Mina da Braskem tem rompimento em Maceió; prefeito descarta novos abalos

A Defesa Civil de Maceió afirmou que a mina 18 da Braskem, no bairro do Mutange, sofreu um rompimento hoje.

O que aconteceu

O rompimento ocorreu às 13h15 deste domingo e foi percebido em um trecho da lagoa Mundaú, segundo imagens divulgadas pelas autoridades. Com o rompimento, a água da lagoa está entrando na mina.

Outro movimento foi identificado às 13h45 após sensores apontarem tremores no solo, informou a Braskem. A empresa nomeou o ocorrido como "movimento atípico de água na lagoa Mundaú" e disse acompanhar a situação.

O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), descartou novos abalos e disse que a dimensão dos danos ambientais ainda não pode ser medida. O encontro entre JHC e Paulo Dantas (MDB), governador de Alagoas, ficou para amanhã.

Na tarde do domingo, ao sobrevoar a região, o prefeito mostrou impactos na lagoa: "Perspectiva de que esse diâmetro seja de 60 metros. Há um fluxo de lama que chega nessa parte, há uma tendência de estabilização. Os danos ambientais só podem ser medidos após o evento", disse.

O rompimento foi concentrado, local. Sobrevoamos e vimos uma movimentação, um fluxo de lama, naquela região da mina 18, na região do Mutange. As pessoas de outras áreas podem ficar tranquilas. Não há nenhum estudo que aponte outro colapso dessa magnitude.
JHC durante coletiva para tratar da mina 18 da Braskem

Tendência é de "acomodação", diz coordenador da Defesa Civil

O coordenador da Defesa Civil de Alagoas disse que a tendência é de acomodação da mina. O coronel Moisés Melo afirmou que "a mina chegou à superfície em uma proporção 100 vezes menor do que o anunciado originalmente".

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Houve tremor no subsolo da lagoa, mas por enquanto podemos dizer que esse é o colapso que estávamos esperando, nada parecido com o estádio do Maracanã como estavam divulgando.

Também não há indícios iniciais de que o rompimento tenha afetado outras minas, explicou Melo.

O rompimento dessa mina aconteceu bem na superfície, ainda não tenho a profundidade exata porque estou pegando os detalhes agora, mas tudo indica que não afetou em nada as demais, que estão há pelo menos 1km de distância de profundidade. Vamos agora sentar, analisar os estragos, e esperar o processo se estabilizar nas próximas horas.

O primeiro rompimento ocorreu a menos de 100 metros da margem da lagoa. Nas imagens, é possível ver bolhas se formando na superfície da água após o rompimento.

O solo na área da mina afundou 12,5 cm nas últimas 24h; no total, queda é de 2,35 metros.

A mina estava afundando cerca de meio centímetro por hora na manhã deste domingo, segundo as autoridades. A velocidade é a mesma de ontem, mas é maior do que na sexta-feira (8), quando era de cerca de 0,2 cm por hora.

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O MPF afirmou que vai pedir para a Braskem tomar as providências caso haja risco de "sinkhole" —ou seja, desmoronamento total da mina. O órgão diz estar monitoramento a situação.

Em decorrência dos últimos eventos sobre a Mina 18, o Ministério Público Federal informa que, entre outras medidas, exigirá o cumprimento das cláusulas dos acordos que obrigam a Braskem a adotar providências específicas em caso de sinkhole, como é o caso da contratação de empresa especializada para realizar um diagnóstico ambiental e respectivo plano ambiental para mitigar, compensar ou reparar eventuais danos ambientais provocados pelo evento (cláusula 41 do acordo socioambiental).
Nota do MPF

No momento, técnicos da Defesa Civil estão monitorando o local em busca de mais informações. A Defesa Civil ressalta que a mina e todo o seu entorno estão desocupados e não há qualquer risco para as pessoas.
Nota da Defesa Civil de Maceió

Às 13h15 deste domingo, câmeras que monitoram o entorno da cavidade 18 registraram movimento atípico de água na lagoa Mundaú, no trecho sobre esta cavidade. Toda a área, que vem sendo monitorada nos últimos dias, já estava isolada.
Movimento semelhante ocorreu por volta das 13h45. O sistema de monitoramento de solo captou a movimentação por meio de DGPS instalados na região. As autoridades foram imediatamente comunicadas, e a Braskem segue colaborando com elas.

Nota da Braskem

Mina da Braskem em Maceió começa a submergir após rompimento
Mina da Braskem em Maceió começa a submergir após rompimento Imagem: Divulgação/Secom

"Início do processo de colapso", diz geóloga

O rompimento identificado não significa o colapso da mina, mas sim o começo do processo, afirmou ao UOL a engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas.

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Um desabamento total poderia abrir uma cratera com 300 metros de diâmetro na capital do estado, estimou a Defesa Civil. A população foi orientada a não transitar pela região.

Ainda não é o colapso, mas esse rompimento é o início do processo. Para que o colapso aconteça de fato toda a circunferência deve ceder, algo que ainda não aconteceu, mas agora é preciso ficar em alerta.
Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas

Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros
Defesa Civil de Maceió divulgou atualização do mapa de risco do afundamento dos bairros Imagem: Divulgação/Defesa Civil de Maceio

Danos ambientais serão dimensionados em meses

O possível desabamento da mina de sal-gema resultaria no vazamento de salmoura na lagoa Mundaú.

Com 60% da área da mina abaixo na lagoa Mundaú, que tem 24 km de extensão, o vazamento deve causar impactos ambientais que só serão dimensionados após meses de estudo, avalia o engenheiro ambiental Alder Flores. Os piores resultados não devem aparecer de imediato.

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A engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas, alerta para o desequilíbrio no ecossistema da região. "Quando rompemos esse equilíbrio ecológico, quebramos a cadeia alimentar", explica.

A professora cita ainda que é impossível prever o tempo para recuperação da lagoa e para o meio ambiente no entorno — ainda que a dissolução do sal deva ser rápida. "A natureza trabalha no seu tempo."

Entenda crise em Maceió

Décadas de exploração da Braskem do solo embaixo da capital alagoana deixaram o terreno instável. Pesquisadores alertam sobre o risco de desabamento desde 2010.

A empresa encerrou a extração em 2019 e começou a fechar as minas. Porém, ainda há minas que não foram preenchidas. Em nota, a empresa diz que toma "todas as medidas necessárias para mitigar, compensar ou reparar impactos" nos bairros sob risco.

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