meio do forte controle de rotas fluviais, terrestres e aéreas da região", diz o Fórum em nota.
Bruno Pereira e Dom Phillips foram vistos pela última vez por volta das 7h de ontem em um barco após saírem da comunidade Ribeirinha São Rafael, segundo nota em conjunto entre Univaja e OPI.
Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças (...). Outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados"
Trecho de nota da Univaja e do OPI
De lá, partiriam para a cidade de Atalaia do Norte, onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. Após um atraso de mais de duas horas, começaram as buscas, informaram as entidades indígenas.
"Essas duas pessoas ficaram esperando em uma balsa por mais de duas horas. Depois, tentaram localizá-los. Por volta das 16h, acionamos os órgãos de segurança para notificar o desaparecimento", informou Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja.
As entidades indígenas informaram que Bruno Pereira e Dom Phillips se deslocaram inicialmente para visitar uma equipe de vigilância indígena próximo à localidade chamada Lago do Jaburu, nas imediações da base da Funai no Rio Ituí, para que o jornalista conversasse com indígenas no local.
As entrevistas, segundo as entidades, foram feitas na última sexta-feira (3). No retorno, ainda de acordo com a entidade, a dupla foi à comunidade São Rafael, onde Bruno Pereira tinha reunião agendada com o líder comunitário conhecido como "Churrasco" para consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na região, afetada pela ação de invasores.
Ainda segundo as entidades indígenas, Bruno se reuniu com a esposa do líder comunitário, já que ele não estava no local. De lá, partiu em uma embarcação com o jornalista britânico Dom Phillips para Atalaia do Norte. Contudo, a dupla desapareceu antes de chegar ao destino combinado.
É extremamente importante que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois"
Maria Laura Canineu, diretora do escritório da Human Rights Watch no Brasil
Na região pela 2ª vez, diz The Guardian
O jornalista Tom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil, relatou a situação do colega em postagem pelo Twitter. "Meu amigo e colega Dom Phillips desapareceu enquanto fazia uma reportagem na Amazônia com o líder indígena Bruno Pereira, dias após ele receber ameaças. Por favor, compartilhem essas informações o mais rápido possível", escreveu, em inglês.
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