Mãe e filhas gêmeas morrem após parto no Ceará; família cita negligência
Do UOL, em São Paulo
18/10/2023 23h09Atualizada em 23/10/2023 08h32
Uma mulher de 26 anos e as filhas gêmeas morreram em Sobral, no interior do Ceará. O óbito das bebês foi constatado durante o parto, enquanto a mãe morreu horas depois. A Polícia Civil apura o caso após a família apontar possível negligência médica.
O que aconteceu:
A jovem Maria Madalena Veras estava grávida de 36 semanas e morreu na última segunda-feira (16).
A mulher foi internada na Santa Casa de Misericórdia de Sobral no dia 7 de outubro, com 34 semanas e cinco dias de gestação, após transferência de outro município. De acordo com a unidade de saúde, havia a suspeita que a gêmeas compartilhavam uma placenta e duas bolsas, sendo que uma das bebês mostrava sinais de crescimento abaixo do esperado para a idade gestacional.
A unidade de saúde informou que em casos como a da gestante, os médicos tentam fazer com que a gravidez chegue até as 36 semanas para evitar o parto prematuro. O hospital alega que Madalena foi internada "imediatamente" quando chegou à unidade hospitalar e submetida a diversos exames para saber da saúde das bebês.
Houve descolamento prematuro da placenta antes da realização da cesariana, que estava com data marcada. O caso "é imprevisível e pode ser perigoso", segundo a unidade.
O óbito das gêmeas foi constatado durante a cesariana, confirmou o hospital ao UOL. A unidade de saúde ressaltou que os batimentos cardíacos dos bebês estavam normais antes do início do parto.
Já a mãe morreu horas após o parto em razão da formação de coágulos sanguíneos decorrentes do descolamento da placenta, que é uma condição grave para as mães. Os coágulos sanguíneos podem "causar problemas respiratórios e choque obstrutivo", explicou o hospital.
"Após o ocorrido, tentamos entrar em contato com a família da paciente, imediatamente, mas não obtivemos sucesso. Só conseguimos localizá-los na manhã seguinte, quando fornecemos todas as informações necessárias", declarou a Santa Casa. No entanto, a família de Madalena contesta essa versão e disse que soube das mortes apenas por terceiros.
Internação anterior
Em nota, a prefeitura de Guaraciaba do Norte, onde a jovem vivia, informou que Madalena foi atendida no hospital do município no dia 3 de outubro com gravidez de "risco".
Após atendimento, a jovem foi transferida no mesmo dia, em condições clínicas estáveis, para o Hospital e Maternidade Madalena Nunes no município de Tianguá.
A unidade de saúde de Tianguá disse ao jornal O Povo que exames clínicos e de imagem mostraram que as bebês precisariam ser internadas em UTI (unidade de terapia intensiva) neonatal após o nascimento. A maternidade estaria, segundo a versão do hospital, com ocupação quase integral do espaço e havia apenas um leito disponível.
Em razão disso, foi solicitada a transferência de Madalena para a Santa Casa de Misericórdia de Sobral após três dias de internação em Tianguá. "Informamos que em nenhum momento a transferência da paciente foi preterida em relação a outras emergências, já que cada paciente necessita de uma assistência específica e as vagas são liberadas pelo Sistema de Regulação do Estado do Ceará de acordo com o perfil patológico e as respectivas vagas", esclareceu o hospital ao jornal.
Família aponta negligência; Polícia apura
Tiago Henrique, esposo de Madalena, disse à emissora Verdes Mares (afiliada da TV Globo) que o hospital de Sobral indicou que a jovem esperasse mais alguns dias para realizar o parto porque as bebês estavam bem.
Uma das médicas falou para a minha falecida mulher que ela não precisava ir para o regional [Hospital Regional Norte, em Sobral], que aqui era melhor e teria mais recurso para ela. A gente optou esperar, e ficamos dez dias esperando [para o parto] porque disse que as crianças estavam bem na barriga dela.
Tiago Henrique, esposo de Madalena
O marido da jovem ainda disse que não foi informado sobre as causas das mortes das filhas.
Já Janilo Sousa, cunhado de Madalena, disse que a jovem deveria ter feito a cesária no hospital de Tianguá, mas a unidade teria priorizado outros casos no lugar da jovem e solicitado a transferência para Sobral. "[Passaram-se] uns dez dias do prazo que o médico deu [para Madalena ter as crianças]", disse Janilo.
O cunhado da vítima ainda afirmou que o hospital teria jogado a placenta de Madalena no lixo após o parto.
Ao UOL, a Polícia Civil do Ceará informou que apura as circunstâncias da morte. "Um inquérito policial foi instaurado, nessa terça-feira (17), na Delegacia Regional de Sobral, unidade que realiza diligências e oitivas para elucidar o fato", informou a corporação.