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Tragédia foi pior que o pico da covid, diz médico de São Sebastião

Até quarta-feira (22), chuva deixou 48 mortos e 57 desaparecidos no litoral norte; Juan Lambert ajudou no resgate - Reprodução
Até quarta-feira (22), chuva deixou 48 mortos e 57 desaparecidos no litoral norte; Juan Lambert ajudou no resgate Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

22/02/2023 16h46Atualizada em 22/02/2023 17h40

Antes de chegar na Vila Sahy, no litoral norte de São Sebastião (SP), o médico Juan Lambert não tinha dimensão da tragédia ocorrida na madrugada de domingo (19). Ele conta que jamais esquecerá o que viu após descer do helicóptero do Exército: corpos enfileirados dentro de uma sala de aula. "Você olhava para a parede e via desenhos de crianças. E no chão, corpos enfileirados de crianças, adultos."

É inexplicável. É um filme de terror, um cenário de guerra. É pior que o pico da covid-19, porque naquela fase a gente tinha um preparo para receber os casos graves. Para essa tragédia, ninguém estava pronto."
Juan Lambert, médico

Lambert é diretor da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de São Sebastião e trabalhou no local durante a pior fase da pandemia. Segundo ele, no período de pico da covid, a cidade recebia pacientes aos poucos e com uma equipe mais preparada.

Em três anos de pandemia, São Sebastião registrou 206 mortes em decorrência do coronavírus.

Após o temporal de domingo no litoral norte, as autoridades confirmaram, até esta quarta (22), 48 mortos e 57 desaparecidos. No primeiro dia após os deslizamentos, a UPA teve superlotação ao receber dezenas de vítimas. Lambert decidiu ir até a Vila do Sahy por causa dos relatos de mortos e feridos na região.

Agora, a UPA tem tratado dos casos leves e médios. Os mais graves foram encaminhados ao Hospital Regional, em Caraguatatuba, cidade vizinha de São Sebastião.

"Temos atendido muita gente com diarreia e vômito, porque tiveram contato com a água. Depois de dois dias, os sintomas apareceram ainda mais", afirma o diretor.

No sábado à noite (18), o médico recebeu uma mensagem do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), mas "não deu muita bola", porque a cidade sofre com alagamentos em dias de chuva. No dia seguinte, Lambert lidava com vítimas com fratura exposta e outros quadros graves, como traumatismo cranioencefálico.

É uma situação difícil. Você vê o pai chegando para reconhecer a filha toda machucada, criança procurando sua família. É uma tristeza."

Lambert relata preocupação com os próximos dias. O governo estadual informou que há previsão de 30 milímetros de chuva ainda nesta quarta em São Sebastião. No fim de semana foram mais de 600 mm, o maior volume de chuvas já registrado no país, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres).