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Apresentadora sofre ofensas raciais e de teor político em ônibus: 'Abalada'

A apresentadora Cacau Milla, de afiliada do SBT em Goiás - Reprodução/Instagram
A apresentadora Cacau Milla, de afiliada do SBT em Goiás Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

01/10/2022 10h22Atualizada em 01/10/2022 10h42

A apresentadora e terapeuta tântrica Camila Lourenço da Silva, da TV Serra Dourada, afiliada do SBT em Goiás, foi alvo de ofensas durante uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro na noite de terça-feira (27).

Cacau Mila, como é conhecida, foi acusada de ter roubado a bolsa de uma passageira, sofreu ofensas raciais e foi atacada pelo seu posicionamento político, já que usava um adesivo do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ela compartilhou vídeos do incidente nas redes sociais.

Ao UOL, Cacau contou que tudo começou quando ela se sentou por engano em cima da bolsa da passageira.

"Eu nem lembrei que eu estava com um adesivo do Lula quando entrei no ônibus. Eu me sentei no lado indicado pelo motorista e senti que tinha uma coisa debaixo de mim. Eu vi que era uma bolsa e, então, coloquei na poltrona ao lado. Logo depois a mulher começou a gritar, falando para eu sair de lá", disse Cacau.

"Ela disse que o lugar era dela e tentou me tirar à força, com socos e pontapés. Eu liguei para um amigo que estava antes comigo e, na hora que ele subiu no ônibus, ela parou de me bater e começou a me ofender verbalmente", acrescentou a apresentadora.

No vídeo publicado pela apresentadora, a agressora é gravada dizendo que Cacau "escondeu" a bolsa dela e que todo mundo que apoia o Lula é "'abortista' e ladrão".

Em dado momento, Cacau se defende das acusações falando que na bolsa dela só havia papel higiênico, ao que a mulher diz que acredita "que quem é preto tem que ter papel higiênico preto" e acrescenta que não vê problemas na situação, exceto "pela loirinha que tá ali chorando porque não é preta."

Cacau afirma que, para além do ódio político, ela também foi vítima de racismo. "Eu nunca tinha passado por isso. Foi a primeira vez que me chamaram de macaca, suja. Isso me atravessou de um jeito que eu não estava esperando. Estou muito abalada. Além disso, ninguém fez nada no ônibus. As pessoas só queriam seguir viagem. Foi uma solidão muito grande ter sido acusada de algo que não fiz."

A apresentadora afirma que, depois do episódio, pediu para trocar de lugar no ônibus, porque não queria ir no mesmo ambiente que a agressora. "Ninguém do andar debaixo quis trocar comigo, porque as poltronas são mais confortáveis. Eu tive que sentar em uma cadeira na frente até outra cidade, quando chamaram outro veículo. Mas foi um trecho horrível. Eu senti um clima de tensão, porque estava com todo mundo com raiva", afirma.

Ela seguiu viagem em um carro disponibilizado pela Buser, mas as malas acabaram ficando no ônibus anterior. "Na hora de trocar de veículo, eu perguntei para o motorista sobre a minha bagagem e ele falou que estava tudo no carro. Quando cheguei, só tinha minha mochila. Eu tive que pagar do meu próprio bolso para pegar a minha mala de volta", relata ela.

Cacau fez um boletim de ocorrência por lesão corporal logo após o episódio e, ontem, registrou outro por meio da Delegacia Eletrônica. "Chorei muito, tive crise de ansiedade. Meu corpo ainda está doendo das agressões", diz ela, que pretende levar o caso à Justiça.

Ao UOL, a Buser informou que "repudia com veemência qualquer ato de racismo e discurso de ódio".

"A plataforma informa que está acompanhando o fato ocorrido na noite desta terça-feira (27/9), em uma viagem de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, em que uma passageira alega ter sido vítima de racismo. A passageira seguiu viagem em um veículo disponibilizado pela plataforma assim que possível. Ela será reembolsada pelas despesas com o envio de sua bagagem. A Buser está acompanhando a apuração do caso pelas autoridades policiais", diz comunicado.

Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que o caso foi registrado como lesão corporal e injúria racial pela Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 17º DP (Ipiranga).

"A equipe da unidade realiza diligências visando a coleta de informações e elementos que auxiliem no esclarecimento dos fatos e responsabilização criminal da autora."

Procurada, a suspeita não retornou aos contatos da reportagem até a última atualização deste texto. O espaço segue aberto em caso de manifestação.