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Médico é preso suspeito de manter paciente em cárcere privado no RJ

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

18/07/2022 18h43Atualizada em 19/07/2022 17h50

A Polícia Civil do Rio prendeu, na tarde de hoje, um médico suspeito de manter uma paciente em cárcere privado em um hospital particular da Baixada Fluminense, após uma cirurgia estética, inclusive impedindo a sua transferência de unidade de saúde. A equipe do médico nega as acusações, dizendo que a paciente se negou a assinar termo de responsabilidade para sua liberação sem o consentimento médico.

Bolívar Guerrero Silva é equatoriano e supostamente estaria mantendo a paciente internada no Hospital Santa Branca desde o mês passado. Contra ele, foi cumprido um mandado de prisão temporária. Uma audiência de custódia deve definir se ele continuará detido ou se ficará preso preventivamente.

A detenção foi realizada após um parente da paciente procurar a DEAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Duque de Caxias e informar dificuldades na transferência da mulher.

A paciente, que não teve o nome divulgado, foi submetida a uma abdominoplastia em março e, em junho, retornou para outros procedimentos de correção e, desde então, não deixou a unidade de saúde.

Segundo a delegada Fernanda Fernandes, responsável pelo caso, a Deam de Duque de Caxias já havia requerido o prontuário e demais informações sobre o estado de saúde da paciente. Como os documentos não foram entregues, uma equipe policial esteve no hospital para visitar a paciente e constatou lesões aparentemente graves na mulher.

"Antes disso, nós entramos em contato com a vítima e ela disse para um policial: 'doutor, pelo amor de Deus, me tira daqui'. Isso, pra gente, causou muita estranheza. A gente ficou muito impactado com a gravidade do caso", afirmou.

Além da prisão temporária, a delegacia solicitou a transferência da paciente e a suspensão do registro do médico junto ao Conselho Regional de Medicina. De acordo com Fernandes, o profissional de saúde teria participação de propriedade no Hospital Santa Branca, o que a unidade de saúde nega.

A delegada afirma ainda que, no entendimento da paciente, ela não está recebendo a assistência devida na unidade. "Ela relatou que a transferência dela estava sendo negada. De fato, ela tinha uma liminar de transferência anterior à nossa que não foi cumprida".

Outras pacientes estão entrando em contato com a Deam para relatar problemas com o médico.

Após a repercussão do caso, a equipe do médico fez uma postagem nas redes sociais e negou que ele tenha mantido a paciente em cárcere privado. Segundo a publicação, o cirurgião solicitou que a mulher assinasse um termo de alta à revelia para liberá-la, o que não aconteceu.

"O dr. Bolivar foi prestar um depoimento na delegacia. Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado. Ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele. Porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de liberá-la", diz um trecho da postagem.

"Ele disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta à revelia e ela não quis assinar. Ele disse que liberaria somente se ela assinasse. Como ela não assinou, ele não liberava. O intuito dele é prestar toda assistência a paciente até ela estar recuperada", finalizou o comunicado.

O UOL tenta contato direto com o médico ou com seus representantes legais para saber os caminhos que a defesa deve seguir no processo.

O que diz o hospital

No início da noite desta segunda-feira (18), o Hospital Santa Branca se pronunciou, informando que as salas cirúrgicas que dispõe são locadas, repudiando a suspeita de cárcere privado, a qual se refere como "absurda", e negando que o cirurgião preso faça parte do quadro societário da unidade.

"Com 43 anos de funcionamento, essa Unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Nossas salas cirúrgicas são locadas.

Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda. Além disso, o Dr. Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário desta empresa", diz nota oficial.