Trisal registra filho com o nome de duas mães em SP: 'Muito amor'
O trisal formado por Marcel Mira, Regiane Gabarra e Priscila Machado conseguiu que seu filho, Pierre, tivesse o nome dos três em seu registro.
O que aconteceu
Justiça decidiu que criança pode ter duas mães e um pai. O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou que Pierre, o filho mais novo do trisal, deve ser considerado filho dos três membros da relação. O menino foi gerado por Regiane, mas agora também é judicialmente considerado filho de Priscila.
Priscila exerce "funções da maternidade", segundo decisão. O juiz André Luiz Silva da Cunha escreveu em sua decisão que Priscila "acompanhou a gestação e nascimento da criança, convive diariamente com ela e acompanha e participa do seu desenvolvimento, exercendo, assim, as funções inerentes à maternidade".
"Nossa maior vitória", diz mãe
"Não tem meu sangue, mas tem meu amor", diz Priscila. Em entrevista ao UOL, Priscila afirmou que o sentimento é "de vitória, de alívio", e que se sente bem porque "agora ninguém vai poder falar" que Pierre não é filho dela, embora nunca tenha sido uma dúvida para o trisal: "laço sanguíneo não é a totalidade", afirmam.
Outra filha quer reconhecimento de multiparentalidade. A segunda filha mais nova do trisal, Isabela, de 11 anos, já informou a família que também quer mudar seu nome e adicionar o sobrenome de Regiane. Entretanto, afirmam que não vão entrar na Justiça para isso, já que a menina faz 12 anos no próximo ano e pode alterar seu sobrenome com maior facilidade.
Advogado da família: "ambas serão sempre mães". O advogado do trisal, Diego Dall Agnol Maia, afirma que a decisão reflete a multiparentalidade como "um novo significado do que é ser família". Para ele, este modelo de família sempre é "uma escolha, não um acidente", e avalia que a decisão da Justiça é correta por "servir as pessoas".
Trisal começou como amizade
"Marcel foi meu único namorado e estamos juntos desde 2002. Tivemos duas filhas, construímos sonhos e planos juntos. Uma família tradicional. Depois da segunda gestação, conversamos e ele fez uma vasectomia porque eu não queria mais engravidar." Vida que segue.
Em 2017, a Regiane entrou na entidade filantrópica em que eu era coordenadora. Ela tinha uma história de vida de perdas, cuidava do irmão menor, e eu vi que ela precisava de ajuda emocional e de companheirismo. Foi quando viramos uma família: ela, eu, Marcel, as crianças.
Depois de um ano de amizade, comecei a perceber um sentimento por ela. Nunca tinha sentido vontade de beijar nenhuma das minhas amigas e me questionava por que com ela era diferente
Não falava nada para ninguém, orei muito, porque, pela minha criação religiosa, aquilo era coisa do capeta. Pedia uma resposta para Deus e não vinha.
No final de 2018, quando completávamos 13 anos de casados, sugeri para o Marcel um programa diferente. Em vez de jantar e ir para um motel, queria ir numa balada liberal. E comentei que, se lá tivesse uma menina a fim de ficar com a gente, ficaríamos."
'Uma mulher no meio de um casal é perigoso'
"Fomos pedir sugestões de lugares para a Regiane, que era solteira. Ela falou que seria perigoso uma mulher no nosso casamento, que poderia destruí-lo. Então desistimos da ideia. Mas eu comentei que aquilo seria uma aventura... Foi quando comecei a dar indiretas para ela.
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Quero receberUm dia, decidimos ir os três para a balada. No banheiro, ela me beijou. Falou para eu contar para o Marcel e ele me perguntou se eu tinha gostado. Se eu gostei? Estamos há três anos com ela. Naquele dia, ficamos juntos."
Confusão e dificuldade para aceitar: 'Nunca fiquei com outra mulher'
"Assim como a Priscila, nunca tinha ficado com outra mulher", conta Regiane. "Tinha aquele sonho da Disney, de casar de vestido branco, ter a família com um príncipe. Tive que fazer muita terapia para desconstruir isso, porque me apaixonei por ela e pelo Marcel."
No começo, o preconceito com a situação era meu. Contava para algumas pessoas esperando ouvir que estava errada. Só que minhas amigas me apoiavam, diziam que nunca tinham me visto tão feliz com eles. Eu amo os dois.
Priscila conta que sofreu para se adaptar ao amor a três. Ela também não teve apoio da família para a nova configuração de relacionamento. "Foi uma confusão muito grande na minha cabeça, mas já estava completamente apaixonada por Regiane, e Marcel por ela, e ela por nós. Então, passamos a pesquisar e vimos que não era só fetiche. Vimos o que era poliamor, que não somos os únicos no mundo."
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