'Anjo caído': como o capitão Adriano da Nobrega trocou o Bope pela milícia
Colaboração para o UOL, em São Paulo
06/12/2023 04h00Atualizada em 06/12/2023 07h41
O miliciano Adriano da Nobrega, morto em 2020, teve seu nome ligado à morte da vereadora Marielle Franco e a alguns bicheiros do Rio de Janeiro. O que poucos sabem é que antes de passar para o lado do crime, ele foi aluno número 1 do Bope. Quem relata isso é Rodrigo Pimentel, instrutor do capitão Adriano na Academia da Polícia.
Pimentel — autor do livro "Elite da Tropa", com o tenente Batista, e inspiração para o consagrado filme "Tropa de Elite"—, falou sobre capitão Adriano no documentário "Vale o Escrito".
Segundo relato do instrutor, Adriano se tornou um Caveira após ser primeiro colocado com desempenho de destaque nas 14 disciplinas do Bope. O problema dele com o grupo de operações especiais veio depois.
"O Bope segue cartilha de procedimentos, mas o Adriano não seguia. Chegava ao exagero de realizar operações usando seu carro particular", falou.
"Tirava farda, colocava roupa à paisana e atacava as bocas de fumo. Conseguia matar bandido, prender, arrecadar fuzil. Era visto como muita coragem, mas também como situação quase de suicídio. Pouco a pouco, a presença no Bope foi ficando incompatível, em função da técnica, de trabalhar na própria vontade. Então, ele foi afastado do Bope", adicionou Pimentel.
O ex-policial e ex-assessor de Flavio Bolsonaro, Fabricio Queiroz, também falou sobre Adriano na série. Os dois também chegaram a trabalhar juntos na PM, após a saída do capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais.
Segundo Queiroz, Adriano era um exímio atirador e, por isso, deu aulas de tiro para Flavio Bolsonaro.
Conforme relatado no documentário, Adriano ficou revoltado após ser condenado por comandar uma guarnição na morte de uma pessoa e abandonou a corporação.
"A gente chama de anjo caído, quando inverte a sua matriz de valores e passa para o lado do mal", afirmou Paulo Storani, ex-capitão Bope, no documentário.
Adriano foi morto em uma operação conjunta das polícias da Bahia e do Rio de Janeiro na cidade baiana de Esplanada, em fevereiro de 2020.