Josmar Jozino

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Reportagem

Pai de estudante morto por PM escreve carta emocionante e clama por justiça

Júlio César Acosta Navarro, professor da Faculdade de Medicina da USP, pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, assassinado por um PM na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, em 20 de novembro de 2024, escreveu uma carta à sociedade sobre o filho "morto pelo Estado de São Paulo".

Marco era estudante de medicina na Universidade Anhembi Morumbi e foi baleado por um policial militar à queima-roupa, em um hotel, após ter dado um tapa no retrovisor da viatura da corporação. Ele correu, foi perseguido e acabou atingido por um disparo fatal.

Os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado foram afastados de suas funções após o episódio. Câmeras de segurança do hotel registraram a ação. Os PMs alegaram que o estudante estava alterado e agressivo.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo "ressalta seu compromisso com a legalidade, transparência e respeito aos direitos humanos fundamentais. A pasta não compactua com excessos ou desvios de conduta, punindo exemplarmente aqueles que infringem a lei e desobedecem aos protocolos estabelecidos pelas forças de segurança".

Leia abaixo a íntegra da carta do pai que perdeu o filho na ação policial:

Carta para o cidadão escrita pelo pai do estudante de medicina Marco Aurélio, assassinado pelo Estado de São Paulo: dia 47, calendário ano zero

Prezado cidadão, trabalhador, pai de família, intelectual permita-me ouvir as minhas palavras de angustia e desespero.

Na minha luta dolorosa pela "justiça dos homens" pelo assassinato do meu filho "Maicosillo" há 47 dias quando o mundo ruiu para mim, recebi a solidariedade e a força de muita gente compassiva, onde ressalto a figura do Sr. Claudio Oliveira, ex-ouvidor da Polícia, demitido traiçoeira e absurdamente como prêmio a seu corajoso trabalho; também do Sr. Presidente da República Luiz Ignácio (sic) Lula da Silva, que teve a sensibilidade e temperança de assinar o Decreto contra o uso abusivo das armas por parte da polícia; assim como dos jornalistas que no ápice de sua ética e profissionalismo mostraram a realidade e não calaram das barbáries que podem se repetir no amanhã.

Também pude assistir a reação imediata contra o Decreto Presidencial, um freio contra a violência policial que assola o Brasil, de vários governadores de estado como os de Goiás, Rio de Janeiro, Brasília, Minas Gerais, Paraná e ainda São Paulo. Resposta insensível, irracional e troglodita manifestado em um texto argumentando as razões em contra, com um pobre embasamento que qualquer estudante de colegial redigiria melhor em um final de semana. Sobre a Nota Conjunta destes governadores, na minha trajetória de professor e orientador de trabalhos acadêmicos, nunca vi uma asneira como essa.

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Com muita dor pela lembrança do sofrimento do meu filho e muita raiva pela cretinice dos mecanismos do Estado operando, revisei linha por linha o relatório da Policia Civil sobre o assassinato cruel do meu filho Marco Aurélio pelos Policiais Militares covardes Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado, ambos ainda andando soltos, recebendo seus salários e festejando as festas natalinas com uma cervejinha do lado, bem protegidos pelo Comandante da PM Cassio Araújo de Freitas e pelo Secretario da InSegurança Pública Guilherme Derrite, matador confesso orgulhosamente.

A primeira delegada da Polícia Civil, que vendo às imagens do hotel a gravidade do crime, irresponsavelmente não considerou o crime hediondo como homicídio qualificado nem mandou prender em flagrante aos assassinos. O que levou a isso a essa delegada?... Ignorância, imperícia, medo ou maldade pura? O boletim da Policia Militar e sua versão demonstradamente falsa tentando desfigurar a imagem do meu filho, desde o início e sendo repetida em um esquema claramente aprendido com muito 'tecnicismo' nas academias da Polícia Militar. Na maior evidencia de cumplicidade e proteção aos criminosos na Policia Civil, para retardar o processo de investigação, foram indicados sequencialmente não 3 ou 4 delgados em menos de 30 dias, foram oito delegados da Polícia Civil. Um deles, o sétimo Delegado da Polícia Civil, apenas assumindo o caso e ciente da notoriedade e sofrimento de famílias, imediatamente informou no dia seguinte que entrava de férias ate o final de ano e ainda recomendou que o inquérito dos assassinos da Polícia Militar somente seja tomado após o retorno dele. Um verdadeiro circo. Sófocles e Aristófanes morreriam de inveja da criatividade das tragicomédias dos Delegados da Policia Civil!

Demora vergonhosa das investigações pela Polícia Civil apesar da preocupação pública da sociedade e meios de comunicação, que resulta e promove mais crimes como aquele trabalhador lançado da ponte, o outro baleado com dez tiros pelas costas, os chutados na cabeça sem misericórdia, o inocente baleado por filmar com celular a violência policial de vários outros Policiais Militares. Nossa Tarcísio, você falava sério quando desafiou ao mundo que podiam chamar a "a ONU, a Liga da Justiça ou ao raio que o parta". Quem vai parar a Polícia Militar de Tarcísio e o bufão Derrite? A turma de Marvel, os Justiceiros & Vigilantes, o Papa e os Anjos o uma Revolução à Francesa?

Que pena de essas pobres famílias que há muitos anos tem sido humilhadas, burladas e pisoteadas nos seus direitos após de sofrer as maiores violências pela Polícia Militar e das quais a minha família se juntou com lágrimas e sangue por um desígnio que Deus quis e do qual não sei se um dia entenderei. São Paulo não vai a caminho de ser um estado policial, ele já é um estado policial. Aqui quem manda é quem porta a arma mais potente em nome do Estado.

Pelo amor de Deus, me deixem chorar em paz a saudades do meu filho... Que mundo bizarro é esse que foi construído onde o inocente pobre é morto injustamente e tratado como um criminoso e os assassinos dele pagos pelo Estado são defendidos como heróis? Que o sacrifício do meu filho mais querido, o "Maicosillo", sirva para evitar a dor e as lágrimas das famílias de outros filhos como um dia ele ainda adolescente uma vez sonhou.

Dr. Julio Cesar Acosta Navarro, PhD Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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