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Quem foi o traficante que deu origem ao culto do Senhor do Bonfim

Após 2 anos é retomada tradicional lavagem da escadaria da igreja do Bonfim, realizada na cidade de Salvador - Romildo de Jesus/Futura Press
Após 2 anos é retomada tradicional lavagem da escadaria da igreja do Bonfim, realizada na cidade de Salvador Imagem: Romildo de Jesus/Futura Press

Colaboração para o UOL

12/01/2023 12h27

Depois de ter sido cancelada por dois anos consecutivos, a Lavagem do Senhor do Bonfim voltou a acontecer em Salvador hoje. Uma das maiores tradições de fé da cultura da Bahia, a celebração é composta por uma procissão de 8 km pelas ruas da Cidade Baixa e a tradicional lavagem das escadarias e do átrio da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

Mas, apesar da beleza da celebração que reúne católicos e adeptos do candomblé, o local e a origem da cerimônia remetem a um dos principais traficantes de africanos escravizados da Bahia.

  • De acordo com o projeto Salvador Escravista, conduzido por historiadores, o português Teodósio Rodrigues de Faria foi capitão de um navio mercante por anos até que, na década de 1740, resolveu se estabelecer em Salvador, onde passou a investir no comércio -- incluindo o de pessoas;
  • Teodósio, que já era devoto do Senhor do Bonfim, trouxe para Salvador uma imagem do santo em 1745, para pagar uma promessa;
  • Na década de 1750, Teodósio recebeu do vice-rei do Brasil a patente de capitão de mar-e-guerra. Foi também nesse período que ele mais atuou no tráfico negreiro;
  • Hoje, seu corpo está sepultado na célebre Igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

O historiador Cândido Domingues encontrou os registros de navios negreiros que Teodósio possuía em sociedade com outros traficantes da época e divulgou em dissertação de mestrado, de 2020.

Sua devoção ao santo e também o investimento na ornamentação da igreja foram os responsáveis por seu lugar de destaque na irmandade do Senhor do Bonfim, que também contava com outros comerciantes influentes.

Salvador Escravista. O projeto é colaborativo e conta com a participação de especialistas em diversas áreas, como por exemplo história da África, comércio transatlântico de pessoas escravizadas, escravidão atlântica e pós-abolição nas Américas, entre outros assuntos. O objetivo é mapear referências ao passado escravista nos monumentos e espaços públicos da cidade de Salvador.