Investigador admite que xingou escrivã morta de piranha: 'Fora de contexto'
O investigador que trabalhava com a escrivã Rafaela Drumond, encontrada morta em junho, admitiu que é dele a voz ouvida em um vídeo em que a escrivã é chamada de "piranha". A informação é do advogado do policial, suspeito de incentivo ao suicídio, que informa, no entanto, que a gravação estaria "fora de contexto".
O que aconteceu:
A parte divulgada pela advogada e a família de Rafaela é apenas o que "interessa para uma caracterização de assédio sexual e moral, e, absurdamente, incentivo ao suicídio", afirmou ao UOL o advogado Marcelo Chaves, defensor do investigador Celso Trindade de Andrade.
Celso Trindade de Andrade e o delegado Itamar Claudio Netto são apontados pela família de Rafaela como os principais responsáveis pelos episódios de assédio denunciados pela escrivã semanas antes de sua morte. Em meio ao curso das investigações, eles foram transferidos de unidade duas vezes. Primeiro, foram alocados em Conselheiro Lafaiete e, no dia 12 deste mês, mudaram novamente de cidade: Celso foi para Congonhas, enquanto Itamar seguiu para Belo Vale.
A defesa acredita que as transferências do investigador não seriam punições, mas deslocamentos "pontuais" para evitar um "burburinho maior" no local onde ambos atuavam.
Chaves alega que o cliente começou a ser gravado por Rafaela no momento em que ele começa a xingá-la, já no final da discussão, mas "ninguém sabe o que aconteceu antes" do registro.
A discussão "acalorada" teria ocorrido após questões levantadas pela escrivã durante o fim do expediente na delegacia no fim de agosto de 2022. O advogado esclareceu que não poderia divulgar o teor da conversa em razão do sigilo das investigações. "Em pouco tempo, tudo virá à tona."
O defensor também criticou a advogada da família de Rafaela, Raquel Fernandes, por "trazer acusações" contra o cliente nas redes sociais, o que, segundo ele, iria contra a presunção de inocência, e defendeu que os "juízes da internet" podem trazer "consequências irreversíveis" ao cliente, afastado da função por 70 dias por problemas psicológicos.
A advogada Raquel Fernandes afirmou que não aceitará nenhuma "tentativa de relativização do ocorrido" e "muito menos que a imagem da Rafaela e tudo que ela passou seja desmerecido e desrespeitado".
A defensora da família da escrivã ainda "reafirmou o seu compromisso de luta diária pelo reconhecimento da mulher como ser de direitos, no fim das relações de opressão existentes na sociedade e no enfrentamento à violência, seja ela moral, psicológica ou sexual".
Essa foi até a motivação da defesa vir ao público. A advogada da família gosta muito de rede social, gosta muito de 'SuperPop', de ir à imprensa, e nós ficamos aguardando até agora, só que assim fica difícil.
Marcelo Chaves, advogado de Celso Trindade de Andrade
Reforçamos nosso total repúdio a qualquer tipo de arguição que tente justificar, de forma leviana, dentro ou fora de contexto, atos de coerção e violência psicológica em desfavor da Mulher, que no caso ainda se configura, de forma clara, como assédio moral e assédio sexual. Sempre que sofremos violência psicológica ou qualquer tipo de assédio, seja ele sexual ou moral, a resposta dos assediadores é sempre a mesma: somos loucas, queremos aparecer ou as palavras estavam fora de contexto.
Raquel Fernandes, advogada da família de Rafaela Drumond
Escrivã foi chamada de 'piranha' em vídeo
No vídeo, é possível ouvir um homem chamando Rafaela de "piranha", e a escrivã afirmando que vai denunciar o caso.
Ela diz que não vai "esquecer" do xingamento e ele rebate: "De tudo que eu falei, ela tá preocupada com piranha. É muita cabecinha fraca".
O homem diz ainda que, caso Rafaela fosse um homem, "uma hora dessa, eu ou você já tava com olho roxo". "Grava e leva no Ministério Público, na Corregedoria, leva para quem você quiser", responde o homem quando Rafaela ameaça denunciá-lo. Veja o vídeo abaixo.
Centro de Valorização da Vida
Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.
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