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'Minha mãe viu seu filho caído', diz irmã de homem morto ao olhar por muro

Irmã da vítima, Adriellen afirma que Bruno era uma pessoa incrível, "sempre trazendo alegria para onde ia" Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

19/03/2024 12h23

A estudante de medicina Stella Manosso Demarchi e a autônoma Adriellen Costa são, respectivamente, namorada e irmã de Bruno Emídio da Silva Junior, 33, morto com um tiro no rosto ao olhar sobre um muro no dia 11, em uma residência de Apucarana, no Paraná. Ainda se refazendo da tragédia, elas pedem justiça e afirmam desejar que o empresário Agnaldo da Silva Oroski, preso na quinta-feira (14) como o autor dos disparos, permaneça na cadeia e "pague por seu crime".

O que se sabe:

Cursando o 6° ano de medicina, Stella, 24, estava com Bruno na noite em que ele foi morto. O namorado era convidado do sobrinho dos donos do imóvel, que fazia um pequeno churrasco com a namorada e um casal de amigos, enquanto cuidava da casa durante uma viagem dos tios.

Ela afirma que, num dado momento, começaram a ouvir estampidos na casa vizinha. "Daí ele subiu no abrigo de botijão de gás para olhar, mas não curiosidade, não queria espiar. Ele se preocupou e sua reação foi de se certificar do que estava acontecendo para me proteger, para proteger quem estava ali", contou Stella ao UOL.

A jovem afirmou que o namorado também estava preocupado com uma tia dela, que mora próximo da residência onde estavam e que já havia sido assaltada duas vezes. Também estava preocupado com uma amiga do casal, que tem duas crianças pequenas morando na mesma rua.

Stella conta que, como demonstra o vídeo que capturou o momento dos disparos e a morte do namorado, chegou a pedir a Bruninho, como ela o chamava, para que descesse do muro, porque os estampidos pareciam de bombinhas, mas ainda não se sabia o que estava acontecendo. Ela diz também que a alegação do autor dos disparos, de que acreditava que a casa onde faziam o churrasco estava vazia, é absurda, pois a presença da turma de amigos era evidente.

Pedi: 'Vida, desce daí, a gente não sabe o que está acontecendo, a gente não sabe o que essa pessoa quer, a gente não sabe se é realmente no vizinho'. Ele o tempo todo dizia: 'Calma, vida, eu quero ver o que está acontecendo, vai que alguém está precisando de ajuda.

Segundo Stella, Bruno era o homem mais incrível que ela já conheceu na vida. Ele trabalhava com o pai, como vendedor autônomo, e estava prestes a iniciar uma faculdade de administração de empresas. Ele auxiliava a namorada a custear os estudos e estava aguardando ela se formar para oficializar o casamento.

Eu descobri que ele iria me pedir em casamento no Dia dos Namorados, com a aliança em si, porque o casamento já estava programado para o ano que vem. Estávamos planejando o nosso noivado, como seria, quando seria. Ele faleceu no sábado, e na segunda-feira ia iniciar os estudos.

Stella Manosso Demarchi, namorada da vítima, conta que ele subiu no muro porque estava preocuopado com a segurança dos familiares Imagem: Arquivo Pessoal

Amor pelas crianças

Irmã da vítima, Adriellen afirma que Bruno era uma pessoa incrível, "sempre trazendo alegria para onde ia". Trabalhando duro como vendedor autônomo, sonhava em se casar e tinha um grande amor pelas crianças. "Ele era o tipo de pessoa que não conseguia ficar longe delas, elas sempre vinham até ele. Era alguém especial, que deixou uma marca profunda em nossa família", afirma.

Desde criança, Bruno enfrentava desafios por ser portador de diabetes tipo 1. Ele tomava insulina todos os dias. Em 2015, sofreu um infarto. Os médicos disseram que suas chances de sobrevivência eram mínimas, mas ele se recuperou. Por essa razão, a família redobrava os cuidados com sua saúde.

Quando recebi a notícia da morte do meu irmão, fiquei paralisada. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Pensei que poderia ser um acidente ou algo relacionado à sua saúde, mas nunca imaginaria que ele poderia ser assassinado. Eu estava a 700 quilômetros de distância, mas larguei tudo e corri para estar com minha família.

Ela conta que, no dia seguinte ao crime, a família ficou aguardando, na rua, os policiais colherem provas na residência, em meio à angústia e ao desespero.

Minha mãe foi uma das primeiras a chegar ao local, presenciando a cena horrível de ver seu filho caído, morto. Foi um momento de horror para todos nós, enquanto aguardávamos o socorro chegar.

A partir desse dia, Adriellen afirma, a família vive uma dor indescritível. "Não desejamos que ninguém passe pelo que estamos passando. Nosso único desejo agora é que haja justiça para que meu irmão não se torne apenas mais uma estatística. Queremos que seu assassino seja responsabilizado e que casos como esse não se repitam", declarou.

O homem suspeito de ter atirado contra Bruno Emílio se apresentou na delegacia dois dias depois. Alegando legítima defesa, ele afirmou que atirou contra a vítima por tê-la confundido com um ladrão que tentava invadir sua casa. Ele disse também que achava que o vizinho estava viajando, e a casa, vazia.

Ele foi preso e permanece detido na delegacia de Apucarana, no Paraná, à disposição da Justiça. O inquérito policial está em andamento e o autor deve ser indiciado por homicídio doloso qualificado.

Sem legítima defesa

Contratado como assistente de acusação da família de Bruno, o advogado Lucas Eduardo Cardoso acredita que será impossível para o suspeito alegar legítima defesa, pois há provas de que ele sabia que a casa não estava vazia e que um grupo de amigos realizava uma churrascada no local, no dia do crime.

Há inclusive um boletim de ocorrência registrado pelo dono do imóvel, amigo de Bruno, contra o vizinho, justamente por tiros disparados na direção de sua residência. Registrado há 60 dias, aproximadamente, comprova que o autor tinha o costume de atirar com armas de fogo, declarou ao UOL o advogado.

O caso agora irá para o Tribunal do Júri, onde os jurados decidirão se o autor é culpado ou inocente.

O que diz a defesa do vizinho

Sobre o fato, o acusado encontrava-se com sua esposa e filhas em sua residência quando ouviu barulhos no fundo da casa, em especial vindo da direção do imóvel vizinho. Tendo ciência de que o proprietário do imóvel vizinho tinha viajado estranhou o barulho, saiu do interior de sua residência e com o escopo de afastar possível perigo efetuou um disparo com uma pistola .380 em direção ao alto no corredor que avizinha-se ao imóvel vizinho e adentrou-se à sua residência novamente.

O acusado não ouviu ou tinha conhecimento da confraternização no imóvel vizinho e nem poderia saber já que informações iniciais do inquérito apontam que a tal "festa" ocorria apenas entre quatro pessoas e, portanto, possivelmente o barulho produzido pela suposta festividade não chegou ao acusado com esta natureza, senão de forma suspeita, posto que não é possível o acusado ver a movimentação na casa vizinha diante da altura do muro entre as residências, conforme mencionado acima. Paulo Henrique Pavolak, advogado de Agnaldo da Silva Oroski.

Quanto a existência de um possível boletim de ocorrência realizado pelo proprietário do imóvel vizinho, tal situação é totalmente desconhecida pelo acusado, sendo que o mesmo nunca foi intimado pela autoridade policial para tomar conhecimento sobre qualquer registro desta natureza, além de que o documento até a presente data não consta no inquérito policial.

As armas que foram apreendidas junto ao acusado são todas devidamente registradas perante a polícia federal. O acusado acredita ter agido em sua defesa e de seus familiares, o que restará demonstrado ao final de todos os procedimentos judiciais.

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