Armas furtadas do Exército foram compradas por facção, diz secretário do RJ
Do UOL, em São Paulo
19/10/2023 20h29Atualizada em 19/10/2023 22h47
O novo secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Marcus Amim, afirmou que as oito armas furtadas de um quartel do Exército em São Paulo, encontradas hoje no Rio, foram compradas por uma facção criminosa do estado. A declaração foi feita à TV Globo na noite de hoje.
Ele não citou o nome, mas essa facção seria o CV (Comando Vermelho), segundo apurou o UOL com fontes.
O que aconteceu
A intenção do CV era utilizar o armamento na atual disputa de território com outras facções na zona oeste do Rio. Nesta quinta, foram recuperadas 8 das 21 armas roubadas do Arsenal de Guerra do Quartel em Barueri, em São Paulo.
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Os compradores já foram identificados e, agora, as autoridades tentam descobrir quem furtou e transportou as armas até o Rio de Janeiro, afirmou o secretário.
Parte desse armamento já tinha sido reservada para essa facção criminosa que está em um movimento de expansão na região da zona oeste, disputando com grupos paramilitares por territórios.
Marcus Amim, secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro
Apreensão ligada ao tráfico
Os policiais apreenderam os fuzis após receberem uma ligação informando a localização do armamento, que estaria dentro de um carro na Gardênia Azul, zona oeste do Rio. A comunidade é a mesma que passou a contar com a atuação do CV (Comando Vermelho) desde o começo deste ano após uma aliança entre o tráfico e a maior milícia carioca.
Após a denúncia, agentes foram ao local e apreenderam os fuzis, que estariam inoperantes devido a defeitos no seu funcionamento.
Fontes ouvidas pelo UOL ligadas ao caso acreditam que a ação partiu do próprio tráfico para brecar uma investigação mais aprofundada, que poderia atrapalhar as ações do crime organizado nas favelas do Rio.
A aliança do CV com a milícia deu início a uma sangrenta disputa dentro da própria milícia, responsável por mais de 50 mortes neste ano, incluindo os assassinatos por engano dos médicos baleados na Barra — os supostos envolvidos no ataque foram mortos pelo próprio tráfico.
O que diz o Exército em SP
Os armamentos recuperados no Rio de Janeiro foram quatro metralhadoras ponto 50 e outras quatro MAGs, confirmou o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste do Exército, em entrevista mais cedo.
Pelo menos três suspeitos de envolvimento no furto das armas foram identificados até agora. O número exato e os nomes não foram divulgados.
Houve troca de lacres e cadeados para esconder os desvios. "Essas armas ficam numa reserva de armamento, essa reserva é lacrada e é conferido diariamente esse lacre. O lacre foi substituído", afirmou o general Gama.
Relembre o caso
O sumiço das metralhadoras foi notado pelo Exército durante uma inspeção em 10 de outubro. Como a contagem desse armamento não é periódica — só ocorre por necessidade de manutenção ou transporte —, não foi possível saber quando o material despareceu.
De início, o Exército manteve 480 militares aquartelados na unidade. Agora, há 160. Com o avanço das investigações, 320 foram liberados na última terça-feira (17). Parentes desses militares passaram a ir ao quartel para levar comida e apoio.
O governo de São Paulo alertou para o risco de "consequências catastróficas". O secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, informou que a polícia ajudaria nas buscas pelo armamento.
A metralhadora .50, um dos armamentos que sumiram, é capaz de derrubar helicópteros e perfurar veículos blindados. Por essa razão, é usada em assaltos a carros-fortes e agências bancárias. A arma foi usada, por exemplo, no assassinato de Jorge Rafaat Toumani, um dos maiores traficantes do país, em 2016.