'Estava feliz': especialistas contestam ataque de cão antes de PM atirar

Especialistas em comportamento canino consultados pelo UOL consideram improvável que o golden retriever Churros tenha atacado o policial militar da reserva Anderson Carlos Teixeira no último sábado (9), quando saltou na perna do PM em Guarapari (ES) - em seguida, Teixeira matou o animal com um tiro.

As fontes ouvidas fazem essa afirmação com base no padrão de comportamento da raça de Churros e por meio de imagens de câmera de segurança que mostram o animal de aproximando do atirador.

Teixeira alegou, em depoimento à Polícia Civil, ter baleado Churros para se defender.

Demarcação de território

Churros tinha três anos e era o xodó da família, que hoje está abalada com toda a situação.
Churros tinha três anos e era o xodó da família, que hoje está abalada com toda a situação. Imagem: Arquivo Pessoal

Membro da IACP (International Association of Canine Professional) e terapeuta canino, Roberto Meyer é diz que Churros não indicou comportamento agressivo ao se aproximar e saltar no atirador.

"Os cães, independentemente da raça, agem por instinto. Ao de pular na perna do policial, Churros está com o rabo levantado, uma indicação de domínio de território. Contudo, fica claro que o animal não estava agressivo e abordou o PM na tentativa de impor um limite territorial. A partir do que é possível observar, o cão tira espaço do cara, mas nesse momento ele não ataca", explica o especialista.

Segundo o vídeo e depoimento da tutora de Churros, que testemunhou o disparo, durante a ação, o animal salta no PM, que logo avança em direção a Churros. Nesse instante, segundo Mayer, o ato pode, sim, ter caracterizado uma ameaça ao cão. Vídeo ao qual o UOL teve acesso e exibiu ao especialista não mostra o momento do disparo.

"O cão faz leitura da sua energia. Se eu estiver com a intenção de bater no cão, ele saberá, pois é capaz de ler o ser humano muito facilmente Se você está chateado, estressado, o animal faz essa leitura muito bem", complementa Meyer.

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Como perceber ataque iminente

Questionamos o especialista sobre qual é a linguagem corporal de um cachorro pronto para atacar.

Roberto explica que, antes de avançar, o cão mantém a cabeça mais baixa, a boca fechada, as orelhas em pé e o rabo para cima, com o objetivo de impor respeito.

"Quando o cão pula no policial, ele está com o rabo pra cima, mas em nenhum momento ele impõe risco ao policial. Quando quer apenas brincar, por outro lado. o cão apresenta sinais como boca aberta, orelhas para trás e o rabo abanando no meio do corpo", explica.

'Churros estava feliz'

Veterinária Patricia Chaerki Igreja, especializada em cães da raça golden retriever
Veterinária Patricia Chaerki Igreja, especializada em cães da raça golden retriever Imagem: Arquivo pessoal
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A médica veterinária, criadora e especialista em golden retriever Patricia Chaerki Igreja também acredita que Churros não iria atacar o policial militar.

Segundo ela, considerando o comportamento da raça e o vídeo, a atitude de Churros demonstraria que ele só estava 'feliz'.

"No vídeo, o cão não demonstra estar em posição de ataque. Parece que ele realmente estava eufórico, feliz na rua, ia em uma pessoa e depois em outra, querendo apenas brincar", opina Chaerki.

Patricia pondera, ainda, que golden é uma raça dócil, inteligente e usada até mesmo em terapias e em hospitais, o que torna a probabilidade de um ataque muito menor.

"O fila brasileiro, por exemplo é um cachorro conhecido por não gostar de estranhos. Só que não presenciei nada do tipo envolvendo golden retrievers, já tive mais de 50 e criei mais de 200. Mas vale dizer que mesmo essa raça precisa ser socializada e educada, senão pode se tornar agressiva".

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