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'Chorei com o bandido. Só pensava na minha filha', diz mulher mantida refém

Mulher é feita refém em fuga de assalto a banco no Rio Imagem: Reprodução/SBT e Redes Sociais

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

18/09/2023 04h00

Sob a mira de uma arma e ameaçada de morte, Adriana Correia, 41, viveu a pior sensação de sua vida por cerca de 30 minutos, na última quarta-feira, no centro do Rio. Ela foi feita de refém dentro de seu trabalho, após bandidos invadirem o local.

O que aconteceu

Em entrevista ao UOL, Adriana conta que já foi assaltada três vezes, mas nada se compara ao que viveu no dia do sequestro. A mulher, que trabalha há mais de 10 anos numa fábrica e loja de resistência elétrica, lembra que estava voltando de seu horário de almoço com a amiga e ouviu um barulho no segundo andar, próximo de sua sala.

A situação aconteceu por volta das 14h e o que ela não sabia é que, a poucos metros do seu trabalho, havia acontecido um assalto a uma agência bancária.

O grupo armado invadiu o banco na rua de Santana, cerca de três comércios do local de trabalho de Adriana. Na fuga, o grupo se separou, e um dos homens entrou em uma loja e fez a mulher refém.

Começamos a ouvir uma gritaria no andar de cima. Achei que alguém tinha caído do telhado. Quando vimos pela janela, era um carro da polícia atravessado na rua. Os colegas que estavam em baixo, já tinham saído do local. Fomos em direção à escada, até que virei e vi um homem que eu não conhecia. Achei que fosse um dos pedreiros que estava fazendo a obra no telhado, mas aí ele segurou o meu braço e disse "fica comigo". Quando olhei para baixo, a ficha começou a cair. Adriana Correia

A partir desse momento, começou toda uma movimentação da polícia para fazer com que o criminoso não machucasse a mulher e se entregasse. Ela conta que a ficha demorou a cair até entender que aquilo não era um assalto, mas sim um sequestro.

Ele disse para eu não correr, porque se não ele me matava. E os policiais pediam o tempo todo para ele me deixar sair. Eu senti como se eu fosse morrer, tive um pressentimento de morte, só pensava na minha filha de 13 anos, que poderia ficar sozinha se acontecesse algo comigo. "Vou morrer, minha vida acabou", era só o que eu pensava. Tem vários casos de refém que nunca saem vivos. Eu confiava na polícia, mas tive muito medo. Tinha medo da negociação se estender e ele se irritar

"Chorei com o bandido"

Adriana conta que começou a semana com pensamentos de morte. Viu a propaganda de funerária no ônibus e lembrou de uma amiga que faleceu muito cedo. Dois dias depois, ela se viu na mira de um revólver.

No meio das negociações, o homem, que parecia ter mais de 50 anos e cheirava a bebida, decidiu entrar novamente para dentro da loja com a refém. Foi então que ele começou a chorar e Adriana, que já estava desesperada, chorou também.

"Ele começou a chorar e falou para mim: 'Você me faz um favor? Fala com a minha esposa. Diz a ela que se eu morrer, tudo o que fiz, foi por ela, para dar uma vida melhor. Anota aí, escreve um bilhete. Você promete que entrega a ela?'. Eu concordei, claro. Ele me disse que tinha filhos e que não queria nem estar lá, que não queria morrer. Foi então que comecei a acalmá-lo, disse que ele não seria morto. Ele disse para eu pedir a esposa dele para visitá-lo na cadeia. Ele chorava muito e eu também. Depois disso, ele disse que iria se entregar".

Quando o bandido disse que iria se entregar, Adriana voltou a ficar mais nervosa, com medo de haver trocas de tiro e ela se machucar. Foi então que o bandido avisou a polícia que só se entregaria se tivesse a imprensa no local.

Minha vida acabou agora, minha filha vai ficar sozinha, tinha tanta coisa ainda para fazer" Era só o que se passava na minha cabeça. Os policiais pediram para ele soltar a arma, mas ele disse que só iria se tivesse a imprensa e se parassem de apontar o fuzil para ele. Até que outro policial pediu para abaixarem as armas. Quando baixaram, vimos a imprensa. Foi então que ele colocou a arma no chão e me liberou

A negociação foi feita por policiais da Recom (Rondas Especiais de Controle de Multidões). Equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais chegaram a ser acionadas para negociar, mas o criminoso se entregou antes.

Três assaltantes foram presos, segundo a Polícia Militar. Eles foram acionados após receberem informações sobre um homem em uma motocicleta roubada em frente a uma agência bancária na rua de Santana. No local, as equipes observaram uma movimentação atípica no interior da agência, quando três homens saíram em fuga.

Um dos envolvidos foi detido pelos policiais da Recom e o outro foi interceptado por um policial civil que passava pelo local. O terceiro homem, que entrou em um comércio e fez uma mulher refém por alguns minutos, utilizando uma arma roubada de um dos vigilantes do banco, também foi detido.

É uma sensação de nascer de novo. Tive a minha vida de volta, um alívio tremendo. Não desejo isso para ninguém. Estou me recuperando, recebendo o carinho da minha família e segunda volto ao trabalho

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