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Loja recusa fazer convites, e casal gay protesta; empresa cita heterofobia

Do UOL, em São Paulo

23/04/2024 23h42Atualizada em 24/04/2024 17h05

Um casal denunciou ter sido vítima de homofobia após uma loja de São Paulo se negar a fazer "convites homossexuais". Nas redes sociais, a empresa disse que tem direito de seguir os princípios cristãos e citou "heterofobia".

O que aconteceu

O casal solicitou um orçamento de convites com o ateliê por meio do WhatsApp. Ao UOL, o promotor de eventos Henrique Nascimento, 29, que entrou em contato com a loja virtual, contou que o atendimento corria bem até ele citar o nome dos noivos, dois homens. Ele e Wagner Soares, 38, estão juntos há oito anos e sete meses e já são casados, mas planejam realizar a festa para celebrar a união em setembro do ano que vem.

Loja informou que não poderia fazer "convites homossexuais". Na conversa, à qual o UOL teve acesso, após Henrique enviar referências de modelos de convites, o ateliê recomendou que o casal procurasse outra empresa. "Peço desculpas por isso, mas nós não fazemos convites homossexuais. Seria bacana você procurar uma papelaria que atenda sua necessidade", escreveu a responsável pela empresa.

Conversa entre empresa e Henrique Imagem: Cedida ao UOL

Henrique e Wagner registraram um boletim de ocorrência por homofobia. Registro junto a Polícia Civil foi realizado na madrugada desta quarta-feira (24) no 73° DP (Jaçanã) e remetido para o Decreadi (Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância) para o prosseguimento das investigações. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o Decradi já contatou as vítimas e investiga o crime de discriminação.

Foi a pior sensação do mundo, eu senti como se eu fosse o errado, o bandido, pela forma como é conduzido [o registro do boletim de ocorrência]. Eu vou refazer o boletim de ocorrência. A pessoa que nos recebeu na delegacia questionou três vezes qual era o crime. Sempre perguntas muito rápidas.
Henrique Nascimento

Após a negativa, eles enviaram um texto ao ateliê lamentando a decisão. "É com profunda decepção que expressamos nossa profunda insatisfação com a recusa para o nosso casamento, simplesmente por sermos um casal homossexual. Ficamos chocados e entristecidos ao sermos informados de que nossa orientação sexual era um motivo para negar nossos convites de casamento".

Infelizmente, a recusa da empresa em nos atender nos lembra que a discriminação ainda persiste em nossa sociedade, mesmo quando estamos celebrando um evento tão significativo como o casamento.
Henrique Nascimento

O que diz a empresa

Nota de repúdio publicada pela loja Imagem: Cedida ao UOL

O casal publicou o relato nas redes sociais nesta terça-feira (23). Após repercussão nas redes sociais, o ateliê Jurgenfeld, loja localizada em Pederneiras, no interior de São Paulo, publicou uma nota de repúdio nas redes sociais.

Empresa citou "heterofobia" e reclamou das críticas que receberam. "Existe 'heterofobia?' Está aí uma pergunta que deveria ser introduzida nos livros de filosofia desse século (...) Hoje, chegamos ao nosso ápice. Não aguentamos mais ter que aguentar tantas críticas e questionamentos sobre o fato de não realizarmos casamento ou eventos homossexuais", diz nota publicada no Instagram.

A loja justificou que segue princípios cristãos "independentemente da opinião da maioria da sociedade". "Aqui, na nossa empresa, acreditamos na família como ela é, e não estamos pedindo para ninguém que acredita ao contrário mudar de pensamento ou posicionamento", continua o texto.

Em um vídeo publicado no Instagram, os responsáveis pela empresa explicam que há dois anos negam serviços a casais homossexuais. "Mas hoje foi a gota d'água. Fomos retaliados por um casal que não aceitou a nossa posição, a nossa opinião, e tem de fato feito comentários no nosso Instagram, dizendo que homofobia é crime (...) Nós nos posicionamento assim, e estamos sendo tachados de homofóbicos. Nós temos que aceitar aquilo que elas são, mas as pessoas não podem aceitar que nós escolhemos fazer dessa maneira e trabalhar dessa forma", diz um dos donos do ateliê.

O UOL procurou a loja por telefone para comentar o caso, mas não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

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