CPI: padre Julio atua fora do Centro e coletivo não recebe da prefeitura
Alvos de um pedido de CPI na Câmara Municipal de São Paulo, o padre Julio Lancellotti e o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto desenvolvem a maior parte de suas atividades fora da região conhecida como "cracolândia". Já o coletivo Craco Resiste não mantém convênio com a prefeitura.
O que aconteceu
ONGs que atuam na "cracolândia" são alvo do pedido de CPI. Protocolado, em dezembro, pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), o documento pede que se inicie uma investigação sobre a oferta de "alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento de dependentes químicos" por organizações nessa região.
Trabalho realizado pelo padre Julio Lancellotti foi citado pelo vereador entre os objetos de possível investigação. Nas redes sociais, Rubinho Nunes elencou as iniciativas ligadas ao padre, ao centro Bom Parto e ao coletivo Craco Resiste entre aquelas passíveis de averiguação, em função de supostas irregularidades.
Mas a maior parte das ações do grupo de Lancellotti se concentra na Mooca. No bairro da zona leste de São Paulo, a Pastoral do Povo de Rua distribui café da manhã para moradores do centro comunitário São Martinho de Lima —mantido pelo Bompar, que tem parcerias com a prefeitura. O espaço fica a quase 20 quilômetros da "cracolândia".
Na "cracolândia", a pastoral mantém apenas uma casa de oração. Criado há 23 anos, o espaço foi, inclusive, visitado em 2004 pelo presidente Lula (PT), que também manifestou apoio ao padre Julio, no último dia quatro. O petista classificou o trabalho do pároco como "essencial".
"Eu acho que não deve ir para frente", diz prefeito. Em entrevista, na última terça (9), Ricardo Nunes (MDB) afirmou que a falta de apoio à CPI na Câmara e outros fatores devem enterrar a comissão. Para ser criado, o grupo de investigação precisa ser aprovado por 28 votos —número que Rubinho Nunes garante ter.
Coletivo nega irregularidades
Na "cracolândia" desde 2016, o coletivo Craco Resiste promove atividades culturais. De acordo com Ariel Machado, o grupo realiza jogos de futebol semanalmente e exibições de filmes a cada 15 dias, nas ruas do Centro, em parceria com outras entidades. O objetivo é criar vínculos e oferecer bem-estar aos dependentes.
"Nunca recebemos dinheiro público", diz Machado. Segundo o membro do coletivo, todas as atividades desenvolvidas pelo grupo são financiadas por doações de outros coletivos e organizações ou com o dinheiro dos próprios ativistas.
Inquérito policial contra o coletivo foi arquivado há dois anos. A investigação foi fruto de uma denúncia de que o grupo realizava "indução, instigação ou auxílio ao uso de drogas". Machado diz que a acusação partiu do Movimento Brasil Livre, do qual o vereador Rubinho Nunes fazia parte até 2022.
Bompar trabalha junto com a prefeitura, mas atua pouco na região central de São Paulo. O site oficial do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto informa que a entidade mantém parcerias com as secretarias municipais de Assistência Social, Educação e Saúde de São Paulo. Além disso, a página diz que o centro é "atuante predominantemente na zona leste da cidade".
Belenzinho, Brás e Mooca são alguns bairros com presença do Bompar. Ao todo, o centro social mantém 50 unidades voltadas para crianças e adolescentes, cinco para jovens, três para população em situação de rua e dois para idosos —nenhuma delas localizada na "cracolândia".
O que dizem os envolvidos
Esclareço que não pertenço a nenhuma organização da sociedade civil ou organização não governamental que utilize de convênio com o poder público municipal.
Padre Julio Lancellotti, em nota divulgada nas redes sociais
Não existe nenhum recurso que o padre Julio receba do poder público, ele não participa de nenhuma entidade conveniada ao poder público e não existe nenhuma situação ou denúncia que possa merecer uma investigação dentro do contexto da administração pública. O que a administração pública tem é um apreço pelo trabalho que o padre Julio desenvolve.
Prefeito Ricardo Nunes (MDB), em entrevista no último dia 8
A Craco Resiste nunca fez distribuição de cachimbos. Só distribuímos água, preservativo e manteiga de cacau. Em alguns momentos, também distribuímos piteiras de silicone, para evitar a transmissão de doenças como hepatite e tuberculose, na 'cracolândia'.
Ariel Machado, membro do coletivo Craco Resiste