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Maceió: Velocidade reduz e área ao redor de mina afunda 1 cm por hora

Bruno Fernandes

Colaboração para o UOL, em Maceió

01/12/2023 13h54Atualizada em 02/12/2023 07h54

Os passeios de Osmar de Oliveira com seu cachorro agora acontecem em meio ao que restou da avenida Francisco de Menezes, em Maceió. Ele mora perto de um dos pontos de bloqueio da Braskem que foram instalados após o início do afundamento da região, ainda em 2018. O motoboy e os vizinhos estão preocupados.

O que aconteceu

A Defesa Civil de Maceió informou na tarde de hoje (1º) que a área ao redor da mina 18 da Braskem está afundando em uma velocidade de 1 cm por hora. No fim da manhã, o índice era de 2,6 cm/hora — e o deslocamento vertical acumulado, de 1,42 m. Em nota, o órgão afirmou estar em "alerta máximo".

Em entrevista ao UOL News, o geólogo Eduardo Bontempo, da Defesa Civil de Maceió, disse que os dados são atualizados em tempo real. "Posso afirmar que é um case único no mundo esses cinco bairros atingidos pela mineração", afirmou.

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A Braskem informou, em nota, que trabalha com dois cenários possíveis para resolver o problema. A empresa prevê uma "acomodação gradual até a estabilização" ou uma "possível acomodação abrupta" -- ou seja, um colapso.

Nesta semana, a Prefeitura de Maceió decretou emergência e a Justiça determinou que a Braskem realocasse famílias do bairro Bom Parto, que estavam em áreas consideradas de risco. Na quinta (30), foi emitido um aviso sobre a possibilidade de colapso às 6h de hoje — mas, até o início da tarde, nada aconteceu.

O "pior cenário" para um colapso projetado pela Defesa Civil de Alagoas indica uma cratera de 152 metros de raio. A Lagoa Mundaú deve ser atingida, de acordo com o órgão — porém nenhum efeito ecológico imediato será sentido se isso ocorrer e a área está isolada.

Osmar de Oliveira trabalha de motoboy desde 2018 — coincidentemente, quando iniciaram os tremores que levaram à evacuação de cinco bairros de Maceió. Ele acompanhou como morador e trabalhador que precisa usar a rota diariamente.

Osmar passeia com o cachorro em área próxima a mina que corre risco de desabar em Maceió Imagem: Bruno Fernandes/UOL

"Quando começaram essas coisas, o pessoal não acreditava muito e não se importava de passar por dentro dos bairros abandonados", diz o motoboy. "Agora, quando pego passageiro, tem alguns que pedem para não passar por aqui com medo de que aconteça algo."

A aposentada Marize de Souza mora mais longe da mina — mas também está alerta. Ela vive no bairro do Vergel do Lago, do outro lado da lagoa que margeia o bairro do Mutange.

Desde que começaram os avisos, ainda no começo da semana, está sendo complicado pregar o olho em casa. À noite, a gente tenta dar uns cochilos, mas não dura muito, parece até que a qualquer momento pode começar a desabar tudo.
Osmar de Oliveira, motoboy

Eu vi na TV e também no celular que esse lado aqui da lagoa não será prejudicado pelo que pode acontecer lá no Mutange, mas mesmo assim a gente fica apreensiva.
Marize de Souza, aposentada

A Defesa Civil de Alagoas orienta a população a ficar afastada das áreas isoladas e não compartilhar fake news. Em publicação nas redes sociais, o órgão reforçou as recomendações em caso de colapso da mina.

Como são as minas da Braskem

O sistema usado pela Braskem para explorar a mina é feito por um poço cavado, que injeta água para a camada de sal, gerando assim a salmoura. A solução então vai ser retirada dessas minas para a superfície — depois, elas são preenchidas com material líquido para dar estabilidade no solo. Em Maceió, esse processou durou de 1979 a 2019.

Entretanto, parte dessas minas teve vazamento do líquido ao longo desses mais de 40 anos de exploração — o que causou instabilidade no solo, gerando buracos como essa cavidade da mina 18. Ao todo são 35 minas na área urbana, que estão sendo preenchidas novamente.

Esse processo levou ao afundamento de solo em cinco bairros e ao deslocamento de quase 60 mil pessoas ao longo dos últimos cinco anos.

Ontem, a área de risco foi ampliada por determinação judicial, incluindo 1.700 lotes que agora exigem a retirada dos moradores. Cada lote abriga, no mínimo, uma residência.

A Braskem informou que "acompanha de forma ininterrupta os dados de monitoramento, que são compartilhados em tempo real com a Defesa Civil Municipal".

Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros Imagem: Divulgação/Defesa Civil de Maceio

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