Como briga política atrapalha resposta ao desastre ambiental em Maceió
Bruno Fernandes
Colaboração para o UOL, em Maceió
11/12/2023 12h18
Paulo Dantas (MDB), governador de Alagoas, e João Henrique Caldas (PL), prefeito de Maceió, ainda não se encontraram pessoalmente desde o dia 29 de novembro, quando foi anunciado o risco iminente de colapso de uma mina da Braskem.
O que aconteceu
A rivalidade do prefeito e do governador remonta a seus padrinhos, que são inimigos políticos. JHC é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Já Dantas é do grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Prefeitura e governo do estado também criaram seus próprios comitês de emergência para gerenciar a situação causada pela mina 18, que se rompeu ontem. Não existe um órgão unindo as duas esferas para gerenciar a crise.
Relacionadas
Conversas foram à distância. Os gestores e rivais locais chegaram a se falar por telefone na noite de ontem, poucas horas após o rompimento da mina 18, mas divergiram sobre a necessidade de uma reunião presencial.
Encontro entre autoridades desmarcado. JHC chegou a convocar uma reunião para ontem mesmo, mas o governo estadual marcou para hoje. No início da manhã, o prefeito anunciou, no entanto, uma viagem à Brasília para se encontrar com Arthur Lira para justificar sua ausência. Caldas enviou representantes para o encontro.
Alckmin só se encontrou com um deles. O governador se reuniu no dia 5 com o então presidente em exercício, Geraldo Alckmin, para discutir formas de combater a crise. No mesmo dia, estava prevista uma reunião entre Alckmin e JHC, porém, o prefeito não foi ao compromisso. Lira é quem tem intermediado o contato entre o município e o governo federal.
JHC é aliado de Bolsonaro. Com apoio massivo de políticos bolsonaristas, como o caso do deputado federal recém-eleito Alfredo Gaspar, o prefeito não citou Lula em nenhum momento durante a crise recente e se apega a Lira e a bancada de direita do estado
Hoje, Dantas anunciou que vai desapropriar a área de cinco bairros de Maceió afetados pela mineração da Braskem, que hoje pertence à empresa. O objetivo é transformar a região que compreende aproximadamente 3km² em um parque ambiental.
Informações divergentes
A falta de cooperação entre órgãos estaduais e municipais gerou informações desencontradas e informes contraditórios sobre o mesmo assunto. Na última semana, enquanto a Defesa Civil Estadual informava que o risco de colapso havia sido descartado, a prefeitura negava a informação.
Em meio à crise entre poderes, Braskem não se responsabiliza. Embora ainda não tenha sido responsabilizada judicialmente pelo afundamento do solo nas áreas de extração do sal-gema em Maceió, a Braskem paga compensações financeiras a moradores e ao poder público desde 2018. A ação de responsabilização tramita na Justiça Federal em segredo de Justiça.
Até agora, a Braskem pagou R$ 9,2 bilhões por danos causados pelas 35 minas de sal-gema localizadas na capital alagoana. Ao todo, a empresa reservou R$ 14,4 bilhões para ações relativas a esse problema — o valor pode ser destinado a indenizações e medidas socioambientais e econômicas.
As fotos do "antes":
As fotos do "depois":