Cárcere em hospital: médico equatoriano já foi preso por integrar quadrilha
O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, 63, suspeito de manter uma paciente em cárcere privado após um procedimento estético mal-sucedido, já foi preso em 2010, segundo informações da Polícia Civil do Rio. Silva responde ainda a pelo menos 19 processos criminais na Justiça. A paciente afirmou que está com "um buraco na barriga" devido ao procedimento estético pelo qual passou com o equatoriano.
Segundo a Polícia Civil, Guerrero Silva foi preso anteriormente por integrar um grupo criminoso acusado de comercializar e aplicar medicamentos sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A corporação não informou quanto tempo de pena ele cumpriu.
Bolívar era um dos profissionais que recebia a toxina butolinica, conhecida como Botox, sem registro, e fazia uso em pacientes, segundo a Polícia Civil.
O produto pirata era obtido em Goiás e distribuído para algumas clínicas de estética do RJ. Na época, oito profissionais foram presos.
O médico foi preso novamente ontem pela Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Hospital Santa Branca. Ele nega a acusação de impedir a transferência de uma paciente da unidade de saúde.
Contra ele foi cumprido um mandado de prisão temporária. O cirurgião foi encaminhado para audiência de custódia.
A delegada Fernanda Fernandes, responsável pelo caso, não descarta pedir o fechamento do Hospital Santa Branca. Após a repercussão do caso, quatro mulheres já procuraram a delegacia para relatar problemas em procedimentos realizados com o cirurgião
"O hospital pode ser fechado. A gente pediu uma perícia de local. Estamos aguardando o laudo. Então, pode ser uma possibilidade".
O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) informou na manhã de hoje que abriu uma sindicância para apurar os fatos.
"Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional", comunicou a instituição, em nota.
O hospital ainda não divulgou informações explicando se a paciente já foi transferida como ordenou o Tribunal de Justiça do Rio.
A prisão temporária do médico foi mantida pela Justiça.
Entenda o caso
Uma parente de uma mulher internada no Hospital Santa Branca procurou a Deam para relatar que a paciente estava sendo impedida de ser transferida de hospital pelo médico equatoriano.
De acordo com as investigações, desde o início do ano, a mulher se submeteu a alguns procedimentos estéticos na unidade. Em junho, ela deu entrada novamente no hospital e não saiu mais. A mulher chegou a conseguir uma liminar na Justiça ordenando a transferência, mas a decisão não foi cumprida.
A Deam informou que já havia solicitado ao hospital o prontuário da paciente e demais informações. Na ocasião, os documentos não foram entregues.
A delegada Fernanda Fernandes relatou também que o hospital tentou dificultar uma visita de agentes ao quarto da paciente alegando que ela estava sedada.
"No dia que a gente foi efetuar a visita, no primeiro momento foi negada dizendo que ela estava sob sedação e depois a gente conseguiu falar, ela não estava sedada, a gente entendeu que poderia haver um movimento para dificultar acesso a vítima", disse a delegada.
"Antes disso, nós entramos em contato com a vítima e ela disse para um policial: 'Doutor, pelo amor de Deus, me tira daqui'. Isso, pra gente, causou muita estranheza. A gente ficou muito impactado com a gravidade do caso", afirmou.
O médico é suspeito de cárcere privado e organização criminosa. "Ela tinha direito a acompanhante mas não teve o direito de sair do hospital e a gente investiga a participação de outras pessoas na negativa de transferência", explicou a delegada.
O que diz o hospital
No início da noite desta segunda-feira (18), o Hospital Santa Branca se pronunciou e repudiou a suspeita de cárcere privado, a qual se referiu como "absurda".
"Com 43 anos de funcionamento, essa unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda", diz a nota.
O UOL tentou contato por telefone e mensagens com a advogada do equatoriano, mas não obteve resposta. Ao jornal O Estado de S. Paulo, ela afirmou que não deve se pronunciar.
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