Quem são o jornalista inglês e o indigenista desaparecidos na Amazônia
Radicado no Brasil, o jornalista inglês Dom Phillips está desaparecido há mais de 24 horas, no Vale do Javari, no Amazonas. Além dele, o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Funai (Fundação Nacional do Índio), também está sem paradeiro. Ambos estavam na mesma embarcação. A informação foi confirmada ao UOL pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).
A suspeita das lideranças indígenas é a de que Phillips e Pereira tenham desaparecido enquanto retornavam para a cidade de Atalaia do Norte após de visitarem a comunidade ribeirinha de São Gabriel. Eles estariam em uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina. A quantidade seria suficiente para a viagem.
Em nota ao UOL, os líderes indígenas informaram que, em visita ao perímetro visitado por Phillips e Pereira, no riu Ituí, "nenhum vestígio foi encontrado".
Dom Phillips: da cobertura pop inglesa à Amazônia
Dom Phillips é um experiente repórter britânico radicado no Brasil. Atualmente, ele é jornalista colaborador do jornal inglês The Guardian, uma das mais notórias publicações do mundo.
Ele também tem passagens pela Bloomberg, Financial Times, The Washington Post, New York Times e Intercept.
Nos anos 1980 e 1990, Phillips esteve em boa parte de sua carreira envolvido em coberturas do mundo da música e também chegou a ser colunista de moda da revista inglesa Independent on Sunday.
O jornalista ainda fez documentários para o Canal 4 e Rádio 1, sendo ainda o autor do livro "Superstar DJs Here We Go!: The Rise and Fall of the Superstar DJ", lançado em 2009 pela editora Ebury, em inglês.
O livro narra histórias que cercam "o maior fenômeno da cultura pop da década de 1990", segundo o próprio jornalista considera em seu livro. Trata-se da ascensão e posterior queda de grandes nomes como da música, Sasha, Jeremy Healy, Fatboy Slim, Dave Seaman, Nicky Holloway, Judge Jules e Pete Tong.
Já no Brasil, Phillips passou a cobrir a América do Sul, sendo meio ambiente e direitos humanos os temas de principais interesses. Ele é fluente em português e espanhol. Em seu Twitter, Phillips diz que reside tem Salvador, mas antes já morou no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A pauta indígena também fazia parte do seu trabalho. Em 2018, após as eleições de Jair Bolsonaro (PL), ele alertou em uma extensa reportagem ao The Guardian sobre os riscos que os povos ianomâmis poderiam enfrentar com os garimpeiros ilegais durante o governo, classificado no texto como de extrema direita.
Em suas redes sociais, ele também ironizava o governo Bolsonaro. Em fevereiro, durante a visita do presidente à Rússia, disse que seus apoiadores acreditavam que o mandatário salvaria o mundo.
"Alguns de seus apoiadores acreditam que ele veio para salvar o mundo", escreveu.
No LinkedIn, Phillips informa que entre 2009 e 2010, lecionou inglês gratuitamente no projeto social Vizinho Legal, em São Paulo.
Experiente e respeitado: quem é o indigenista da Funai
No cargo de agente indigenista na Funai desde outubro de 2010, "Bruno Pereira é pessoa experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos", informou em nota as lideranças indígenas.
Ele deixou o cargo de gestão em 2016, quando indígenas da etnia Matis invadiram a sede da Funai portando arcos e flechas para retirarem à força funcionários da entidade, incluindo o indigenista.
Bruno é vinculado à sede da Funai com sede em Belém e, apesar do conflito que culminou em sua saída da coordenação regional em 2016, respeitado entre as lideranças por coordenar missões da entidade com povos isolados na Amazônia e mediar conflitos entre etnias.
Em 2018, quando ocupava o cargo de coordenador-geral de Indígenas Isolados e Recém-Contatados, Bruno comandou a maior expedição da Funai dos últimos 20 anos com povos isolados, quando intermediou o conflito étnico que ocorria entre os Korubo e os Matis, no Vale do Javari, no Amazonas.
Apesar da experiência no contato com povos isolados, a Funai acabou cedendo à pressão de ruralistas e o demitiu do cargo, em outubro de 2019, conforme noticiou Matheus Leitão, então colunista do jornal O Globo.
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