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Homem negro preso injustamente por dois anos será indenizado em R$ 150 mil

Ele não estava no local do crime na época dos fatos; Justiça se negou a ouvir testemunha que indicaria verdadeiro criminoso Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em Brasília

02/03/2024 19h36

Depois de ficar preso injustamente durante mais de dois anos, um homem negro conseguiu uma decisão que lhe dará indenização de R$ 150 mil pelo erro do Judiciário.

O que aconteceu?

A 16ª Vara de Fazenda Pública condenou o Estado de São Paulo a indenizar o analista de pricing Vinícius Vilas Boas, 37 anos, que, injustamente, ficou preso sob a falsa acusação de assalto.

Além da indenização, o governo deverá pagar um salário mínimo a Vinícius durante o mesmo período em que ele ficou detido.

Houve erro judiciário que levou à condenação do autor em processo criminal e, em razão disso, o requerente permaneceu preso por mais de dois anos."
Patrícia Persicano, juíza

"A prisão indevida não decorreu de ato do demandante, mas de falha no serviço judiciário", avaliou a juíza. "A prisão fruto de erro causa dano moral à pessoa presa. O sofrimento por ela experimentado é inegável e independe de demonstração."

Vinícius foi condenado a 9 anos de prisão. Recorreu: o tribunal baixou a pena para 7 anos de detenção.

Ele foi preso em agosto de 2017 e ficou detido até outubro de 2019.

Em 2022, Vinícius ajuizou uma revisão criminal. As provas foram anuladas e ele foi absolvido. O desembargador-relator Marcelo Semer destacou que Vinícius sequer tinha histórico criminal, ao contrário do que foi alegado inicialmente.

Não há indícios nos autos que confirmem que o peticionário tivesse qualquer envolvimento prévio com o cometimento de delitos, nem foi apresentada razão para que fosse 'conhecido dos meios policiais'."
Marcelo Semer, desembargador

Imagens de câmera não eram do dia do crime

A Polícia Civil de José Bonifácio (SP), a 480 km a oeste de São Paulo, investigava um assalto ocorrido em uma residência da cidade em 17 de fevereiro de 2006 e um furto no dia 24.

Numa das casas, os verdadeiros assaltantes roubaram dinheiro vivo, celular, cordão e joias, um prejuízo de pouco mais de R$ 2 mil.

Para embasar a investigação, usaram imagens de câmera de segurança gravadas depois que o primeiro crime tinha acontecido, em 23 de fevereiro. Nas imagens com data errada, apareceria Vinícius.

As vítimas reconheceram o analista por meio de fotografias mesmo em imagens com boné, óculos escuros e sombra no rosto. A defesa questionou a divergência na pessoa da foto com Vinícius. "Mas mesmo assim foi preso", narra a juíza Patrícia Persicano.

Enquanto estava detido, seus advogados tentaram produzir provas de sua inocência e também do verdadeiro criminoso que assaltou a residência.

Na revisão criminal, foi anexado o depoimento da testemunha Sulivan Sant'ana dizendo que o verdadeiro assaltante era Alexandre Kaique:

Ai infelizmente eu não achei justo eu saber quem tinha feito o delito e uma pessoa que não tinha nada a ver estar sendo prejudicada (...) Eu tive uma conversa com o [Alexandre] Kaique, e o Kaique de automático se confessou pra mim"
Sulivan Sant'ana, testemunha

Fora da cadeia, Vinícius não conseguia mais emprego.

Os alegados erros nos processos trouxeram a ele inúmeros dissabores e que, após sua soltura, não conseguia trabalho com vínculo formal, inclusive em aplicativos de entrega e de transporte, em razão de constar registro criminal em seu nome; o patrimônio da família foi dilapidado nesse período."
Patrícia Persicano, juíza

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