Trump não convidar Lula é o novo penduricalho da extrema direita brasileira
O dia da posse de Donald Trump se aproxima, será em 20 de janeiro, e o universo bolsonarista tenta transformar o fato de Lula não estar na lista de convidados do presidente eleito americano em algo realmente relevante.
É mais um daqueles casos típicos em que tentam tensionar uma discussão sem sentido ao extremo, com a esperança de que o debate em si, e a repercussão e cortes nas redes sociais, deem a ideia de que se trata de algo sério.
Donald Trump será o primeiro presidente na história dos Estados Unidos a espalhar convites, mundo afora, para chefes de Estado acompanharem sua posse.
Como o colunista Josias de Souza disse em sua coluna logo após a vitória de Trump, em novembro passado, não faz parte do protocolo americano que as nações sejam representadas por seus chefes de estado neste tipo de evento.
Durante a posse de Obama em 2009, por exemplo, o Departamento de Estado divulgou um memorando às embaixadas presentes no país dizendo que "como no passado, delegações estrangeiras não serão convidadas para Washington para esta ocasião".
Portanto, Lula não irá à posse de Trump, como nenhum outro presidente no mundo, de direita, esquerda ou centro, foi à posse de Obama, George W. Bush, Bill Clinton, Ronald Reagan, ou quem quer que tenha sido o presidente.
É dispensável dizer que Trump está montando uma lista de convidados selecionados não apenas por diplomacia, mas por alinhamento ideológico.
Não vou fazer juízo de valor deste alinhamento. Trump apenas fez sua escolha política.
Mas tão importante quanto tornar o "não-convite" de Trump a Lula um problema, é observar o grau de mediocridade por detrás da ideia de transformar este convite em algo relevante para o Brasil.
No mundo político fantástico bolsonarista, vigora a ideia de uma simetria de relações entre o governo Trump e a extrema direita brasileira. Uma simetria e uma "amizade" que nunca existiu antes. Não existirá agora.
Convites a líderes como a italiana Giorgia Meloni, da Itália, Viktor Orbán, da Hungria ou o poderoso Xi Jinping, da China, são feitos não por bajulação à Trump, mas pelo poder real que exercem na geopolítica do mundo hoje.
Mesmo convites a figuras que não são chefes de Estado, como a francesa Marine Le Pen, ou o italiano Matteo Salvini, podem estar lá pelo papel que exercem na extrema direita global.
Os convites aos líderes latinos, até agora, atendem muito mais ao fetiche destes políticos pela atenção de Trump do que ao reconhecimento de poderes e interesses que eles de fato representam.
O El Salvadorenho Bukele é convidado, à despeito dos diversos comentários xenófobos de Trump contra seu próprio povo, à despeito de Trump ter ordenado a deportação de 200 mil salvadorenhos em 2018.
O argentino Javier Milei parece ter entrado na lista após pisar em Mar-a-Lago, o resort de Trump, para uma conferência, onde teceu todos os elogios bajuladores ao presidente eleito americano e aos Estados Unidos. Isso inclui sua dancinha um tanto patética, que imitava a dancinha de Trump.
E o ex-presidente Jair Bolsonaro, com seu eterno amor não correspondido, que espera, após tanto reverenciar Trump e fazer declarações públicas de amor, que este convite constranja as autoridades brasileiras para devolver seu passaporte e lhe dê alguma relevância internacional.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.