Como o tráfico usa mergulhadores para esconder droga em cascos de navios

Uma nova modalidade de transporte de drogas por grupos criminosos tem chamado a atenção de autoridades brasileiras. A tática consiste na participação de mergulhadores profissionais que escondem pacotes de cocaína nos cascos de navios de carga atracados em portos brasileiros.

Estratégia para driblar autoridades

Grandes organizações criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), têm escondido cocaína na parte submersa de navios cargueiros. Casos do tipo já foram alvo de investigação da Polícia Federal.

A nova tática adotada pelo tráfico pretende driblar autoridades que fiscalizam portos nacionais, que são a principal rota de saída de drogas para a África e a Europa.

O casco de navios se tornou atrativo porque é mais difícil de fiscalizar, embora permita o envio de menos quilos por vez. No envio de cargas ao exterior, o tráfico marítimo em sua forma mais tradicional —com camuflagem de pacotes em contêineres— tem mais risco, uma vez que a regra é que as mercadorias sejam vasculhadas por scanners logo na chegada aos terminais, segundo reportagem do Estadão.

Os criminosos criam esquemas com funcionários e agentes de fiscalização para que o transporte possa operar. A estratégia também é cheia de riscos e, segundo a Polícia Federal, já resultou até em morte.

Como agem os mergulhadores

O transporte ilegal das drogas é feito na parte traseira das embarcações, que em sua grande maioria têm duas "caixas de mar", uma na lateral e outra na parte de baixo. As caixas servem para resfriar os motores dos navios e, dentro delas, funciona um sistema com bombas que sugam água do mar.

Quando a bomba dessas caixas está desligada, os mergulhadores dos grupos criminosos descem, abrem as grades, amarram os pacotes de cocaína com cordas, cabos e pesos, fecham o local, e fogem em seguida. Investigações da PF e da Marinha apontam que, em geral, os pacotes são levados aos navios por pequenas lanchas, que se deslocam principalmente à noite com luzes apagadas, ou por mergulhadores, que partem de áreas de mata ou de embarcações mais afastadas dos portos, segundo mostrou uma reportagem publicada pelo Estadão.

Conexão estrangeira

As substâncias podem ter origem na Colômbia e no Peru, segundo a professora Carolina Grillo, coordenadora do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense), em entrevista ao UOL no ano passado. Elas passariam pelo Brasil antes de seguir para continentes como África e Europa — principais destinos da cocaína enviada pelo PCC e outros grupos criminosos a partir do Brasil, segundo a UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime).

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*Com reportagem publicada em 30/05/2023

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