PRF matou menino de 14 anos sem elo com tráfico no RJ, dizem moradores
Agentes da PRF mataram um adolescente de 14 anos durante uma operação no Complexo do Chapadão, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, na madrugada de hoje (28). Moradores afirmam que o menino trabalhava como entregador de lanches e não tinha nenhuma ligação com o tráfico de drogas.
O líder comunitário local Jorge Franco, da Faferj (Federação das Favelas do Rio de Janeiro), relata que o menino trabalhava como entregador de uma lanchonete na favela para ajudar no sustento da família e voltava para casa quando foi baleado na cabeça.
"O garoto era entregador de lanche. Havia polícia na parte de baixo e na parte de cima [do Complexo do Chapadão]. Quando a operação começou, ele ia entregar um pedido. Foi parado pelos policiais na parte de baixo e eles mandaram que fosse para casa porque estava tendo operação. O garoto foi embora pra casa. Mas, quando estava subindo, os policiais que estavam na parte de cima atiraram e acertaram a cabeça dele", conta o líder comunitário.
Ainda segundo Franco, o menino ganhava R$ 2 por entrega e costumava fazer de dez a 20 serviços por dia. "Seu crime: ser preto e morador de comunidade", protesta ele.
Em nota, a PRF admite que o menino foi morto por seu agentes e alegou que durante a operação dois adolescentes foram apreendidos e um —supostamente Lorenzo— foi morto após entrarem em confronto com os policiais.
"As equipes tiveram êxito em apreender dois menores e neutralizar um outro que, ao avistar a viatura dos policiais rodoviários federais, atirou em sua direção. Os dois menores declararam que pertenciam ao tráfico de drogas local e que os três estavam de 'plantão' no comércio da 'boca de fumo' e na 'contenção" da comunidade'", afirmou a corporação em nota.
Apesar de dizer que os três adolescentes tinham envolvimento com o tráfico local, os agentes da PRF apreenderam apenas duas armas —ambas pistolas— durante a ocorrência.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte do adolescente.
Policiais tentaram remover corpo. Vídeos obtidos pelo UOL mostram que os agentes da PRF insistiram para remover o corpo aparentemente morto do adolescente do local do crime, sob a justificativa de prestar socorro. Moradores impediram que a cena do crime fosse desfeita.
Nas imagens, é possível ver o corpo estirado no chão e coberto por um lençol e um plástico. Em um dos registros, uma mulher —que seria a mãe do menino— chora e acaricia o rosto do adolescente, aparentemente já sem vida. O vídeo foi divulgado pelo jornalista e ativista Renê Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades
Durante a tentativa dos policiais de removerem o corpo do menino, moradores lembram que a lei proíbe que a cena de um homicídio seja alterada. "Não vai levar. Pode sair daqui só meio-dia, mas só vai sair com a perícia", diz a moradora. A mesma moradora fala em outro registro: "Eles estão querendo levar para o [Hospital Estadual] Carlos Chagas. A pessoa morta, como é isso?".
Uma outra então questiona: "Por que eles querem levar, se ele já está morto? É porque alguma coisa tem".
Ação após morte de policial. A PRF realizou a operação no Complexo do Chapadão em busca de assaltantes que mataram o policial rodoviário federal Bruno Vanzan Nunes, 41, na tarde de ontem (27) durante o roubo do carro dele na via Transolímpica, na Vila Militar, zona oeste da capital.
Nunes —que não estava em serviço— foi abordado pelos assaltantes e reagiu. Ele acabou ferido na troca de tiros e caiu de um viaduto da Transolímpica.
De acordo com a PRF, após a morte do agente, PMs informaram ter trocado tiros com um dos veículos envolvidos no assalto, que fugiu para a comunidade da Vila Kennedy, em Bangu, zona oeste do Rio.
"As equipes PRF se deslocaram para a comunidade Vila Kennedy para captura dos assaltantes, momento em que foi encontrado abandonado o veículo Kia/Cerato. Em continuidade foi realizado vasculhamento de toda região e nenhum indivíduo foi encontrado, sendo apenas recuperada duas motocicletas com ocorrência de roubo/furto", diz a corporação em nota.
Após essa primeira operação, informações do Disque-Denúncia deram conta de que os criminosos envolvidos na morte de Nunes estavam no Complexo do Chapadão.
"Ao anoitecer, chegou a informação através do Disque-Denúncia de que o veículo Nissan/Kicks estava na comunidade do Chapadão, onde estaria sendo ateado fogo por cerca de 10 marginais armados de fuzis. Outras informações chegaram através de Agências de Inteligência informando que um dos assaltantes havia sido morto pelo próprio tráfico e o outro estava amarrado, aguardando o término da reunião da cúpula do Comando Vermelho para que fosse decidido sobre sua vida."
PRF não diz, contudo, se essas pessoas foram encontradas —com ou sem vida— no Chapadão.
Além das duas pistolas, os agentes da PRF apreenderam no Chapadão 600 papelotes de crack, 622 pinos de cocaína, 425 tabletes de maconha e 149 frascos de loló e lança-perfume. Um carregador de fuzil calibre .556 também foi encontrado.
O Disque-Denúncia pede informações que levem aos responsáveis pela morte do policial rodoviário federal.
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