Delegado diz que versão de PM que matou promotor de vendas é inverossímil
Do UOL, em Brasília
02/01/2024 18h25
O delegado titular da 15ª DP (Ceilândia), André Leite, afirmou ao UOL que é "inverossímil" a alegação do policial militar que matou um promotor de vendas no Distrito Federal. O suspeito disse que teria havido uma discussão em um quiosque de lanches antes de os tiros serem efetuados.
O que aconteceu
No domingo (31), o cabo da PM Bruno Corrêa atirou na cabeça e no braço do promotor de vendas Cledson de Caldas, 44, pai de uma menina de 11 anos. Eles estavam em um semáforo em Ceilânida, na avenida Hélio Prates.
O policial disse que Caldas chegou até o vidro de seu carro e o ameaçou de morte. Também afirmou à Polícia Civil que eles tiveram um desentendimento antes em um bar ou quiosque nas proximidades.
Porém, o delegado afirmou que essa versão é "bem inverossímil" e "bem quadrada".
Já deu pra ver que essa história aí, essa versão apresentada pelo policial militar, é bem inverossímil. Essa história dele aí está bem quadrada.
André Leite, delegado da 15ª DP
O delegado duvida que tenha havido uma "briga de bar". Para ele, foi uma discussão no trânsito.
Leite comentou que Corrêa disse em depoimento que saiu de um bar e foi lanchar num quiosque de cachorro quente. A versão é que Cledson Caldas estava bêbado e "doidão" no local. Corrêa e os três acompanhantes (a mulher e um casal de amigos) teriam mandado ele embora do lugar para não incomodar os clientes. Caldas teria ido para casa.
Aí, surpreendentemente, eles também resolveram: 'Não, não vamos mais ficar aqui, não'. E aí, quando pararam no semáforo, foram surpreendidos pelo Cledson [Caldas]. Essa é a versão deles.
André Leite
"Nós não estamos convencidos", afirmou Leite. "Está me parecendo que foi briga de trânsito. Não sei exatamente. Vamos ver durante a semana." A investigação busca imagens e testemunhas. "Vamos localizar todas as câmeras. Tem mais gente para ser ouvida."
A câmera do cruzamento da avenida Hélio Prates estava "inativa". Leite vai informar a Secretaria de Segurança Pública do DF sobre essa falha. Mas há outras fontes de imagens para serem pesquisadas. Os agentes estão nas ruas de Ceilândia.
Corrêa diz que foi ameaçado de morte
O policial alegou legítima defesa. Ele foi à delegacia com advogado e três testemunhas confirmando sua versão.
O militar [Bruno Corrêa] utilizou dos meios necessários para impedir que a ameaça de morte proferida por Cledson se concretizasse em seu desfavor e das demais pessoas que também se encontravam no interior do veículo.
Daniel Souza Cruz, advogado do policial
O advogado de Bruno Corrêa afirmou que, "imediatamente", o PM "prestou os primeiros socorros". Também teria telefonado para o oficial de seu batalhão para prestar informações sobre os tiros. E ainda pediu "atendimento médico imediato" para o promotor de vendas, segundo Daniel Souza, em nota enviada ao UOL.
Corrêa entregou sua arma à delegacia de polícia.
Família pede júri popular
A família de Cledson Caldas pediu, em nota, que Bruno Corrêa seja julgado por júri popular, como acontece nos casos de assassinato.
Ressaltamos que a conduta do agente policial não está alinhada com as responsabilidades funcionais e o treinamento recebido. É notório que o policial já esteve envolvido em situações problemáticas anteriores. Esperamos que o Ministério Público apresente denúncia, levando o caso a julgamento popular para que a comunidade de Ceilândia possa decidir em conformidade com seu dever constitucional.
Nota da família de Cledson Caldas