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Viúva de Bruno Pereira critica Bolsonaro e Exército: 'Pareciam debochar'

O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, morto em junho durante viagem de barco no Vale do Javari - Bruno Jorge/Funai
O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, morto em junho durante viagem de barco no Vale do Javari Imagem: Bruno Jorge/Funai

Do UOL, em São Paulo

07/08/2022 08h05

A viúva do indigenista Bruno Pereira, a antropóloga Beatriz Matos, criticou as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL), do presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Xavier, e a atuação do Exército nas buscas por Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips, do jornal The Guardian. Os dois desapareceram no início de junho durante uma viagem de barco no Vale do Javari, no Amazonas, e tiveram seus corpos encontrados no dia 15 daquele mês, mas eles só foram identificados no dia 22.

Em entrevista ao jornal O Globo, a antropóloga afirmou que as falas do chefe do Executivo e do chefe da Funai foram "aviltantes" e disse que o Exército "parecia debochar" dela e do restante da família do indigenista.

"Houve uma inatividade total do governo. Teve aquela nota Exército que estariam esperando permissão para agir, e só começaram um plano de ação quatro dias após o desaparecimento", afirmou Matos.

Para a viúva, as autoridades envolvidas nas buscas foram "insensíveis" com a família de Pereira.

"Tripudiaram, foram insensíveis, lentos e, quando houve a pressão internacional, tentaram demonstrar serviço, mas muito centrada na Polícia Federal e Polícia Civil. O governo federal não se importa com indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas. Esse é o recado", acrescentou.

Eles não só foram lentos com pareciam debochar da nossa cara. As declarações do presidente da Funai (Marcelo Xavier), do vice-presidente (Hamilton Mourão) e do presidente Jair Bolsonaro foram aviltantes. Antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, em entrevista a O Globo

Ainda segundo Matos, os responsáveis pelo início das primeiras buscas do indigenista e de Dom foram os indígenas do Vale do Javari.

"Desde a "hora 1", foram os indígenas que Bruno ajudou a formar que se lançaram nas buscas. Apoiadores da Univaja pagaram diárias para policiais e adquiriram equipamentos para buscas", disse a antropóloga.

PF prendeu três por suspeita de ocultação de corpos

A Polícia Federal (PF) realizou ontem uma operação contra a pesca ilegal no Vale do Javari, na Amazônia, que prendeu três pessoas suspeitas de terem participado da ocultação dos corpos de Bruno e Dom Phillips.

No total, a PF cumpriu sete mandados de prisão preventiva nas cidades de Atalaia do Norte e Benjamin Constant e em comunidades ribeirinhas.

Entre os detidos, estão um filho e dois irmãos do pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, que confessou ter assassinado Bruno e Dom e já estava preso. Seus três familiares, segundo a polícia, teriam participado da ocultação dos corpos.

Mortes foram por armas de caça

Uma perícia da Polícia Federal revelou que Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos com tiros disparados por armas de caça. O indigenista foi atingido por três disparos, enquanto Dom foi assassinado com um tiro.

Quem eram as vítimas?

Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.

O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma reportagem para o Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou a dupla.

Bruno, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), era conhecido como um defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros.

Em entrevista ao UOL, o líder indígena Manoel Chorimpa afirmou que o indigenista estava preocupado com as ameaças de morte que vinha sofrendo.