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Gari acha carteira de iraniano no lixo com R$ 1 mil: 'Achou, devolve'

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

29/06/2022 18h08Atualizada em 30/06/2022 07h59

Um coletor de lixo de Florianópolis achou, em meio a descartes, a carteira de um iraniano, com dinheiro, enquanto realizava a coleta na região da Lagoa da Conceição e usou as redes sociais para achar e combinar a devolução ao dono. Além de documentos pessoais, havia carteiras de vacinação e R$ 940 em espécie no interior do objeto. O proprietário perdeu a carteira há um mês e já não estava sequer no estado quando o profissional estabeleceu contato.

Marcos da Silva, 47, conhecido como "Fininho", conta que ele e outros colegas realizavam a coleta no último dia 20 de junho, logo no início do turno, quando percebeu o objeto no fundo de um contentor de resíduos, próximo a uma pousada.

"Quando eu e meu colega viramos o contentor para despejar no caminhão, caiu a carteira bem no final. Ela estava aberta, com dinheiro embolado e os documentos", relembra em entrevista ao UOL. Na hora, ele não conseguiu identificar o dono.

Após o serviço na rua, já na central da Comcap, a autarquia municipal de lixo, ele começou a procurar por Amir Farokhdad, 45, nome que estava na Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM), documento emitido para estrangeiros que moram temporária ou permanentemente no Brasil.

Nas redes sociais, Marcos descobriu o perfil de Amir no Facebook. Além de português, o contato também foi feito em persa, língua oficial do país do Oriente Médio. "Pesquisei no Google qual a língua oficial do Irã. Vi que era persa, usei o tradutor e mandei as mensagens", detalha.

No mesmo dia, Amir respondeu em português. Do Facebook, migraram a conversa para o WhatsApp. Como não estava mais em Santa Catarina, Amir indicou um amigo para receber o objeto. O próprio gari foi de motocicleta devolver a carteira em Tapera, no sul da cidade

Carteira perdida há cerca de 1 mês

Em busca de uma vida melhor que no Irã, Amir mora no país desde 2001 e atualmente reside em Santos (SP). Por ter um filho nascido no Brasil, possui visto permanente de residência. Ele conta que estava visitando um amigo na cidade, há cerca de um mês, e não se recorda exatamente onde perdeu a carteira.

"Eu acho que ela caiu do meu colo em algum momento quando estava no carro. Fomos em vários lugares, num restaurante onde comemos e nada", relembra Amir ao UOL.

O iraniano já havia comprado uma passagem de volta para Santos, de ônibus. Mas, sem os documentos, teve que pedir dinheiro emprestado para um amigo para voltar de carro. "Demoraria cerca de três meses para emissão de um novo documento. É uma burocracia", afirmou Amir.

Amir já tinha perdido as esperanças quando recebeu a mensagem de Marcos no Facebook. "Graças a Deus, ele achou a carteira. Com o dinheiro todo intacto. É um cara gente boa", afirmou Farokhdad.

Convite para uma tainha na brasa

Amir diz que chegou a oferecer uma recompensa pelo ato de Fininho, mas o gari educadamente recusou. Mesmo assim, o iraniano afirmou que em breve irá voltar a Florianópolis e vai convidá-lo para comer uma "tainha na brasa", prato típico da culinária da capital catarinense. "Esse cara merece. Não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas quando for a Florianópolis, vou chamá-lo", prometeu o iraniano. "Aí é bom, é legal. Uma nova amizade é sempre bem-vinda", brincou Marcos.

Fininho mora em Palhoça, na Grade Florianópolis, e há 12 anos trabalha como coletor de lixo na capital. Ele conta que já encontrou dinheiro avulso, mas nunca desta forma. Sobre o ato de devolver ao dono, Marcos é categórico.

Se tem dono, é obrigado a entregar. É nosso dever de cidadão, independentemente de quem seja. Imagina, ele estava há um mês em busca da carteira. Os problemas que ele deve ter passado... Achou, tem que devolver.