Roda de conversa e rede de apoio: como países coíbem violência em escolas
A resposta de outros países a ataques extremistas pode ajudar o Brasil a enfrentar a recente onda de ataques a escolas no Brasil. Projetos como o Exit, criado em 1997 na Noruega, e a criação de grupos norteados pela justiça restaurativa são exemplos de ações bem-sucedidas contra a violência.
O que tem dado resultados
Políticas relacionadas à justiça restaurativa têm surtido efeito em países europeus. Nesses casos, vítimas e autores de agressões discutem métodos de resolução de conflitos e ações para reparar danos.
O Exit, criado na Noruega em 1997, é um exemplo de projeto bem-sucedido para coibir ataques, segundo a cientista política e coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda. Ele foi inclusive citado como referência em um relatório do grupo de trabalho em Educação do governo de transição no Brasil.
Objetivos do Exit: estabelecer redes de apoio aos pais de crianças e adolescentes que integravam grupos de extrema-direita, desvincular jovens de grupos extremistas na internet e difundir conhecimento entre profissionais que trabalham com os adolescentes.
No programa, ex-neonazistas ou antigos membros de grupos violentos são responsáveis por elaborar programas de desvinculação de jovens de grupos extremistas em atividade.
Na Nova Zelândia, a então primeira-ministra Jacinda Ardern discursou após um homem matar 50 pessoas em duas mesquitas na cidade de Christchurch sem dizer o nome do autor do crime. Ela disse que ele não teria a notoriedade que desejava alcançar e criticou a difusão de imagens nas redes sociais.
No Canadá, o massacre em uma escola politécnica, que deixou 14 mortos e 14 feridos em 1989, abriu espaço para um amplo debate sobre o acesso às armas. Anos depois, os assassinatos foram classificados pela sociedade como um crime de ódio contra as mulheres - todas as vítimas fatais do crime.
Na Escócia, um ataque que matou 17 pessoas em uma escola em 1996 levou o Reino Unido a aprovar uma emenda à lei de posse de armas que baniu a posse privada de armamentos. Depois da mudança, incidentes com armas legalizadas se tornaram raros.
O que pode ser adaptado ao Brasil
Educadores acreditam que modelos de rodas de conversas, baseadas em justiça restaurativa, devem ser aplicados ao contexto nacional.
O primeiro passo é a criação de um programa intersetorial articulado, já que o problema é complexo e vai muito além de intervenção na área da educação ou em escolas.
Segundo Andressa, o governo brasileiro deve priorizar a construção de redes de apoio e convívio nas comunidades, o fortalecimento de profissionais, estabelecimento de investigações de inteligência que rastreiem lideranças e métodos de cooptação e a derrubada judicial desses grupos.
A cientista política afirma que o país precisa olhar para o passado ao pensar na criação e implementação de políticas contra a violência nas escolas.
O primeiro é observar a estrutura violenta sobre a qual a nossa sociedade foi fundada, da colonização e escravidão, passando por períodos autoritários na república recente, chegando ao processo de violência institucionalizada no governo federal sob [o ex-presidente Jair] Bolsonaro."
Andressa Pellanda, cientista política e educadora popular
Outros aspectos que devem ser observados, segundo ela, são a descriminalização do porte de armas e a militarização de escolas.
O caso dos Estados Unidos mostra como políticas de policiamento pesado, permissividade no uso de armas, e uso de aparatos de segurança pública em demasia não funcionam sem processos de transformação por meio da educação e de ações psicossociais .
Andressa Pellanda, cientista política e educadora popular
Educadores afirmam que escolas brasileiras vivem um contexto de precarização. Por isso, afirmam que é importante fortalecer vínculos com famílias e comunidades.
Discussões sobre masculinidades
No dia em que um adolescente invadiu a escola Thomazia Montoro, na cidade de São Paulo, a ONG Ação Educativa enviou ao Ministério da Educação alternativas às políticas de policiamento e militarização nas escolas.
Professora da Faculdade de Educação da USP e integrante da coordenação da articulação contra o ultraconservadorismo na Educativa, Denise Carreira afirma que é necessário retomar programas contra o racismo, discussões de gênero e diversidade sexual.
Esses casos têm manejado perspectivas de masculinidade autoritária, branca, violenta e supremacistas."
Denise Carreira, professora da Faculdade de Educação da USP
Segundo ela, em geral, quem comete esses atos de violência são meninos, jovens e brancos. Por isso, grupos para discutir masculinidades podem ajudar a enfrentar comportamentos agressivos que impulsionam os ataques.
Esses jovens são sequestrados por masculinidades tóxicas. São muitas possibilidades e jeitos de ser menino; vivemos uma crise da masculinidade hegemônica. Esses grupos de internet reforçam essa masculinidade tóxica."
Denise Carreira, professora da Faculdade de Educação da USP
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