Policial armado que ameaçou jovem negro foi acusado de agressão contra mãe

O policial civil flagrado em vídeo apontando uma arma para um adolescente negro em frente à estação do metrô Carandiru, zona norte de São Paulo, já foi acusado de ter agredido a mãe em 2013, deixando hematomas no antebraço direito dela.

Tiros e ameaças

À época, a irmã do investigador Paulo Hyun Bae Kim o acusou ainda de ter atirado no apartamento da mãe deles. Ela afirmou que se escondeu no banheiro e que ele fugiu do local — o policial civil respondeu ao processo no Juizado de Violência Doméstica de São Paulo. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dele.

A Corregedoria da Polícia Civil encontrou vestígios de disparo de arma de fogo e um projétil na escada de emergência de acesso ao 12º andar. A irmã do investigador disse em depoimento que ele foi ao local, em outubro daquele ano, após uma discussão entre os dois.

O policial também foi acusado de ter feito ameaças por telefone contra a irmã e contra outras duas testemunhas que relataram o caso em uma delegacia. Na ocasião, a arma de Paulo Kim chegou a ser recolhida.

A irmã dele também encaminhou à Justiça um áudio no qual constavam as ameaças. "Agora, o bicho pegou para você e para [cita as outras duas testemunhas da agressão]." O material foi usado como prova para solicitar medida protetiva, impedindo que Paulo Kim se aproximasse dela.

Apesar dos relatos e das provas, o policial civil foi beneficiado por um habeas corpus. O caso foi revelado pelo Alma Preta e confirmado pelo UOL. O Movimento Negro UNEafro Brasil diz acompanhar o caso. O Tribunal de Justiça de São Paulo afirma que processos envolvendo violência doméstica tramitam em sigilo.

O policial está sendo investigado pela corregedoria por ter apontado a arma contra um jovem negro no domingo (12). A Ouvidoria das Polícias informou que vai sugerir o afastamento do investigador de suas atividades e que ele seja desarmado, "como medida de proteção da sociedade".

São agentes do Estado praticando crimes de abuso de autoridade, ameaça, lesão corporal e prevaricação. Eles precisam ser retirados de serviço e desarmados imediatamente.
Afonso de Oliveira, advogado e membro do Núcleo UNEafro de Educação em Direitos e Acesso à Justiça

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PM que se recusou a ajudar jovem negro foi premiada

Tamires Borges recebeu em março de 2021 a medalha do Mérito Comunitário pelo apoio prestado a um homem que ficou quatro dias sem comer no Terminal Rodoviário Tietê. "São atitudes como essa que enobrecem o bom nome da nossa gloriosa Polícia Militar do Estado de São Paulo", disse a corporação ao justificar a medalha.

A policial militar alegou estar de folga ao se recusar a ajudar o jovem negro. O vídeo divulgado pela Ponte Jornalismo mostra que, quando o jovem se aproxima em busca de proteção, ela chega a agredi-lo com um chute. O UOL não localizou os representantes legais da policial.

Ela está afastada dos serviços operacionais até a conclusão do inquérito militar. "A atitude [dos policiais] é considerada grave, uma vez que não condiz com os procedimentos operacionais e preceitos fundamentais da Instituição. Todo policial militar deve agir prontamente sempre que presenciar um crime, estando ou não em serviço", disse a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.

Entenda o caso

As imagens mostram que o homem é impedido de atirar pela esposa, que fica entre o jovem negro e ele. Duas crianças com o casal parecem assustadas e veem toda a cena.

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A pessoa que grava as imagens se aproxima de uma policial militar e avisa que o homem está armado. Ela faz um sinal de telefone com as mãos e diz: "Liga 190".

A pessoa que grava o vídeo volta a questionar a policial e eles discutem. Ele se identifica como profissional da imprensa e ela ameaça prendê-lo.

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