Conteúdo publicado há 7 meses

Maceió: Ninguém consegue dormir, diz morador de área próxima a mina

Moradores de bairros próximos à mina 18 da Braskem, em Maceió, dizem que não dormiram nas últimas noites e estão com medo de perder suas casas.

O que aconteceu

A comerciante Abilene Lourenço Costa, 59, moradora da comunidade dos Flexais, localizada em Bebedouro, bairro vizinho ao Mutange, relatou que está sem dormir e teme pela sua segurança e de sua família. O local onde ela mora não tem ordem de evacuação, mas a orientação da Defesa Civil de Maceió é que as famílias que não se sentirem seguras fiquem abrigadas em escolas municipais.

Estou sem dormir há uns três dias, a gente dorme de porta aberta. Maceió era para estar de luto, nem pensar no Natal, Maceió chora. Eu nasci e me criei aqui, criei cinco filhos aqui. O risco não diminuiu nada. Isso são as festas chegando, eles não querem perder a parte hoteleira, e nós moradores estamos aqui, ilhados, sofrendo, com depressão.
Abilene Lourenço Costa, 59

 Valdemir Alves dos Santos, 51, comerciante, mora em área próxima à mina que corre risco de colapso em Maceió
Valdemir Alves dos Santos, 51, comerciante, mora em área próxima à mina que corre risco de colapso em Maceió Imagem: Jean Albuquerque/UOL

O comerciante Valdemir Alves dos Santos, 51, se queixa que o movimento no comércio caiu. Ele vive no Flexal de Cima há 30 anos, tem um carro de churros e vende cosméticos.

Quem consegue viver em paz numa situação dessa? Ninguém consegue nem dormir, nem comer bem. Eu estou com cinco dias que não estou dormindo bem. Eu tenho dois comércios que estão falidos financeiramente. [...] Não tenho mais clientes e hoje estou vivendo de auxílio financeiro.
Valdemir Alves dos Santos, 51

A também comerciante e moradora dos Flexais Silvia Rosana de Sousa, 46, preparou uma pasta com todos os documentos, que leva no carro quando sai de casa. Ela reclama da diminuição das vendas de um pequeno negócio que mantém em casa. "A gente fica nessa expectativa, se [o desabamento] vai acontecer ou se não vai acontecer".

O integrante da Coordenação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, Maurício Sarmento, 45, conta que toda noite vai dormir na casa da irmã, em um bairro mais afastado da área de risco. Ele, que nasceu e se criou na região, volta para a comunidade durante o dia.

A Braskem informou, por nota, que "a região dos Flexais é constantemente monitorada" e que estudos técnicos não apontam a necessidade de desocupação.

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Por outro lado, continua a Braskem, Flexais vive "uma condição de ilhamento socioeconômico", de acordo com estudos, "após a desocupação de parte dos imóveis localizados nos bairros vizinhos".

"Para reverter a situação, (...) a Braskem está implementando 23 medidas socioeconômicas", diz a nota.

A reportagem procurou as Defesas Civil municipal e estadual. Caso haja manifestação, será incluída no texto.

Abilene Lourenço Costa, 59, moradora de Maceió, diz que as vendas caíram
Abilene Lourenço Costa, 59, moradora de Maceió, diz que as vendas caíram Imagem: Jean Albuquerque/UOL

Redução na velocidade de afundamento

A Defesa Civil municipal afirmou que a velocidade de deslocamento do solo na região da mina 18 da Braskem caiu para 0,3 centímetros por hora, segundo boletim divulgado no domingo (3) às 17h.

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O solo já cedeu 1,7 metro desde 28 de novembro deste ano.

No sábado, a velocidade do deslocamento do solo era de 0,7 centímetros por hora. Na sexta (1º), 2,6 cm/h — no momento mais crítico chegou a 5 cm/hora, segundo o prefeito de Maceió João Henrique Caldas (PL).

A redução da velocidade de afundamento do solo na região não significa, porém, estabilização da área, disse Caldas em entrevista.

A Defesa Civil de Maceió permanece em alerta máximo — devido ao risco iminente de colapso. A recomendação é que a população não transite nas áreas que foram desocupadas. Já as praias e serviços turísticos seguem "sem qualquer tipo de risco ambiental", segundo informou a prefeitura em nota.

Igreja evacuada

A Igreja Batista do Pinheiro, também na região próxima à mina 18, foi evacuada no domingo. O templo fica em uma área classificada pela Defesa Civil municipal como "zona de fraturamento e processos erosivos".

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O local já deveria ter sido desocupado. A remoção foi determinada judicialmente, com autorização para uso da força policial em caso de resistência.

Entenda o caso

O afundamento do solo acontece em área onde houve extração de sal-gema, um cloreto de sódio que é utilizado para produzir soda cáustica e PVC.

A Braskem possui 35 minas na região. A exploração de sal-gema na área começou na década de 1970 e foi encerrada em 2019.

A capital alagoana decretou estado de emergência. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), permitiu que a Prefeitura de Maceió faça um empréstimo de US$ 40 milhões.

A Braskem nunca assumiu oficialmente a responsabilidade pelo afundamento de cinco bairros em Maceió, segundo o Ministério Público Estadual. Até agora, mais de 15 mil imóveis foram desocupados — expulsando 60 mil moradores de suas casas.

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A empresa já afirmou que sua prioridade é a "segurança das pessoas". "Por isso, vem adotando todas as medidas necessárias para mitigar, compensar ou reparar impactos decorrentes da desocupação de imóveis nos bairros de Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol", diz texto enviado à reportagem.

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