Mapa do crime: estas facções estrangeiras brigam por controle na Amazônia

Os estados do Acre, Amazonas, Roraima e Maranhão têm a presença de facções estrangeiras, que disputam territórios da Amazônia Legal. Os grupos criminosos vêm de Venezuela, Bolívia, Colômbia e Peru. As informações são do estudo Cartografia da Violência na Amazônia, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Como são as facções

Essas facções estrangeiras são grupos criminosos organizados que brigam por territórios na Amazônia com o intuito de manter presença em locais estratégicos da rota do tráfico através dos rios amazônicos.

Ao menos sete agrupamentos ou facções estrangeiras foram identificadas: Tren de Aragua (Venezuela), Tren de Guayana (Venezuela), Sindicado do Crime (Venezuela), Clã-Chuquizuta (Peru), Comando de Las Fronteiras (Peru), dissidentes das Farc (Colômbia) e Grupos Bolivianos (Bolívia).

As regiões de conflito

Os grupos venezuelanos disputam território com facções brasileiras em Boa Vista, com população de mais de 410 mil moradores (veja o mapa abaixo). Com presença hegemônica do PCC (Primeiro Comando da Capital), o estado tem importância estratégica para o tráfico de drogas por fazer fronteira com a Venezuela e estar próximo da Colômbia.

Pacaraima (norte de RR, na fronteira com a Venezuela) é disputada por PCC, CV (Comando Vermelho) e pelo grupo venezuelano Trem de Aragua —gangue que surgiu em presídio da Venezuela—, segundo o relatório do Fórum. Conforme investigações do promotor de Justiça Felipe Hellu Macedo, outro grupo internacional atua no território, o Sindicato do Crime.

Há quatro grupos de ex-guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) concentrados no Amazonas. Eles estão na mira das autoridades colombianas, brasileiras e norte-americanas por suspeita de dominar uma rota pelo rio para negociar com PCC e CV, as duas principais facções brasileiras.

Mensagem vazada aponta que o CV tem a função de "recuperar rotas no Amazonas". São e-mails do Ministério Público da Colômbia, que indicam que os grupos estrangeiros cruzam a fronteira de barco pelo rio Vaupés e seguem pelo Rio Negro, no Amazonas.

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Já o PCC é citado como aliado de narcotraficantes no sul da Colômbia e disputa território com o CV, cita o documento.

O Clã-Chuquizuta atua em Tabatinga (AM), na fronteira com o país vizinho. O grupo é oriundo de Santa Rosa de Yavari (Peru), na zona da tríplice fronteira. O Comando de Las Fronteras, outra facção peruana, está presente na Colômbia e em Loreto (MA).

A facção Los Quispe-Palamino está na fronteira entre o Peru e o Acre. Também foram identificados grupos próximos aos rios Negro e Solimões, uma das principais rotas usadas pelo tráfico.

A pesquisa também identificou a presença de pequenos grupos bolivianos em Plácido de Castro (AC). O maior deles é o Clã Dourado, na fronteira entre Acre e Rondônia.

Esses dados fazem parte do "Narco Files: a nova ordem do crime", investigação jornalística transfronteiriça da qual o UOL fez parte. O projeto foi liderado pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) em parceria com o Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP).

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O que dizem os pesquisadores

Diante da dificuldade de levar a droga para os Estados Unidos ou países da Europa, as facções de outros países entraram na Amazônia para negociar com o mercado brasileiro. Esse avanço também está relacionado à presença de locais estratégicos da rota do tráfico. Entre esses grupos, há ex-guerrilheiros colombianos das Farc, peruanos, venezuelanos e bolivianos.
Aiala Couto, pesquisador Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Os ex-guerrilheiros das Farc usam lanchas frequentemente para traficar drogas da Colômbia pelo Rio Negro. Esses grupos também costumam extorquir garimpeiros no Brasil.
Bram Ebus, coordenador de Investigação de Amazon Underworld e consultor do International Crisis Group

Venezuelanos atuam no tráfico em área onde há a presença do PCC em Boa Vista (RR)
Venezuelanos atuam no tráfico em área onde há a presença do PCC em Boa Vista (RR) Imagem: Arquivo pessoal/Rodrigo Chagas

*Com informações de reportagem publicada em 01/12/2023

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