Topo

Esse conteúdo é antigo

Cônsul e marido eram casados havia 23 anos e se mudariam para o Haiti

Uwe Hebert Hahn (à direita) foi preso por suspeita de envolvimento na morte do marido, o belga Walter Henri Maximillen Biot, na sexta-feira - Reprodução
Uwe Hebert Hahn (à direita) foi preso por suspeita de envolvimento na morte do marido, o belga Walter Henri Maximillen Biot, na sexta-feira Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

08/08/2022 11h56Atualizada em 08/08/2022 15h31

O cônsul da Alemanha no Brasil Uwe Hebert Hahn, preso por suspeita de envolvimento na morte do marido belga Walter Henri Maximillen Biot, na sexta-feira (5), vivia com o companheiro havia 23 anos - quatro deles no Rio de Janeiro. Desde que chegaram ao Brasil, o casal morou sempre no mesmo endereço, na rua Nascimento Silva, em Ipanema, na zona sul da cidade, onde Biot foi encontrado morto.

Em depoimento à Polícia Civil, o cônsul contou que no mês de maio tomou ciência de que deveria se mudar para o Haiti e explicou que a cada quatro anos é obrigado a trocar de país em razão de questões diplomáticas.

Segundo ele, o marido estava feliz com a mudança, mas há um mês Biot "começou a ingerir bebida alcoólica de forma excessiva e a consumir medicamentos para dormir (calmantes)". Ele ainda alegou que "o marido estava nervoso e angustiado com a organização da mudança, razão pela qual começou a beber e a consumir medicamentos de forma desordenada".

De acordo com depoimento do alemão à polícia, ao qual o UOL teve acesso, Uwe afirmou ainda que o marido passou a ter algumas reações irracionais: "dormia demais e costumava acordar durante as madrugadas gritando, tendo pesadelos frequentes" e que há alguns dias essas reações se intensificaram.

Ele afirmou que o marido caía da cama, tropeçava nas mobílias e que na madrugada do dia 4 para o dia 5 de agosto, teve uma diarreia intensa.

Suspeito relatou queda de companheiro

Sobre o momento da morte de Biot, o cônsul relatou que o casal estava no sofá da sala quando o belga teve um surto repentino, se levantou e começou a gritar. De acordo com o depoimento, o cônsul alegou que a vítima tropeçou no carpete e caiu com o rosto no chão entre a sala de estar e o terraço. Segundo ele, Biot permaneceu caído e emitindo gemidos.

Uwe disse ainda que fotografou o marido no chão e enviou a imagem a um amigo que mora em Nova York para mostrar que Biot estava bêbado novamente.

Ao perceber um sangramento, o diplomata disse que pediu ajuda ao porteiro do prédio que acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ao socorro, o cônsul informou que o marido havia passado mal e caído no chão. O médico responsável pelo atendimento, cogitou a possibilidade de mal súbito, mas não quis atestar o óbito e o corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) para atestar a causa da morte.

Secretária limpou o imóvel

A secretária do cônsul também prestou depoimento à polícia. Valéria Teixeira relatou que recebeu no sábado de madrugada uma mensagem de texto de Uwe dizendo que o marido estava morto e que ele teve um infarto.

Segundo a testemunha, ela ligou para o cônsul pela manhã e combinou de encontrá-lo na rua. Uwe estava caminhando com o seu cachorro e posteriormente os dois seguiram para o apartamento do casal.

No local, Valéria ouviu que Bioti teria corrido em direção à varanda e caiu e que, ao observar a varanda, percebeu o cão lambendo uma mancha de sangue.

Valéria diz que pegou um balde com água e detergente e realizou uma limpeza superficial do local a fim de que o cão não tivesse contato com o sangue.

Prisão em flagrante convertida em preventiva

O laudo pericial realizado em exame de necropsia atestou a existência de indícios de lesões no corpo da vítima decorrentes de ação contundente e apontou que o crime é compatível com "dinâmica de morte violenta". Em decorrência do documento, a Polícia Civil prendeu o cônsul no sábado (6) em flagrante. Ontem, o Tribunal de Justiça do Rio converteu a prisão em preventiva.

O juiz Rafael de Almeida Rezende, da Central de Custódia de Benfica, na zona norte do Rio, destacou que a vítima pode ter sido submetida a "intenso sofrimento físico" não apenas no dia em que foi morto, mas também em momento anterior".

"Os indícios de diversas lesões no corpo da vítima decorrentes de ação contundente, sendo uma delas compatível com pisadura e a outra com o emprego de instrumento cilíndrico (supostamente um bastão de madeira), bem como da perícia local, que detectou espargimento de sangue no imóvel [...] Destaca-se que, de acordo com o laudo de exame de necropsia, a vítima apresentava diversas lesões recentes e antigas espalhadas pelo corpo", assinalou o juiz.

A defesa do cônsul chegou a entrar com pedido de habeas corpus na Justiça, alegando que a prisão é ilegal porque não houve flagrante e teria havido desrespeito à imunidade diplomática, mas o pedido não foi atendido.

A Embaixada e o Consulado-Geral da Alemanha informaram que não vão se pronunciar e aguardam o fim das investigações.

O UOL entrou em contato com o escritório responsável pela defesa do cônsul, mas a reportagem foi informada que os advogados estavam reunião e foi orientada a deixar um telefone de contato. Até a publicação da reportagem, a defesa de Uwe não retornou o telefonema.