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Além do tremor: moradores temem vulcão no Vale do Ribeira; ele existe?

O Morro do Votupoca, em Registro (SP) - Divulgação/Prefeitura de Registro
O Morro do Votupoca, em Registro (SP) Imagem: Divulgação/Prefeitura de Registro

Rafael Souza

Colaboração para o UOL, em São Luís (MA)

20/06/2023 04h00

No mesmo Vale do Ribeira em que foi registrado um terremoto de 4,7 graus na semana passada, moradores acreditam com convicção que existe um vulcão e que até pouco tempo atrás ele foi visto em atividade. Mas, afinal, o que os especialistas dizem sobre isso?

O "vulcão"

Os vulcões surgem pela interação entre placas tectônicas. No caso da formação que existe no Vale do Ribeira, o suposto vulcão tem até nome e estaria no morro Votupoca — levando seu nome —, no município de Registro (SP).

"Há muitas histórias sobre ele. É um vulcão e aqui todos temos essa consciência", afirma Gabriel Leite, mototaxista que mora a poucos quilômetros do Votupoca.

vulcão - Reprodução - Reprodução
Matéria de jornal fala sobre presença de vulcão supostamente ativo no século 19
Imagem: Reprodução

Com um tom sensacionalista, um antigo recorte do jornal "Diário da Noite", do dia 2 de abril de 1941, traz o testemunho de um homem que teria passado por lá no século 19 e presenciado o vulcão ainda ativo.

"No referido morro Votupoca bailava uma constante chama na crista, acompanhada de fumaça [...]. O morro é isolado, cônico, de feitio característico das elevações vulcânicas. O viajante declara que o então vigário local de Xiririca, padre Joaquim Gabriel da Silva, também verificara o fenômeno, assegurando mais ser o mesmo intermitente e que estava convicto da existência de um vulcão nas imediações", diz trecho de reportagem do jornal Diário da Noite.

A reportagem diz ainda que o nome do morro é de origem indígena e significa "morro que rebenta", ou "do qual brota fogo"

Especialista discorda

A localização do Brasil na crosta terrestre, no meio de uma placa tectônica, favorece a baixa ocorrência de tremores e vulcões. Terremotos geralmente são causados por colisões entre placas tectônicas. O mesmo vale para os vulcões, que, ao contrário dos terremotos, surgem da separação entre as placas.

"Estamos em uma grande placa tectônica, a Sul-Americana, e ela tem abalos sísmicos, mas são de pequena a média intensidade que não oferecem riscos às construções e investimentos humanos", explica o professor, pesquisador e geógrafo Luís Jorge Dias.

"Quanto à ocorrência de vulcões, embora tenhamos paisagens que se assemelham, podemos afirmar categoricamente que, nesse momento de sua história geológica, não temos nenhum vulcão ativo", adiciona Dias.

A Prefeitura de Registro também afirmou que não há nada oficial ou científico de que ali poderia ter algum vulcão adormecido

Apesar de não haver formações ativas na região, isso não quer dizer que nunca houve vulcões no Brasil.

"Todas as nossas ilhas marinhas, como Fernando de Noronha e outras, são arquipélagos oceânicos formados por antigos vulcões que estão inativos. Da mesma forma, no Maranhão e na Amazônia, por exemplo, tivemos ocorrências vulcânicas, mas na época dos dinossauros. Temos testemunho nos solos dessas áreas, de terra roxa, muito férteis, que foram formados pela decomposição das rochas formadas pelo manto que sai dos vulcões", conclui o pesquisador.